Moda sustentável indígena

Neste sábado acontece o “Abril Indígena Aldeia Marçal de Souza” com desfile de moda autoral indígena e um grande baile dançante. O evento será às 18h30 (Bryant Terena, Arquivo Pessoal)
Neste sábado acontece o “Abril Indígena Aldeia Marçal de Souza” com desfile de moda autoral indígena e um grande baile dançante. O evento será às 18h30 (Bryant Terena, Arquivo Pessoal)

             Danças, comida típica e desfile autoral marcam comemorações do Dia dos Povos Indígenas na Aldeia Urbana Marçal de Souza

A Aldeia Urbana Marçal de Souza, em Campo Grande, irá celebrar o Dia dos Povos Indígenas (19) com o evento “Abril indígena aldeia Marçal de Souza”, com danças tradicionais, comidas típicas, desfile de moda autoral indígena e um grande baile dançante. O evento será no sábado (20), com início às 18h30.

A festividade é realizada desde 1998, como explica o estudante de direito, liderança jovem da aldeia, diretor, produtor cultural e estilista Bryant Terena, de 23 anos. “O evento, tradicionalmente falando, acontece todos os anos aqui na aldeia, desde sua primeira edição com a liderança da época. Nós, indígenas, celebramos esse dia com muita cultura. Na gestão do atual cacique o evento tem grande prestígio de pessoas não indígenas, que passarão a ter muita proximidade com a cultura”, explicou em entrevista ao jornal O Estado.

“A abertura da programação começa com apresentação da Orquestra Indígena da Aldeia Marçal de Souza. Teremos fala da nossa liderança, ressaltando mais um ano de resistência no contexto urbano, dentro da área central de Campo Grande. Teremos também apresentação da coleção cápsula da comunidade, onde trará um pouco da moda clássica e contemporânea e juntamente com o toque etnico da nossa cultura Terena”, indicou.

Bryant, que também é presidente do coletivo de jovens da primeira aldeia urbana do país e um dos organizadores da festa junto com as lideranças, é um dos destaques desta edição, onde fará o lançamento de sua coleção de roupas autorais em upcycle, inspirado na cultura Terena. “Muitas vezes inspirada em uma cultura vivenciada, a moda autoral representa sonhos de idealizadores que financiam a realização do próprio negócio. Esse tipo de empreendedorismo cresce inspirado nos ideais de quem o cria e ainda oferece representatividade para determinadas comunidades”, argumentou.

Moda autoral

O jovem identificou que a moda autoral, com inspiração na identidade étnica indígena, também pode se destacar como um forte modelo de negócios, capaz de fazer expandir suas potencialidades criativas, além de integrar e desenvolver diversas gerações dos povos originários. Segundo Bryant, um de seus objetivos é despertar a consciência coletiva em torno da moda autoral, com produções personalizadas que transmitem e traduzem as raízes indígenas, e com referências que atraiam, também, os admiradores da moda sustentável. Com cores exclusivas, design singulares e materiais da natureza, as criações de Bryant revelam o seu talento, sua criatividade e personalidade. Partindo da simbiose entre etnia e cultura, aliando simplicidade, conforto e bom gosto, o jovem estilista encanta e surpreende com suas produções e promete se destacar no cenário da moda. Para sua coleção, ele utiliza roupas que seriam descartadas, sementes naturais, folhas em palha e tintas com 60% pigmentos naturais, extraídos da própria comunidade, além de acessórios sustentáveis.

Bryant reforça que, mesmo com a evolução do mundo da moda, os povos originários não deixam de ser indígenas simplesmente por acompanhar as grandes evoluções. “Expressar a nossa cultura na inserção das biojoias, grafismo étnico, tecido e recortes atuais, também mostram o nosso bom gosto pela moda e com o toque da real brasilidade, nós iremos fazer com que o que é usado somente em dias festivos por nós, seja ainda mais atrativo para as pessoas não indígenas, pois essa é a verdadeira arte de um cidadão brasileiro”, afirma.

Mesmo sendo a segunda maior população indígena do país, Bryant enfatizou que Mato Grosso do Sul ainda precisa consumir tanto a moda autoral não indígena, quanto a moda autoral indígena. “É um desafio muito grande economicamente falando e historicamente também, foi nessa proposta que eu busquei desenvolver uma coleção onde atrai o olhar num todo, desde a sustentabilidade, o clássico e a chave principal: a inclusão da minha cultura e etnia”.

A intenção de Bryant Terena é que a sua marca evolua e se torne um grande potencial artístico e turístico da Aldeia Marçal de Souza. Sobretudo, Bryant deseja reafirmar a grandiosidade da arte indígena do nosso estado para além das fronteiras, contribuindo para que o setor da Moda Autoral Indígena se expanda e se fortaleça, promovendo reconhecimento e visibilidade para a arte, a cultura e a moda sul-mato-grossense, de maneira a fomentar e fortalecer um importante mercado produtivo e promissor, que certamente já impacta e impactará ainda mais o setor econômico de Mato Grosso do Sul.

Dia dos Povos Indígenas

O Dia dos Povos Indígenas, comemorado no dia 19 de abril no Brasil, tem o propósito de celebrar a diversidade das histórias e das culturas dos povos indígenas do país, combater preconceitos étnicos e estabelecer políticas públicas que garantam os direitos dos povos originários. Foi criada em 1943, durante a Ditadura Militar, por pressão ao governo de Getúlio Vargas, por parte do indigenista Marechal Rondon.

Até o ano de 2022, a data era conhecida como Dia do Índio, porém o termo foi substituído por Dia dos Povos Indígenas por meio do projeto da deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR) e do senador Fabiano Contarato (PT-ES). O termo ‘povos indígenas’ é preferido pelos povos originários, que veem a designação ‘índio’ como preconceituosa, por ter um sentido negativo no senso comum, atrelado a algo ‘selvagem’ e ‘atrasado’. Além disso, o termo foi difundido quando os portugueses invadiram o Brasil e acharam, de forma errônea, que haviam chegado à Índia.

 

Por Carolina Rampi

 

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