História do Bando do Velho Jack sai dos palcos e vai para as telas em curta-metragem

(Foto: Reprodução)
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Há quem pense que o cenário musical de Mato Grosso do Sul está fadado a ser comandado apenas pelo sertanejo. Não poderiam estar mais enganados: o Estado tem joias musicais nos mais diversos gêneros, um deles, e com destaque, é o rock. E nada melhor do que mostrar isso ao contar a história de uma das bandas de rock mais famosas do Estado, O Bando do Velho Jack, e é isso que a cineasta Gabriela Dias fez, por meio do curta-metragem ‘Noites em Claro – Palavras do Bando do Velho Jack’, com estreia marcada para o dia 13 de julho, Dia Mundial do Rock.

Com referências ao southern rock, subgênero do rock característico da Região Sul dos Estados Unidos, blues e country music, o Bando do Velho Jack carimbou, durante 29 anos, sua essência na cultura sul-mato-grossense, com a utilização do baixo, guitarra, teclado e bateria, e deu a música sucessos como ‘Palavras Erradas’ e a versão rock de ‘Trem do Pantanal’, clássico de Paulo Simões e Geraldo Roca, imortalizado por Almir Sater.

A trajetória de quase três décadas do quinteto composto por Rodrigo Tozzette, Marcos Yallouz, Fábio “Corvo” Terra, Alex “Fralda” Cavalheri e João Bosco (formação clássica), é enredo para o curta-metragem, dirigido pela jornalista e publicitária, Gabriela Dias, que pesquisou durante cinco anos para construir o documentário, que finalmente estreia em 2024, feito com uma produção independente viabilizada com incentivos da Lei Paulo Gustavo, por meio da Prefeitura Municipal de Campo Grande, via Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo).

Além dos membros da banda, o documentário procura ouvir alguns artistas que influenciaram e conviveram ao longo do tempo com a história e a música do Bando do Velho Jack, como Miska Thomé, Guilherme Cruz, Geraldo Espíndola, Paulo Simões, além do lendário e um dos precursores do rock brasileiro, Oswaldo Vecchione, fundador, nos anos 1960, da longeva banda Made in Brazil, em atividade até hoje no cenário musical de São Paulo e pioneira no conceito de ‘banda pesada’ no Brasil, com pegada hard/heavy.
A produção executiva e o roteiro do curta-metragem de 15 minutos têm a assinatura do publicitário Felipe Mesquita Duarte. O jornalista e radialista Clayton Sales acompanha o trabalho de pesquisa e dá voz à narração da obra.

“Há cinco anos, eu e o Felipe Mesquita estávamos conversando sobre fazer um documentário sobre o rock no Mato Grosso do Sul. O Bando do Velho Jack é uma banda que já tem muita história, e uma história muito profunda que não foi explorada, e aí começamos uma pesquisa: assistimos todas as entrevistas, entramos nos arquivos da banda, como foi a formação, como era a atmosfera do rock na década de 90; primeiro começou pela pesquisa e a inspiração foi o amor pela música e o cinema documental então juntou um roteiro de uma pessoa apaixonada por música e cinema, com a direção de uma pessoa que ama cinema documental e música. Vimos como uma oportunidade de eternizar um pouco da história do nosso Estado”, relatou Gabriela Dias em entrevista exclusiva ao jornal O Estado.

O início de um sonho

Ao vermos o resultado de um filme, seja ele um curta, documentário, ou longa, não percebemos as dificuldades enfrentadas pelos seus realizadores. “Quando falamos de um filme em curta-documentário, que seja feito no interior do Brasil, estamos falando de um cinema de guerrilha. As nossas gravações começaram em abril. E na nossa primeira entrevista com o Geraldo Espíndola, caiu um toró, que eu até tremi no set. E aí o Geraldo, olhou para mim, chegou pertinho do roteirista e falou baixinho no ouvido dele, ‘eu regravo quantas vezes vocês quiserem’. Eu topei ir para São Paulo sozinha, com um tripé nas costas, uma câmera na mochila, e tinha viajado poucas vezes”, relembrou Dias.

