O “Livro dos Filmes Proibidos e Censurados na História do Cinema”, de autoria do jornalista Pedro Martins Freire, não tem como objetivo apenas destacar os filmes proibidos, mas como esse processo de repressão foi gerado e se desenvolveu nas mais variadas vertentes e sociedades.
Para expressar e ampliar a consciência quanto à história dos filmes atingidos e perseguidos durante quase 130 anos de existência do Cinema, por repressões e intolerâncias conforme as suas épocas e continentes, torna-se essencial o conhecimento da perseverança da busca pela imagem em movimento.
A obra registra como esse processo, iniciado na Pré-História, foi incansavelmente buscado com determinação por cientistas, técnicos e pesquisadores de nacionalidades diversas ao longo dos tempos até ser, finalmente, “inventado” na França ao final do século XIX e referenciado como arte no início do século XX. Apesar da referência, nem assim escapou da censura, a qual lhe negou a liberdade de expressão.
Censura das vitórias dos boxeadores negros sobre os brancos
Este primeiro volume condensa a década de 1890 a 1899 – o autor possui mais três volumes em edição que darão continuidade cronológica aos demais períodos históricos – 1900-1909 (vol 2), 1910-1919 (vol 3) e 1920-1929 (vol 4) – da coletânea Do Silêncio ao Som.
Além da busca pela imagem em movimento, resgata a origem da censura na Grécia com a morte de Sócrates e, a partir dos filmes pioneiros, como as pernas e tornozelos de bailarinas e trapezistas; a dança-do-ventre de dançarinas; e o strip-tease e a nudez de atrizes; as vitórias nos ringues dos boxeadores negros; as adaptações de personagens da religião e até fatos históricos, foram criando, através da indignação, do preconceito e da defesa da moralidade e dos bons costumes, os instrumentos de censura aos filmes.
“A censura nunca me fascinou, mas sempre me intrigou por sua forma de gestação maléfica, com suas ideias de moralidade baseadas em conceitos sociais imutáveis, aquelas que clamam pela permanência do status quo e pelo direito de se autoproclamar tão poderosa, a ponto de intervir no processo de criação das artes e na evolução humana pela ciência. E pior, tendo ao seu lado algumas religiões, clubes e entidades, ideologias e políticas, o controle das leis e dos direitos, os quais julgam, intrínseco e pessoal, em limitar o que a sociedade deve ver, ler e pensar”, afirma o autor.
Incontáveis filmes foram censurados com banimentos, cortes e mutilações, inicialmente nos EUA, por Conselhos de Censores criados por entidades conservadoras e religiosas, civis e policiais, além de órgãos governamentais, os quais, em seguida, se alastraram em escala mundial.