Comediantes da Capital comentam a importância do humor
“Rir é o melhor remédio”. Quem já não ouviu essa frase em algum momento da vida, que atire a primeira pedra. Para os rabugentos de plantão, o riso é um importante aliado da saúde física e mental, além de melhorar o convívio social. O riso é tão importante que ao longo dos anos especialistas desenvolveram uma terapia do riso, e a ação ganhou uma data de celebração própria, 18 de janeiro, Dia Internacional do Riso.
Com tudo que vemos nas redes sociais, televisão e manchetes, nem sempre sorrir é tão fácil, e manter o bom humor é ainda mais difícil. Mas o tema é de grande interesse tanto para psicólogos quanto para aqueles responsáveis por levar o humor, como comediantes e produtores culturais.
A ciência do riso
Rir não é apenas algo natural e espontâneo, mas um exercício real para o corpo e mente. Conforme o professor especialista em Psicologia da Saúde, Eliezer Grillo, o sorriso e bom humor são considerados aliados para uma saúde mental, emocional e física adequadas. “Quando sorrimos temos a liberação de dois neurotransmissores (hormônios), a serotonina e a dopamina, que nos dão a sensação de satisfação, felicidade e bem-estar, contribuindo para a melhora do estado emocional”, explica.
Ele ressalta que o riso tem muito mais haver com química do que pensamos. “Sorrir e ter uma boa dose de humor ajuda a diminuir as taxas de cortisol (hormônio ligado ao estresse), com essa diminuição temos a sensação de tranquilidade, com menos cortisol em nosso organismo há o fortalecimento do sistema imunológico, tornando o sujeito menos suscetível a doenças”.
O riso no palco: o papel da comédia
No universo da cultura, a comédia de stand-up foi a que mais ganhou adeptos, tando no palco quanto no público. Há mais de 10 anos na comédia, o humorista e locutor Wagner Jean, conhecido como ‘Corumbá da Popular’, acredita que o papel do riso é o de ressignificar.
“É por meio do riso que a gente consegue ressignificar aquilo que aconteceu na nossa vida, e ver que conseguimos ter uma vida mais leve, alegre, passa a ter uma nova compreensão diante de tudo que acontece no dia-a-dia. Por mais que algumas coisas nos deixem tristes no momento, cause uma certa dor, no processo de busca de alegria você consegue ressignificar. É só deixar o tempo passar”, reflete.
“Vivemos num mundo caótico e rir sempre é o melhor remédio. Enquanto estamos rindo, esquecemos, mesmo que momentaneamente, os problemas do cotidiano. Me sinto lisonjeado em poder oferecer garantia de muito bom humor durante o ano todo para população de nossa cidade”, disse ao jornal O Estado o produtor cultural Bruno Damus, criador da Sparta Produções, responsável por trazer nomes nacionais do stand-up para Mato Grosso do Sul como Diogo Portugal e Rodrigo Marques.
O riso une?
Rir sozinho ou rir acompanhado, o resultado pode ser o mesmo. Mas para os comediantes, o humor pode ser um grande aliado para a formação de conexões interpessoais. “O ato de rir é o que consolida a confiança entre as pessoas. Tanto que, quando alguém se apresenta ou é apresentado para outro, o ato de rir é praticamente imediato. Sem a conexão do riso não conseguimos construir linhas de confiança e tranquilidade entre os indivíduos”, pontua o humorista Alex Zazyki.
Atuante tanto nos gêneros do stand-up quanto na palhaçaria, o humorista Luciano Risalde acredita que a comédia reforça a conexão entre quem faz rir e o público. “Se a pessoa conta uma piada e um desconhecido dá risada, naquele milésimo de segundo você olha para aquela pessoa, ela te olha, e vocês se conectam. O riso é espontâneo, faz tudo se tornar mais suave, para você continuar querendo viver”, reforça.
Mudanças
Agradar a todos, ‘politicamente correto’, regionalidade, nichos na comédia, são apontados como alguns desafios em se fazer humor, complementado com o avanço das redes sociais, que proporcionam um humor rápido, com tendências que mudam todo dia.
“O humor, assim como todas as formas de manifestações artísticas, evolui com o passar dos tempos, acompanhando as discussões humanas. Ele vem tendo o seu papel também de cutucar e procurar tirar a gente da zona de conforto para que a gente busque novas formas de se encarar a realidade da vida, assim como a sua forma de produção. Ela evolui junto com as redes sociais, de se fazer sketches, humor falado ou não, direct, storytelling e outras possibilidades que as novas tecnologias propiciam para a gente”, pontua Wagner.
Entretanto, o humorista destaca mesmo no humor, é preciso respeitar as diferenças, sensibilidade e limite de espaço do próximo. “Tudo tem o seu lugar e sua hora. Quem gosta do humor, precisa procurar algo que o agrade, em suas várias vertentes. Tem formas e formas de fazer humor, então cada um vai buscando aquilo que lhe agrada”.
Risalde acredita que o humor é limitado, mas é preciso atenção onde é feito. “Posso falar qualquer tema, desde seja no local limitado da comédia. E as redes sociais são um local limitado, podem tirar do contexto algo que você fez piada apenas para ferir o outro”.
Prescrição: muito riso
Segundo Grillo, quem sorri mais, possui mais confiança em si, contribuindo para a autoestima.
“O bom humor ajuda ainda a levarmos a vida com mais leveza e esperança, contribui para termos uma rede de suporte social, pois quem sorri produz um ambiente amistoso, logo as pessoas gostam de estar perto. Os estudos afirmam a importância da rede de suporte para a saúde mental, pois essa oferece uma sensação de acolhimento, cuidado, pertencimento e ajuda mútua, contribuindo para o bem-estar emocional”.
De frente para o público, Jean conta que já recebeu relatos de pessoas que conseguiram sair de comportamentos tóxicos graças ao humor. “Lá na rádio, recebemos relatos de pessoas que mudaram os seus hábitos por conta de acompanhar o programa, de começar a sorrir mais por conta do conteúdo apresentado. Tem gente que reduziu ou parou de beber. Pessoas que tomavam medicações, que reduziu os miligramas do remédio, a porção de medicação que tomava”, relembra.
“O humor é a porta de entrada pra prender a atenção de temas sensíveis e te faz ouvir e absorver uma outra opinião de maneira mais leve, menos invasiva e consequentemente te faz repensar sobre o tema depois. Um exemplo é o show “Paz de Darwin” de 2023, do comediante Rodrigo Marques. Ele faz uma desconstrução da monogamia e aborda também sobre espiritualidade. Impossível sair do show sem fazer profundas reflexões. E esse é o papel da comédia”, diz Damus.
O produtor ainda ressalta a importância de procurar o tipo de humor que te faça bem. Se você não gosta do comediante que está vindo é só não ir. Mas respeite”.
“Não vá atrás de comediantes que te façam mal. Se você não gosta de piada pesada, não consuma piada pesada, vá atrás de piadas saudáveis que te façam bem, você vai ter que achar um nicho. Ler também é muito bom, a gente perdeu o costume de ler coisas engraçadas, crônicas, coisas de jornal. Vá em busca da comédia que te faça bem, não vá atrás da comédia que te faça mal para você lacrar na internet e etc, vá em busca de algo que te enriqueça, que te faça abrir horizontes, que você seja feliz. Acho que comemorar o dia do riso é isso, sorrir”, finaliza Risalde.
Por Por Carolina Rampi