“Outro desafio é a finalização, porque fizemos em torno de 20 entrevistas e é aqui que temos que decidir o que vai entrar no curta. O projeto de longa ainda é um sonho que será alcançado, eu tenho fé nisso, mas agora é onde o editor chora e a mãe não vê. Mas acredito que foi tudo para entregar um documentário com muita credibilidade, verdade, emoção, novidade e fazer esse registro de uma banda que resiste há 30 anos em MS”, completou.

Para quem conhece O Bando, o nome do curta não é estranho; noites em claro faz parte da letra de um dos principais sucessos da banda, ‘Palavras Erradas’, e também faz alusão a vida de um músico: sempre passando suas noites em claro, tocando de bar em bar e compondo.

Para realizar o documentário, havia um processo pré-definido, que passou por mudanças no momento em que a diretora e o roteiristas perceberam a rica gama de histórias guardadas pelos seus entrevistados.
“O documentário se constrói no processo, tínhamos a meta de falar sobre a banda, destacando grandes momentos e as pausas da banda, só que encontramos Paulo Simões, Geraldo Espíndola, Miska Tomé, Selito Espíndola que fizeram parte dessa história e viveram isso e trouxeram a perspectiva deles. Acabamos contando a história do bando a partir de momentos muito marcantes que fizeram parte da história da música em Mato Grosso do Sul, não só na voz do bando, mas na voz de outros músicos de MS”, destacou a diretora.

“Essas pessoas trouxeram histórias que contam partes da banda que são muito profundas, porque eles vivenciaram, como a tragédia com o primeiro vocalista [Alex Batata foi assassinado em um bar em Campo Grande, em 1997]. É uma narrativa de resistência real, uma perspectiva da história do rock em MS e uma forma de fazer cinema documental”, reforçou.

Influências

“Tenho como minhas inspirações principais a Marineti Pinheiro, que fez o documentário sobre a Delinha, ícone do nosso Estado e de artistas nacionais, como Emicida e Racionais. Também sofri influências de uma oficina que participei, com o diretor de cinema Yuri Amaral”, disse Dias.

A partir daí, a diretora compreendeu a usar a música como um processo de narrativa, onde ela serve para contar uma história. Além disso, o pesquisador e jornalista Clayton Sales também foi essencial para o projeto. “Ter ele no projeto enriqueceu muito porque ele trouxe também o seu olhar visual para gente criar uma narrativa envolvente e com ritmo”.

Deu tudo certo

Com o curta-metragem pronto, o que fica é o desejo de fazer com que as pessoas conheçam mais da música de MS, conforme Dias. “O que eu gostaria que as pessoas encontrassem com esse filme é uma porta de entrada para uma história que é muito maior e também se emocionasse, vivenciasse um pouco do que a gente vivenciou produzindo esse filme. Acho que os espectadores vão levar desse filme é um pouco mais de fé na música de gênero em Mato Grosso do Sul e um pouco mais de fé no cinema de guerrilha no interior do Brasil”.

Ela ainda aconselha: quem quer fazer cinema em MS precisa continuar, e mostrar a arte do Estado.

“O cinema ele é uma forma de mudar a forma de ver o mundo. Escrever esse projeto foi apostar num sonho. Acredito que quando a gente conta uma história e essa história nos afeta é porque ela está mudando a nossa forma de ver o mundo. “Antes de ser um filme, isso era um pedaço de papel e um sonho”, finalizou.

No Dia do Rock

O lançamento oficial do documentário será no sábado (13), Dia Mundial do Rock, às 19h, no Shopping Bosque dos Ipês. Será a principal atração da exposição “Rock Cine”, que estará localizada próximo à entrada A. O espaço instagramável destacará 10 grandes momentos do rock no cinema, uma secção com os elementos que compuseram a narrativa documental do “Noites em Claro” e o mapa mental elaborado pela diretora durante o processo de produção do curta-metragem que é sobre a história do Bando do Velho Jack.

A exposição estará aberta para visitação até o dia 30 de agosto no Shopping Bosque dos Ipês. As exibições do curta, por sua vez, acontecerão nos finais de semana.

 

Por Carolina Rampi

 

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