Inspirado em uma história real, filme chega aos cinemas brasileiros explorando o embate psicológico entre culpa, redenção e violência
Inspirado em fatos reais, o longa-metragem Confinado (Locked, no título original) chega hoje, 29 de maio, às telonas de todo o país, incluindo todos os cinemas de Campo Grande. Distribuído pela Diamond Films, o filme tem 1h35 de duração sendo classificado como não recomendado para menores de 16 anos. A direção é de David Yarovesky e o roteiro assinado por Michael Arlen Ross.
Protagonizado por Bill Skarsgård, Confinado é um suspense de ação intenso que prende o espectador do início ao fim. Skarsgård interpreta Eddie, um pai de família à beira do colapso financeiro, que decide cometer um roubo na esperança de resolver seus problemas. O que parecia ser uma oportunidade perfeita — um carro de luxo abandonado — se revela uma armadilha cuidadosamente armada.

Foto: Michael Dallatorre/Divulgação
Dentro do veículo, Eddie se vê aprisionado por William, personagem vivido por Anthony Hopkins. William é um justiceiro frio e meticuloso, determinado a punir Eddie de forma implacável. Sem acesso à água, sem meios de fuga e submetido a torturas psicológicas e físicas, Eddie enfrenta momentos de puro desespero, lutando contra o tempo e a crueldade de seu algoz.
Confinado é mais do que um jogo de gato e rato: é uma reflexão tensa e perturbadora sobre moralidade, desespero e justiça pelas próprias mãos. Com atuações intensas e uma atmosfera sufocante, o filme promete manter os espectadores grudados na cadeira até o último segundo.
Produção
Apesar de sua atmosfera claustrofóbica e da trama simples, Confinado chama atenção por ser a terceira adaptação da história original, o longa argentino 4×4 (2019). Após a primeira refilmagem brasileira, A Jaula (2022), strelada por Chay Suede e Alexandre Nero, agora é a vez de Hollywood explorar essa narrativa de punição e sobrevivência extrema com um elenco internacional de peso.
Com filmagens realizadas em Vancouver, no Canadá, entre novembro e dezembro de 2023, o projeto contou inicialmente com Glen Powell cotado para o papel de Eddie que acabou sendo entregue a Skarsgård. A escolha não poderia ter sido mais acertada: o ator sueco entrega uma performance crua e angustiante, elevando a tensão do roteiro.
Em entrevista à repórter Nadya Martinez, da Muse TV, o ator Bill Skarsgård falou sobre os desafios intensos das filmagens de Confinado, Segundo o ator, a experiência foi fisicamente e emocionalmente exaustiva.
“Eu não apreciei o suficiente o quão desafiador esse filme seria. “Parecia que eu passei quatro semanas dentro daquele carro. Todo dia era uma nova provação: levar um tiro na perna, gritar de agonia, congelar até os ossos… Foi como se eu tentasse dar 110% de mim em cada um desses momentos. E, de alguma forma, eu senti aquela dor enquanto filmava”, revela o ator.
Conhecido por papéis intensos e personagens emocionalmente complexos, Skarsgård vê em Eddie, uma figura contraditória, marcada por falhas humanas e escolhas desesperadas. “Ele é meio que um fracassado adorável. Eu tive muita empatia por ele. É uma vítima de si mesmo, alguém que quer ser bom, mas não consegue evitar o mal. E ele não é um cara mau, realmente não é”.
O ator também destacou que, apesar do formato concentrado e da tensão crescente, Confinado traz discussões atuais que vão além do suspense. “Há muitos temas contemporâneos no filme: questões de classe, de gerações. Como a geração mais velha enxerga e julga a mais nova. Existe ali um embate silencioso, mas carregado de significado”.

Foto: Michael Dallatorre/Divulgação
Caso Real
O enredo de Confinado é inspirado em um caso real ocorrido em 2016, quando um morador foi surpreendido ao perceber que alguém havia entrado em seu carro e tentava escapar desesperadamente. A cena chamou atenção porque o indivíduo chegou a chutar portas e janelas, tudo isso poucos minutos depois de o dono ter estacionado o veículo em uma das avenidas mais movimentadas da cidade.
Antecipando a possibilidade de situações como essa, o proprietário, Roberto Desumvila, havia instalado um sistema de segurança reforçado no automóvel. A tecnologia fazia com que, assim que um estranho entrasse no veículo, as portas fossem automaticamente travadas, os vidros erguidos e as luzes apagadas, impedindo qualquer tentativa de fuga.
A medida extrema foi tomada por Desumvila após um episódio traumático: sua filha foi atingida por um objeto, possivelmente uma pedra ou um disparo, enquanto voltava da faculdade. Com o criminoso preso dentro do carro e sem sucesso em nenhuma das tentativas de sair, a polícia chegou cerca de 20 minutos depois e efetuou a prisão.
Criticas
A produção norte-americana vem dividindo a crítica. No site Rotten Tomatoes, o thriller estreou com 66% de aprovação, com média de 6/10 baseada em 71 resenhas. Já no IMDb, a nota registrada é de 5,8/10, refletindo uma recepção moderada por parte do público.
A bilheteria mundial de Confinado alcançou até agora a marca de US$ 3,8 milhões, sinalizando um desempenho discreto, mas promissor para um filme com temática densa e ambientação limitada quase inteiramente ao interior de um veículo. Com direção de David Yarovesky e roteiro de Michael Arlen Ross, o filme busca, acima de tudo, provocar debate sobre os limites da justiça e do desespero humano.
Em crítica publicada no site NPR, o jornalista Bob Mondello destacou a complexidade do personagem de Bill Skarsgård em Confinado, descrevendo-o como um homem atrapalhado, mas com boas intenções. O jornalista destca que Yarovesky e o roteirista Michael Arlen Ross surpreendem ao incorporar camadas inesperadas à narrativa. Além da tensão crescente e da ambientação claustrofóbica, a dupla insere reflexões filosóficas e sociais, com referências que vão de Karl Marx a Dostoiévski — elementos que enriquecem o conflito entre os personagens e elevam o debate moral proposto pelo filme.
Outro destaque está na atuação, que transcende o espaço físico. Mesmo sem dividir o mesmo ambiente em muitas cenas, os protagonistas conseguem criar uma atmosfera de inquietação constante. A química dramática entre Bill Skarsgård e Anthony Hopkins é construída com precisão, e basta a troca de falas, muitas vezes por meio de uma tela ou de áudios, para que o espectador sinta o peso psicológico do embate.
Em sua crítica para o site brasileiro Omelete, o jornalista Alexandre Almeida aponta que Confinado, apesar de partir de uma premissa promissora, não consegue sustentar a tensão ao longo de toda a sua duração. Segundo ele, o filme tenta seguir os passos de produções como Por um Fio, de Joel Schumacher, ou o mais recente Drop: Ameaça Anônima — exemplos bem-sucedidos de thrillers ambientados em espaços únicos —, mas tropeça ao tentar manter o fôlego narrativo.
Almeida avalia que, embora a proposta inicial seja instigante, o roteiro não apresenta força suficiente para justificar o formato de longa-metragem. “É uma boa ideia, mas que se desgasta rapidamente e talvez funcionasse melhor como um curta de 30 minutos”, sugere o crítico. O resultado, segundo ele, é um filme que acaba transferindo a sensação de punição para o próprio público, que acompanha o desenrolar com menos impacto do que o prometido.

Foto: Michael Dallatorre/Divulgação
Por Amanda Ferreira
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