Martinho da Vila completa 82 anos cheios de samba e alegria

Já dizia Dorival Caymmi: “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é”. Particularmente gosto demais de samba de raiz, samba de breque e até um pagodão fundo de quintal, e já que estamos chegando próximo da semana do Carnaval, nada como homenagear uma das figuras mais talentosas e simpáticas da música brasileira. Martinho da Vila completou na quarta-feira (12) 82 anos de muito samba no pé.

Filho de lavradores da Fazenda do Cedro Grande, mudou-se para o Rio de Janeiro com apenas quatro anos. Quando se tornou conhecido, voltou a Duas Barras para ser homenageado pela prefeitura em uma festa, e descobriu que a fazenda onde havia nascido estava à venda.

Não hesitou em comprá-la e hoje é o lugar que chama de “meu off-Rio”. Cidadão carioca criado na Serra dos Pretos-Forros, trabalhou como auxiliar de químico industrial, função aprendida no Senai, e mais tarde serviu ao Exército Brasileiro como sargento burocrata. No quartel começou na Escola de Instrução Especializada, tornando-se escrevente e contador, profissões que deixou em 1970, quando deu baixa para se profissionalizar na música.

Iniciou a carreira para o grande público no III Festival da Record, em 1967, quando concorreu com a música “Menina Moça”. O sucesso veio no ano seguinte, na quarta edição do mesmo festival, lançando a canção “Casa de Bamba”, sem dúvida, um dos clássicos de Martinho.

O primeiro álbum, lançado em 1969, intitulado “Martinho da Vila”, já demonstrava a grandeza de seu talento como compositor e músico, incluindo, além de “Casa de Bamba”, obras-primas como “O Pequeno Burguês”, “Quem é do Mar Não Enjoa” e “Pra que Dinheiro”, entre outras menos populares como “Brasil Mulato”, “Amor pra que Nasceu” e “Tom Maior”.

Não demorou para tornar-se um dos mais respeitados artistas brasileiros além de um dos maiores vendedores de disco no Brasil, sendo o segundo sambista a ultrapassar a marca de um milhão de cópias com o “CD Tá Delícia, Tá Gostoso”, lançado em 1995 (o primeiro foi Agepê, que em 1984 vendeu um milhão e meio de cópias com seu disco “Mistura Brasileira”). Destacam-se Zeca Pagodinho, Simone (CD “Café com Leite”, um tributo a Martinho da Vila, 1996) e Alcione como os maiores intérpretes.

Todos os seus prêmios estão guardados no acervo na cidade natal, Duas Barras. Entre seus títulos, estão os de Cidadão Carioca, Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, Comendador da República em grau de oficial e a Ordem do Mérito Cultural, pela contribuição à cultura brasileira.

Na coleção de medalhas, guarda a Tiradentes, além da famosa Pedro Ernesto, e na carreira musical ganhou em 1991 o Prêmio Shell de Música Popular Brasileira. Em 2014, seu álbum “Enredo” foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode.

Embora seja conhecido internacionalmente como sambista, com várias composições gravadas no exterior, Martinho da Vila é um legítimo representante da MPB e compositor eclético, tendo trabalhado com aspectos da cultura brasileira e criado músicas dos mais variados ritmos brasileiros, tais como ciranda, frevo, samba de roda, capoeira, bossa nova, calango, samba-enredo, toada e sambas africanos.

Valeu, Martinho da Vila! Obrigado por todos esses anos de samba e alegria!Incansável, esta semana concedeu entrevista ao portal G1 e garantiu que ainda tem muitos projetos pela frente, entre eles um “disco” novo que está quase pronto, só faltando escolher o nome. “Já está pronto e eu acho que vai se chamar: ‘O Rio Chora e o Rio Canta’. Ou então: ‘Rio, só Vendo a Vista’”, avisou o sambista. Martinho encerrou a entrevista com o bom humor que lhe é peculiar. “Na música ‘Bandeira da Fé’, eu digo que nós temos de nos reunir, lutar contra os preconceitos, mas, ao mesmo tempo, cantar, sambar e amar. É isso”, concluiu.

Valeu, Martinho da Vila! Obrigado por todos esses anos de samba e alegria!

(Texto: Marcelo Rezende)

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