Livro “A Máfia das Loterias” é Lançado na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras com sessão de autógrafos

Foto: Roberta Martins
Foto: Roberta Martins

Escrito pelo historiador João Carlos Ferreira, o evento contou com a participação do ex-senador Álvaro Dias, Marisa Serrano, Jaime Vallér, Henrique de Medeiros, entre outros

 

No último sábado (29), às 11h, foi lançado o livro “A Máfia das Loterias”, do escritor e historiador João Carlos Ferreira, na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, em Campo Grande. A obra, que conta com a parceria do ex-senador do Paraná Álvaro Dias, atraiu um público interessado no tema e contou com a presença de figuras como Marisa Serrano, Jaime Vallér, Henrique de Medeiros, José Hamilton de Cassilândia, entre outros. Durante o evento, os participantes tiveram a oportunidade de assistir à análise crítica do autor sobre o escândalo das loterias e participar da tradicional sessão de autógrafos.

O livro expõe um esquema de corrupção envolvendo as loterias administradas pela Caixa Econômica Federal, revelando fraudes e práticas de lavagem de dinheiro denunciadas em 2005 pelo senador Álvaro Dias. A obra detalha como essas irregularidades afetaram a transparência e a credibilidade do sistema de loterias no Brasil, oferecendo uma análise crítica sobre as implicações políticas e sociais do esquema.

O caso ocorreu entre 1996 e 2002, quando surgiram suspeitas de que um grupo de cerca de 200 indivíduos estivesse ganhando repetidamente nos jogos da Caixa Econômica Federal, somando 9.095 vitórias. O esquema foi identificado pela Polícia Federal, e as investigações realizadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) resultaram em 50 indícios de lavagem de dinheiro.

Conforme apontado pelo senador Álvaro Dias, houve envolvimento de funcionários da Caixa Econômica Federal que repassavam dados sobre os vencedores legítimos para os criminosos. Isso facilitava a compra dos bilhetes premiados e a lavagem de dinheiro. De 2002 a 2006, o esquema envolveu 75 pessoas e resultou em movimentações financeiras que ultrapassaram os R$ 32 milhões.

Processo Criativo

Durante o lançamento do livro, João Carlos Ferreira contou à reportagem do jornal O Estado que o tema das loterias surgiu de uma conversa sobre corrupção nos jogos. Admirador do senador Álvaro Dias, o autor entrou em contato com ele, que, apesar da frustração com as investigações, aceitou conversar. A entrevista, segundo Ferreira, foi fundamental para entender a gravidade do caso e a negligência das autoridades.

“Meu objetivo com o livro, mais do que apenas expor um caso específico, foi provocar reflexão na sociedade e, principalmente, nas pessoas que lidam com o poder político e financeiro. A ideia é que o livro sirva como uma centelha para acender uma discussão mais ampla sobre a corrupção no Brasil. Sabemos que não vamos resolver esse problema da noite para o dia, mas espero que, ao lerem o livro, as pessoas possam refletir melhor sobre o impacto dessas práticas na nossa sociedade”, conta o escritor.

Ele, a partir daí, aprofundou suas investigações, pesquisando documentos no Congresso e buscando diversas fontes para compor o livro. A construção do conteúdo levou de quatro a cinco meses. Inicialmente, o objetivo era apenas relatar o esquema de corrupção nas loterias, mas, conforme se aprofundava, percebeu que o caso refletia um problema maior: a corrupção endêmica que atravessa séculos da história do Brasil.

“A corrupção no Brasil é um fenômeno enraizado, que começa com a chegada dos portugueses e se perpetua ao longo dos séculos, refletida em episódios como os de Tiradentes e a exploração de símbolos nacionais. No meu livro, busquei mostrar que esse problema não é novo e continua a se manifestar nas instituições do país. No caso das loterias, o esquema de fraude e lavagem de dinheiro expõe como a corrupção se infiltra em órgãos como a Caixa Econômica Federal, tornando-se parte da cultura política nacional” explica.

O principal objetivo da obra é atingir o maior número possível de pessoas, sem limitações, e provocar uma reflexão profunda sobre a gravidade dos problemas abordados. Ferreira espera que, por meio da leitura, a sociedade reconheça a magnitude dessas questões e, assim, exigir uma postura mais ética de seus representantes.

O trabalho continua

Em entrevista ao jornal O Estado, o senador Álvaro Dias explicou que, como parlamentar, sempre se dedicou a investigar questões importantes. Dias revelou que, após solicitar dados ao COAF, descobriu que alguns ganhadores haviam vencido várias vezes, com prêmios como 550, 250 e 147 vitórias no mesmo dia. Diante disso, sentiu o dever de denunciar o caso.

“Embora não tenha havido responsabilização civil ou criminal dos envolvidos, houve um fato positivo: a interrupção do sistema corrupto. Não soube de ninguém que tenha ganhado mais de 500 vezes na loteria depois daquelas denúncias. O trabalho que fiz, mesmo me expondo e correndo riscos, certamente teve efeito, interrompendo aquele processo de corrupção”.

O senador Álvaro Dias foi questionado sobre o impacto que espera que o lançamento do livro tenha na sociedade e nos órgãos políticos. “A missão dos órgãos públicos é garantir segurança à população e combater os ilícitos. O livro é mais uma reflexão sobre o ocorrido. João Carlos Ferreira, é historiador e narra os acontecimentos, incluindo a atualidade.”

O presidente da Academia sul-mato-grossense de letras, Henrique Medeiros, o lançamento do livro A Máfia das Loterias é uma obra de grande importância literária. Durante o evento, o acadêmico destacou a parceria sólida que existe entre as academias estaduais, especialmente no Mato Grosso, a qual o escritor João Carlos faz parte, e enfatizou o valor do espaço que as academias representam para os escritores e historiadores do país.

“Embora o livro tenha um viés político, ao abordar questões de corrupção nas loterias, ele também possui um aspecto literário e policial. O objetivo é desvendar um escândalo que remonta a um tema de grande relevância para a sociedade. Dessa forma, vejo a obra como uma reflexão importante, que mistura literatura, história e política, sem deixar de lado a análise crítica da corrupção no Brasil”, finaliza Henrique.

Além do lançamento do livro em Campo Grande e Cuiabá, o autor João Carlos agora planeja expandir a divulgação da obra para outras grandes cidades, como Brasília, São Paulo e Curitiba. O projeto, totalmente independente, garantiu ao escritor total liberdade para expor os fatos sem qualquer influência externa.

 

Amanda Ferreira

 

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