Historiador lança livro sobre fraude em loterias e lavagem de dinheiro

Foto: Divulgação
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‘A Máfia das Loterias’ será lançado na Capital no sábado, na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras

Em 2005, o então senador paranaense Álvaro Dias, revelou um esquema de lavagem de dinheiro e fraudes envolvendo as loterias administradas pela Caixa Econômica Federal. Esse é o tema do novo livro do escritor e historiador João Carlos Ferreira, ‘A Máfia das Loterias’, que será lançado neste sábado (29), a partir das 11h, na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, em Campo Grande.

As investigações da Polícia Federal (PF) começaram após a constatação de que, entre março de 1996 e fevereiro de 2002, um grupo de 200 pessoas havia ganhado impressionantes 9.095 vezes nas loterias da Caixa. Além disso, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificou cerca de 50 casos suspeitos de lavagem de dinheiro nesse período. Segundo Álvaro Dias, funcionários da Caixa informavam criminosos sobre os vencedores legítimos, permitindo a compra dos bilhetes premiados e a consequente lavagem de dinheiro ilícito. Essas fraudes, envolvendo 75 pessoas, teriam movimentado mais de R$ 32 milhões entre 2002 e 2006.

“O senador iniciou esse trabalho. Ele quis expor a questão de pessoas que ganhavam até centenas de vezes na loteria, evidenciando que o verdadeiro objetivo era a lavagem de dinheiro. Esse esquema foi caracterizado e aprofundado ao longo da investigação conduzida por ele”, relembra o autor, em entrevista ao jornal O Estado.

Durante pesquisa para o livro, Ferreira percebeu que o esquema para a lavagem de dinheiro utilizando das loterias segue ativo no Brasil. “Com o passar dos anos, a atuação desse esquema oscilou, em alguns momentos diminuiu a intensidade, mas depois voltou à tona. Muitos desses processos correm sob sigilo, o que dificulta o acesso às informações. Mas os que pretendem são claros: o esquema continua ativo”.

Investigações

Com as denúncias na mesa, houve a divulgação de uma CPI no Congresso e um projeto de lei que visava coibir esse tipo de crime. O livro então busca dar luz ao trabalho de Álvaro Dias, responsável pelas denúncias, que abalaram a confianças nas instituições publicas. Entretanto, Ferreira ressalta os resultados da suposta CPI. “Veja bem, a Polícia Federal realizou um trabalho baseado nas denúncias do senador Álvaro Dias. No entanto, a CPI da Máfia das Loterias, na prática, nunca existiu, pois não houve elementos suficientes para que ela fosse formalmente instaurada. Houve um período em que se falou muito sobre a CPI da Máfia das Loterias, mas é importante esclarecer: essa CPI nunca foi formalmente instituída”, denuncia.

“As denúncias que fiz no Senado estancaram o movimento criminoso, porém, não foram esquecidas e inspiraram o brilhante escritor João Carlos Ferreira a lançar o livro A Máfia das Loterias”, explica Dias.

Há tempos

Segundo Ferreira, há um problema estrutural na administração pública brasileira. “A corrupção está profundamente enraizada na sociedade brasileira, quase como parte do seu DNA. Infelizmente, estamos sujeitos a essas turbulências que obscurecem o cenário político nacional”, enfatiza.

Ele ainda destaca que esses esquemas vão além da própria política, estando embrenhados em prestadoras de serviços, secretarias de empresas municipais, estaduais e federais, ministérios e instituições governamentais. “Esse sistema corrompido foi estruturado e consolidado de tal forma que se tornou praticamente impossível desmontá-lo, tornando-se algo a que muitos já se habituaram”.

“O crime organizado tem se tornado cada vez mais eficiente, estruturando-se de maneira sofisticada dentro dos sistemas administrativos, financeiros, fiscais e contábeis do país. Em muitos casos, opera quase como um governo paralelo, explorando as fragilidades do Estado”, exalta.

O autor deixa claro que a intenção do livro é fazer um alerta. “Esperamos que este livro sirva como uma centelha, incentivando a sociedade a refletir melhor sobre essas questões, a analisar com mais estratégias para as pessoas com quem convivemos e, assim, minimizar os impactos da corrupção”, declara.

“Nosso objetivo foi tornar público esse esquema criminoso e alertar a sociedade sobre a forma perniciosa com que os recursos públicos, além do dinheiro proveniente do narcotráfico e do crime organizado, são utilizados para lavagem de dinheiro. Essa é a realidade”, finaliza.

 

Por Carolina Rampi

 

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