Kaio Ramos lança ‘As últimas notícias do século – Vol. 2’

Foto: Charles Aparecido/Divulgaçã
Foto: Charles Aparecido/Divulgaçã

Autor explora notícias de várias épocas, cotidianos e cultura brasileira

‘A últimas notícias do século / continuam como este mundo / que aqui escrevo: apocalipses normais”. Esse é um trecho do poema ‘Nota 01’ do poeta e ator Kaio Ramos, que no mês de setembro lança o segundo volume de seu livro ‘As últimas notícias do século’, no Casulo, Espaço de Arte e Cultura, no município de Dourados, a aproximadamente 228 quilômetros de Campo Grande.

No ano passado o poeta havia lançado ‘As últimas notícias do século’ com temas que conduziam o leitor a reflexões sobre alienação cotidiana, comunicação humana, celebração da vida e solidariedade. Em conversa com o jornal O Estado, o autor revela que o segundo volume estava sendo trabalhado há cinco anos.

“Eu criei o primeiro volume, e não contente, queria criar outra versão daquele volume, então o ‘As últimas notícias do século – Vol. 2’ vem desse processo”, relembra. “O volume 1 traz poemas sobre notícias desde a invasão do Brasil até hoje. São notícias que estão nos jornais, sobre o que está acontecendo no mundo, mas também notícias do cotidiano no sentido de motivar as pessoas a lerem livros, a observar borboletas, o céu azul, que para mim transformam como notícias significativas para reforçar a humanidade”, explica.

Além disso, ambos os volumes trazem uma forte ligação com a cultura brasileira. “Como o Brasil se constrói e foi feito a partir de várias culturas, principalmente das matrizes africanas, eu tento fazer um amaranhado de vários acontecimentos de culturas, de línguas, linguagens e povos” diz Kaio.

Processo criativo

Extremamente ligado a escrita manual, a confecção da obra ocorre desde a adolescência de Kaio. “Esse livro, para mim, é um organismo vivo, que sempre se constrói. Eu escrevo desde os 13 anos, mas só tive coragem de pensar em um livro por volta dos 18, 19, anos. O processo foi minucioso, que levou tempo”, declara. “Esse livro também vem gritando humanidade, gritando ações artesanais. Sou muito de escrever no papel, gosto de escrever em guardanapos e depois transcrevo. Antigamente tinha uma máquina de escrever, gosto desse processo artesanal, que faz reviver pela nostalgia”.

O autor usa dos conceitos da ‘antropofagia’, conceito surgido no período modernista brasileiro que buscava construir uma identidade cultural brasileira forte e original, com valorização a miscigenação e cultura popular, assimilando ou ‘devorando’, críticas e outras culturas.

“Eu bebo muito da antropofagia, do conhecer e ‘comer’ todas as culturas possíveis e adquirir aquilo que possa nos elevar mais. ‘As últimas notícias do século é uma poesia antropofágica, é uma estética muito misturada”.

Com um título provocativo, a obra são mais do que relatos: são memórias pessoais e coletivas, alertas sobre o clima, a guerra e os rumos da Terra. “São poesias do agora, do ontem, do amanhã”, define o autor, que entrelaça denúncia e afeto em versos que acolhem e despertam. “São poesias que falam por si só, que gritam, que fazem a juventude e a sociedade se levantar e repensar sobre o nosso meio, sobre como estamos consumindo essas notícias.” Para Kaio, cada leitor é livre para interpretar os poemas com sua própria bagagem — “porque a poesia interpretada vem do indivíduo, de sua vivência, de seu pensar.”

O livro também traz duas questões essenciais: acessibilidade em Libras e versão em audiolivro. “Será um dos primeiros livros com essas duas acessibilidades dentro do Estado. Há um cuidado, porque a poesia escrita em si ali no livro, talvez não ressoe com aquele público. Então há necessidade de ser acessível para todos os públicos, dentro de universidades, escolas, comunidades”.

Lançamento

O lançamento do livro promete ser uma noite plural e sensível, marcada por música, poesia e troca de ideias. Marcado para o dia 13 de setembro, às 19h, no espaço Casulo, em Dourados, o evento contará com apresentação musical de João Martinelli, declamações com intérprete de Libras, além de uma performance do próprio autor. “A minha poesia é também performativa. Como ator, tenho essa necessidade de transmigrar a palavra para o corpo, torná-la mais acessível”, explica.

Haverá ainda uma roda de conversa sobre a obra, formato que o autor valoriza e pretende levar também a outras cidades, como Campo Grande. “A literatura precisa de mais abertura no nosso Estado. Já temos nomes consagrados como Emmanuel Marinho, Henrique Pimenta e Febraro, mas é importante fortalecer os novos escritores e ampliar os espaços para a palavra”.

Questionado sobre o lugar da poesia fora dos grandes centros, e da cena do gênero em Dourados, Kaio destaca que há espaços, mais ainda devem ser realizadas maiores articulações.

“Mas também a poesia não está só no livro, há batalhas de rima aqui maravilhosas em Dourados, que eu acho que é poesia pura, poesia livre, poesia da rua. Também outro que admiro muito, que vem jogando a poesia não só dentro dos livros, mas dentro da galera, o Miliano, que é um rapper, poeta maravilhoso, e que vem abrindo espaço para a poesia nas ruas. Então está aberto, mas pode melhorar mais”, opina.

Os próximos passos da escrita do autor seguem abertos ao inesperado, guiados mais pela intuição do que por um plano fixo. “Não sei se vou continuar com ‘As últimas notícias do século’ em outros volumes, mas já tenho livros engatilhados”, revela. Um deles é voltado ao público infantil, fruto do crescente interesse das crianças por seus poemas performáticos. “Mesmo sendo um livro para maiores de 14 anos, algumas poesias encantam os pequenos — eu brinco com as palavras, conto histórias, e eles adoram.” Além dos livros, a poesia também seguirá viva no corpo e na cena. “Eu coloco muita coisa dentro das performances de teatro. A escrita, para mim, é livre — ela que me segura, ela que me rodeia. Eu fluo como o vento”, finaliza.

O projeto foi contemplado pelo Lei Paulo Gustavo de Literatura por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul

Serviço: O lançamento do livro ‘As últimas notícias do século – Vol. 2’, de Kaio Ramos, será realizado no dia 13 de setembro, às 19h, no Casulo – Espaço de Arte e Cultura, em Dourados–MS, localizado na Rua Reinaldo Bianchi, 398, no bairro Parque Alvorada. A obra reúne poesia, memória e atualidade em páginas que provocam, encantam e convidam à reflexão sobre o tempo presente. O evento contará com acessibilidade em Libras e a obra será disponibilizada também em formato de audiolivro.

 

 

Por Carolina Rampi

 

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