Calorosa e Paulo Monarco se juntam a Jerry Espíndola em show ‘pantamazônico’ em Campo Grande
As cenas musicais de Cuiabá e Campo Grande entram em colisão no show ‘Do Pantanal ao Litoral’, que promove um intercâmbio cultural inédito entre artistas do Centro-Oeste brasileiro, neste domingo (27), na Cervejaria Canalhas, com a banda Calorosa (MT), o cantor e compositor Paulo Monarco (MT) e o anfitrião Jerry Espíndola (MS). O evento é gratuito, com ingressos disponíveis por meio da plataforma Sympla.
A programação inicia com a roda de conversa ‘Paisagem Sonora: Música e Território’, às 18h, reunindo os artistas Paulinho Nascimento (Calorosa), Jerry Espíndola e Paulo Monarco, com mediação de Aly Ladislau. Em seguida, às 20h, o palco se abre para o show que marca a primeira apresentação conjunta dos músicos mato-grossenses com Jerry Espíndola — ícone da música sul-mato-grossense e referência na fusão da polca-rock.
Para o jornal O Estado, Jerry Espíndola comentou sobre o encontro. “Ele representa uma conexão que nunca deveríamos ter perdido, pois já fomos um Estado só. Serão três artistas que bebem nas suas influências locais”.
Mais que uma parceria musical, o encontro celebra as conexões sonoras e territoriais do bioma pantaneiro. A afinidade com a obra de Jerry Espíndola — que há décadas transforma referências locais em linguagem universal — torna o diálogo ainda mais potente.
Influenciado por Jerry, Monarco transita pela tradição musical da baixada cuiabana, dando continuidade à herança plantada pelo cururu, siriri, rasqueado e lambadão. Em seu show a sonoridade caminha sinesteticamente guiada pelas estruturas das claves rítmicas típicas da baixada cuiabana. Hora com peso e atitude rock, hora experimental e flutuante.
Jerry inclusive relembra um encontro marcante. “Conheci o Monarco no começo do século, quando fiz muitos shows da polca-rock em Cuiabá. Ele me disse que foi com a gente que ele vislumbrou no ineditismo musical que podíamos chegar usando nossas raízes. Acho que essa liga da fusão de ritmos regionais nos une naturalmente, de certa forma bebemos na mesma fonte”.
Seguindo no mesmo caminho e adubando ainda mais o fértil solo artístico dos estados irmãos: o pop tropical pantamazônico da banda Calorosa. Conceito utilizado pela banda para descrever a fusão que promove, de gêneros contemporâneos a ritmos tradicionais da cultura popular de Mato Grosso.
Ao comentar sobre como a ideia de uma sonoridade “pantamazônica” se traduz no palco e no repertório do show, Jerry Espíndola destaca a força das referências naturais e culturais dos dois estados: “O nosso som tem alma de Mato, desses dois Matos. Eu consigo escutar os bichos e toda a flora nas guitarras do Monarco e no ritmo quentíssimo da Calorosa, assim como sinto isso na polca-rock. Acredito que essa originalidade e simbologia está muito presente no palco”.
O show propõe uma experiência sinestésica e afetiva entre os artistas e o público, ressaltando o papel da música como expressão do território, da memória e das novas paisagens culturais.
Para Jerry, a relação entre música e território é um traço essencial de sua caminhada artística. “Minha trajetória sempre teve essa vertente, meu trabalho com o trio Hermanos Irmãos é uma espécie de síntese desse contexto. Somos do território do Pantanal e somos do território guaranítico, que agrega o Paraguai e a Argentina — tudo isso está entranhado na nossa musicalidade”.
Sobre o projeto
“Do Pantanal ao Litoral” é um projeto de intercâmbio musical entre artistas de Cuiabá (MT) e Campo Grande–MS. A proposta celebra a diversidade cultural brasileira, valorizando as sonoridades que emergem dos territórios e o diálogo criativo entre ritmos tradicionais e contemporâneos.
Ele integra o Circuito Funarte de Música Píxinguinha 2023, realizado por meio do programa de Difusão Nacional Funarte Rede das Artes. O circuito tem como inspiração o Projeto Pixinguinha, iniciado em 1977 pela Funarte (Fundação Nacional de Artes), onde incentivava a circulação de artistas e técnicos da música popular e instrumental pelo Brasil. A nova versão estimula a circulação da música popular e de concerto por meio do apoio a circuitos de espetáculos musicais e atividades de intercâmbio, mediação e formação, com apresentações de artistas e/ou grupos atuantes em cada localidade que receberá shows, promovendo assim o intercâmbio regional e o fortalecimento das várias redes criativas da música brasileira.
“A importância desse projeto é muito grande. A atuação do Governo Federal investindo nessas ações é uma forma digna de se fazer esse intercâmbio e levar a música que produzimos a outros estados. É fundamental que a música produzida no interior do Brasil ganhe mais espaço”, opina Jerry.
Banda Calorosa
Banda cuiabana (MT) que experimenta ritmos como rasqueado, lambadão, reggae, eletrônico e pop, criando uma linguagem própria que materializa a história e o momento mato-grossense, levando pitadas de humor ácido e letras politizadas. Mergulhando nas raízes culturais do Mato Grosso, os músicos Augusto Krebs e Karola Nunes assumem as guitarras, Paulinho Nascimento o contrabaixo, Vinícius Barros a bateria e Bruno el Joe, sintetizadores e samples. Todos assumem também os vocais.
Paulo Monarco
É compositor, cantor e produtor musical. Cria do Mato Grosso e há quase duas décadas atuando em diversos projetos musicais e audiovisuais, transita entre a tradição musical brasileira e a aldeia global contemporânea. Tem três álbuns lançados: Malabares com Farinha (2010), Dois Tempos de Um Lugar (2015 – com Dandara) e Abriram-se as veias (2023). Com o coletivo OKKA lançou dois singles/clipes: #tbt e Fronteira. Em 2023 lançou O clarim, canção/clipe dirigido por Henrique Santian, recebendo prêmio do júri técnico da Feira da Música do Mato Grosso. No carnaval de 2024 lançou o single Vem Me Ter (larga de moage), em parceria com a banda Calorosa – com a qual prepara a turnê Do Pantanal ao Litoral, contemplada pelo Projeto Pixinguinha.
Entre apresentações, gravações, parcerias e demais colabs já trabalhou com Lenine, Tetê Espíndola, Orquestra Jazz Sinfônica, Uxía, Zeca Baleiro, Lenna Bahule, Chico César, 5 a Seco, Dulce Quental, Mû Mbana, Rômulo Fróes, Pacha Ana, Swami Jr, Tó Brandileone, Celso Viáfora e mais.
Por Carolina Rampi