Longlegs: longa de terror se abstém dos sustos e jumpscares e dá lugar a tensão perturbadora

Foto: divulgação
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O cinema em 2024 segue recheado de estreias de terror: para este ano estão previstas mais de 30 produções do gênero, e nesta quinta-feira (29) mais uma estará em cartaz, ‘Longlegs – Vinculo Mortal’, com Nicolas Cage no papel do serial killer que assombra uma cidade e a vida de uma investigadora do FBI, tudo mesclado com o sobrenatural e muito suspense.

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Com direção de Oz Perkins (Maria e João: o Conto das Bruxas/2020), a narrativa segue a agente do FBI, Lee Harker (Maika Monroe, de ‘Corrente do Mal’ e ‘O observador’), convocada para reabrir um caso arquivado de um serial killer em uma cidade tranquila. À medida que Lee mergulha na investigação, ela descobre indícios perturbadores de práticas ocultas ligadas aos crimes, levando-a por um caminho sinuoso e perigoso. Conforme desvenda pistas, Harker se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, lançando-a numa corrida contra o tempo para evitar novas vítimas. Contudo, à medida que avança, percebe que algo sinistro a observa de perto, ameaçando não só o desfecho do caso, mas também sua própria segurança. Enquanto luta para desvendar a verdade por trás dos assassinatos, Harker se vê numa encruzilhada entre o dever profissional e os segredos sombrios que emergem, transformando sua investigação em uma batalha intensa entre a razão e o desconhecido.

Do terror ao rock

O filme se passa nos anos 90, trazendo consigo referências as histórias de investigação da época, com mesas de detetives, mapas mentais com pistas e visitas a testemunhas e vítimas, como em ‘Seven: os sete crimes capitais’. Inclusive, o próprio diretor confirmou que a obra tem forte inspiração no filme ‘O silêncio dos Inocentes’ (algo que nem precisa ser confirmado se prestarmos atenção na fórmula: detetive feminina, ligeiramente perturbada, investiga caso de serial killer e não sabe o que é real ou não).

“O Silêncio dos Inocentes foi onde tudo começou. Eu fiz isso deliberadamente – comecei com uma entidade reconhecível, um estilo reconhecível para todos o espectador, e a partir daí comecei a mudar as coisas dentro desta própria expectativa”, disse o diretor em entrevista ao portal brasileiro ‘Omelete’. “A ideia sempre foi usar esse tipo de filme e essa obra como um convite para o mundo que eu quis pintar aqui”.

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Mas, nem só nisso o filme se inspira. É de senso comum que muitas bandas de rock and roll tem músicas e até estéticas inspiradas em temas ocultistas (como o Black Sabbath). Porém, Perkins não utiliza das bandas já conhecidas por suas batidas pesadas e ‘músicas do demônio’, mas sim, uma pertencente ao fenômeno Glam Rock. Durante a promoção do filme, o diretor detalhou sua descoberta da banda T.Rex, por meio de um documentário da Apple TV, que resultou numa jornada criativa para a própria história de Longlegs e para o personagem de Cage. “Isso se tornou uma estranha sinergia na qual me baseei”, disse para a Rolling Stones. O vocalista e criador da banda, Marc Bolan, também serviu de inspiração, que suas composições eram, segundo Perkins, “a mistura perfeita de poesia bíblica e demoníaca e glam rock”.

Suspense aflitivo

Oz Perkins já tem em sua filmografia alguns filmes de terror, algo que está no berço, já que o ator e diretor é filho de Anthony Perkins, que deu vida a Norman Bates em ‘Psicose’. Com isso, o diretor traz para Longlegs uma bagagem do cinema clássico, mas com uma assinatura própria.

Algumas vezes vemos no cinema a tentativa de produtores e diretores de criarem algo tão original, que se perde no meio do caminho. Perkins trilha seu longa ao contrário, trazendo justamente os clássicos thrilers que já conhecemos para o primeiro plano, mas com a diferença de que o serial killer de Cage é apresentado apenas em pequenas doses, dando ao filme um tom ainda mais aflitivo, destacando assim a investigação feita pela agente. O diretor também traz uma atmosfera de suspense psicológico e perturbador.

“Essa inquietude é apoiada pela direção de fotografia de Andres Arochi, que invoca o visual de produções das décadas de 1970 a 1980 para alimentar um senso de realismo cru que ancora a produção. Um trabalho afiado que o diretor aproveita para cozinhar a investigação lentamente, saboreando a agonia da antecipação por uma nova desgraça ou descoberta – especialmente ao retratar muitos deles em primeira pessoa, obrigando o espectador a encarar os horrores de frente”, pontua, Gabriel Avila, do portal Jovem Nerd.

A atuação de Monroe, inclusive, deve ser destacada. Já vinda de outros filmes de terror, ela interpreta uma personagem misteriosa, com leves tons de indiferença e tristeza, mas que muda ao longo do filme ao descobrir que pode ter uma ligação com o serial killer.

O estrelato, porém, fica por conta de Nicolas Cage e sua interpretação do serial killer Longlegs. “O astro ganhou fama não apenas pelo talento, mas também pela forma exagerada com que dá vida a alguns de seus personagens. Com o serial killer não foi diferente, mas, nesse caso, os exageros de Cage são utilizados para dar alma ao assassino. Afinal de contas, se o roteiro dá a Longlegs uma personalidade excêntrica e imprevisível, é na atuação do astro que ele ganha a forma pavorosa que o grande vilão dessa história precisava”, completa Avila.

Recepção

De terror, a investigação criminal, para thriller psicológico com satanismo e ocultismo, Longslegs conquistou até o cineasta Guilhermo del Toro (‘A forma da água’ e ‘O Labirinto do Fauno’). Por meio das redes sociais, Guilhermo expressou suas impressões sobre o longa. “Um ótimo filme de Oz Perkins, 100% seu estilo. É revigorante quando um colega se sai bem ao permanecer fiel aos ritmos e motivos que moldaram as obras de sua carreira. Seu metrônomo, sua composição meticulosa e seu surpreendente senso de maldade e ruína iminente”.

O diretor ainda falou sobre a transformação física de Cage em Longlegs, mantida em segredo na campanha de marketing para tornar sua aparição nas telonas a mais impressionante possível. “Eu amei a escuridão maligna de Cage (nosso mais recente e maior artista expressionista) […] e o humor estranho e superseco (quase esfoliante) de Perkins”.

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Até agora, o filme conta com 294 no site Rotten Tomatos, e aprovação de 86%. O longa ultrapassou a marca dos US$ 100 milhões na bilheteria mundial depois de seu lançamento em outros países, ocorrido em 12 de julho. Além de ter se tornado a maior bilheteria doméstica de um terror para maiores de 2024, a produção também se tornou a maior arrecadação para um terror indie dos últimos dez anos nos EUA – superando sucessos como ‘Fale Comigo‘ (US$48.2M) e ‘Hereditário‘ (US$44M).

 

Por Carolina Rampi

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