Lugar de mulher é na… ciência! Documentário sobre carreira de cientistas em MS é exibido hoje (11)

mulheres na ciencia - foto - reprodução (6)

Iniciativa é em alusão ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência

“Ser mulher é uma luta constante”. Mesmo com a exclusão, dificuldades e descredibilização ao longo da história, as mulheres conseguiram percorrer um longo caminho para fazerem seu nome e suas conquistas serem reconhecidas, incluindo na ciência, artes, literatura, medicina, esportes e tantos outros espaços.

No século XVIII, a cientista italiana Laura Bassi foi a primeira mulher a ganhar uma cadeira universitária em um campo científico de estudos; Marie Curie, química e física polonesa, foi a primeira mulher a receber o Prêmio Nobel (física), em 1903, depois em 1911 (química), por seu trabalho sobre a radiação, sendo a primeira pessoa e única mulher a ser laureada duas vezes. No Mato Grosso do Sul, Graziela Maciel Barroso, natural de Corumbá, possui o título de ‘primeira dama da botânica do país’, sendo a maior catalogadora de plantas do Brasil, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e Grande Oficial da Ordem Nacional do Mérito Científico.

No Brasil, mesmo que as mulheres sejam maioria, na academia elas ainda são minoria: dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que as mulheres são 49% de bolsistas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Parece igualitário de alguma forma, mas em análise mais aprofundada mostram diferenças. Conforme o CNPq, 59% das bolsas em iniciação científica são de pesquisadoras, mas na produtividade, área de mais prestígio e com financiamento maior, a parcela feminina cai para 35,5%; nessa mesma área, há as bolsas 1A, concedidas a pesquisador sênior, e apenas 24,6% são para cientistas do gênero feminino.

O documentário ‘Mulheres na Ciência’ produzido pelo projeto MS +Ciência, de direção de André Mazini, busca compreender quais são as dificuldades que elas enfrentam em sua rotina, preconceitos, como as instituições podem fomentar a participação de mulheres nas pesquisas científicas entre outras questões. Em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado nesta terça-feira (11) será exibido o documentário às 9h, no auditório do Complexo EaD e Escola de Extensão, na Cidade Universitária da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Foram essas questões que motivaram a equipe do Projeto MS+Ciência a conversar com as pesquisadoras de Mato Grosso do Sul. Foram captadas mais de oito horas de depoimentos com professoras, cientistas, estudantes e gestoras que compartilharam seus medos, suas vitórias e as motivações que as guiam a se empenhar na carreira acadêmica.

O documentário contou com a participação de mais de 20 profissionais, envolvidos em captação, prospecção e produção, e envolvimento direta e indiretamente de mais de seis instituições.O resultado é um material forte, revelador e, ao mesmo tempo, sensível e esperançoso, com histórias de vida que mostram a força da mulher. O documentário Mulheres na Ciência é um registro, o primeiro de que se tem notícia, sobre a vitória dessas pesquisadoras, sobre suas lutas, sobre suas vidas.

Além de ser um registro histórico, o documentário pretende fomentar mais apoio, investimentos e reconhecimento para elas, além de se tornar inspiração para outras mulheres ao contar histórias que mostram que a ciência é frágil sem elas.

“Nós queremos que as pessoas saibam quem são nossas pesquisadoras e como elas lutam para fazer uma ciência de qualidade em Mato Grosso do Sul. Dar voz a essas mulheres ajuda a divulgar o trabalho que elas fazem. Mais do que isso, se elas forem ouvidas, podem inspirar novas pesquisadoras a criar suas próprias histórias para uma ciência cada vez mais igualitária”, explica o coordenador do projeto MS+Ciência, e diretor do documentário, André Mazini.

Cobrança, dificuldade e perseverança

Dirigido por Luiz Verão e coordenado por André Mazini, o documentário explora diferentes ambientes acadêmicos, desde espaços universitários, salas de reuniões em institutos e até no laboratório experimental da vida; seus lares. Ao longo do filme, as entrevistadas discutem como conciliam suas pesquisas com a vida pessoal e enfrentam o machismo no campo científico.

A Vice-Reitora da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, Luciana Ferreira, é graduada em Economia e possui mestrado e doutorado na mesma área. Apesar de seu extenso currículo, Ferreira testemunhou ao longo de sua carreira as marcas do machismo, com grandes oportunidades sendo frequentemente ocupadas por homens.

“No campo dos números, da matemática e da economia, percebo uma escassez de mulheres em posições de poder. A prioridade sempre foi dada aos homens. Mulheres eram desencorajadas a cursar áreas exatas ou engenharia, que eram vistas como dominadas por homens”, afirmou.

Elaine Gorges, reitora do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, vivenciou na prática a desigualdade de gênero ao longo de sua carreira. Para o documentário, Elaine revelou que sofreu discriminação salarial em uma empresa predominantemente masculina, recebendo salários inferiores apenas por ser mulher.

“No ambiente corporativo, as mulheres são vistas apenas como mães, tias e amantes, enquanto os homens são considerados para cargos de poder. A ideia de que uma mulher poderia ocupar uma posição de gestão era impensável, o que acabava desmotivando muitas de nós. No meu caso, decidi enfrentar a situação e pedi demissão. Ou todos os salários são ajustados para cima, ou o meu deve ser elevado”, disse Elaine Gorges.

A ciência da maternidade

O documentário explora as diversas experiências vividas por mulheres no campo científico. Além dos desafios em laboratórios, ser mulher em um ambiente científico significa estar constantemente provando sua competência em tarefas básicas, enfrentando críticas relacionadas a questões de maternidade, vida doméstica e relações sociais devido ao seu gênero.

Carol Souza, graduada em Biologia e doutoranda em Biologia de Conservação, compartilhou com a produção que sua vida pessoal é frequentemente exposta e julgada no ambiente de trabalho. “Somos monitoradas até pelas redes sociais. Se fazemos ou postamos algo que causa estranheza, somos prontamente criticadas. Ser mulher é uma luta constante, e muitas vezes tememos perder nossos empregos ao desejarmos ser mães devido ao receio da licença maternidade”.

Apesar das dificuldades, o documentário retrata de forma sensível e realista a luta das mulheres na ciência, um desafio que se estende desde as escolas até as farmácias. As mulheres apresentadas refletem que a pesquisa científica oferece uma direção crucial para suas carreiras bem-sucedidas e que suas vidas seriam incompletas sem essa paixão.

O projeto

O MS+Ciência é um projeto que buscar popularizar a ciência, desenvolvendo ações que ajudem as pessoas a terem acesso mais amplo, democrático e qualificado ao conhecimento científico produzido em Mato Grosso do Sul.

Ele é resultado de uma parceria entre a UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e a Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul), o projeto utiliza diversas estratégias criativas que contemplam ações nas áreas de: jornalismo, teatro, música, redes sociais, qualificação de pesquisadores, apoio pedagógico, entre outros.

Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência

A data, criada em 2015, foi implementada pela Unesco e pela ONU-Mulheres, em colaboração com instituições e parceiros da sociedade civil, para reconhecer, valorizar e incentivar a participação de mulheres e meninas na ciência, tecnologia e inovação em todo o mundo.

Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi

 

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