Projeto busca cruzar fronteiras e democratizar o acesso à cultura
O teatro segue como propagador da cultura para todos os públicos socioeconômicos e em 2025 não poderia ser diferente. A partir deste mês, o Grupo UBU retorna com seu viés itinerante e lança o projeto ‘Escambo UBU Fronteiras do Mato Sul’, uma travessia cultural por 12 cidades do país, fazendo das fronteiras pontos de encontro. O projeto chega a vida com uma proposta ousada: democratizar o acesso ao teatro em territórios onde a arte cênica nem sempre alcança – mas onde ela pulsa, espera, resiste.
‘Escambo UBU Fronteiras do Mato Sul’ foi contemplado pelo edital Rede das Artes – Programa de Difusão Nacional, da Funarte (Fundação Nacional de Artes), Bolsa Myriam Muniz de Teatro. A largada foi ontem (7) no Moinho Cultural, em Corumbá, cidade emblemática na borda entre Brasil e Bolívia, um território que respira diversidade cultural e, justamente por isso, foi escolhido como ponto de partida desta jornada. Nesta terça, (8), às 14h, o grupo realiza mais uma apresentação no Moinho.
“Serão 12 cidades na faixa de fronteira, onde a diversidade é celebrada e o teatro se torna um elo entre as tradições locais e a criação artística”, destaca Anderson Bosh, diretor do Grupo UBU.
Com um repertório que mistura humor, lirismo e crítica social, o grupo apresenta dois espetáculos ao longo do circuito: ‘Pelega e a Porca Prenha – Na Mata do Pequi’, uma fábula popular para todas as idades inspirada nos mitos do cerrado, e ‘Uma Moça na Cidade’, peça que narra as buscas e desencontros de uma jovem do interior. O projeto contempla ainda vivências com professores, artistas e agentes culturais, costurando arte, educação e sentimentos com o cotidiano da realidade local.
“A proposta é ir além da cena. O teatro não acontece só no palco — ele acontece na escuta, na conversa, no café depois da peça. Queremos criar trocas verdadeiras com cada comunidade que nos recebe”, explica Bosh.
Essa escuta atenta é parte da trajetória do Grupo UBU, que há décadas atua em cidades sem teatros convencionais, ocupando escolas, praças e centros comunitários. Para Edner Gustavo, ator e produtor do grupo, o projeto reafirma um compromisso antigo: o de levar o teatro onde ele é necessário, e não apenas onde ele é esperado.
“Circulamos no último ano pela fronteira Brasil-Paraguai, tecendo diálogos com as culturas locais. Agora, avançamos para novas fronteiras, reforçando o teatro como ponte, como possibilidade de pertencimento e encontro”, afirma Edner.
“O maior barato é o encontro com o público que, muitas vezes, verá uma peça de teatro pela primeira vez, porque a gente sabe as dificuldades das cidades mais distantes”, completa.
Em Corumbá, a presença do grupo dialoga diretamente com a proposta do evento “ABril Livro”, promovido pela Fundação da Cultura de Corumbá. A diretora-presidente da instituição, Wanessa Rodrigues, celebra essa intersecção de ideias e públicos.
“Conhecemos o trabalho do Grupo UBU, já renomado no Estado. Então, trazê-los para Corumbá, com foco nas cidades fronteiriças, casa com nossas diretrizes de formação de plateia, descentralização e ocupação dos espaços culturais. Tanto que a abertura do nosso evento ‘ABril Livro’ será com o grupo. Uma escolha pertinente que fizemos, pois assim atrelamos o público do UBU ao nosso. Sem contar que nossa identidade transfronteiriça nos orgulha, e a presença de alunos e professores da Bolívia reforça o intercâmbio cultural que é o objetivo primordial do projeto do UBU e, também, das nossas ações”.
Além de Corumbá, o projeto irá circular por Ponta Porã, Chapadão do Sul, Mundo Novo, Paranaíba, Aparecida do Taboado e Sonora (MS), e também por cidades de outros estados, como Rondonópolis (MT), Chapadão do Céu (GO), Terra Roxa (PR), São Sebastião do Pontal (MG) e Jales (SP). Uma verdadeira costura de territórios, histórias e afetos, onde a arte serve de fio condutor.

A Pelega e a Porca Prenha – Foto: Vaca Azul/Divulgação
Confira a sinopse das peças:
Uma Moça na Cidade
“Uma Moça da Cidade” é antes de tudo uma ode ao amor e um importante mecanismo de reflexão crítica sobre as relações humanas em tempos de discurso de ódio e intolerância de seus próprios dirigentes, bem como, é um ambiente de denúncia e investigação do universo de exclusão a que o povo “nordestino-sul-mato-grossense” foi submetido. Além disso, o espetáculo traz à tona, a força que o desejo e o amor têm na vida dos sujeitos, emergindo reflexões sobre como tais sentimentos, são capazes de mudar nossa realidade.
Pelega e Porca Prenha
“Pelega e Porca Prenha – Episódio: Na Mata do Pequi”, conta a aventura fantástica dos irmãos sertanejos: Pelega e Porca Prenha; que se envolvem numa intriga na mata do Pequi, entre a Boca de Sapo, o Curupira e a Pisadeira, personagens da cultura popular brasileira (folclore).
Com financiamento da Funarte, vinculada ao MinC (Ministério da Cultura), do Governo Federal, e apoio da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), da Setesc e do Governo do Estado, o projeto reafirma que o teatro não conhece muros – ele nasce para atravessá-los. Acompanhe a circulação e bastidores pelo Instagram (@grupoubu).
Serviço: Projeto “Escambo UBU Fronteiras do Mato Sul” – Funarte será realizado nesta terça-feira (8), às 14, no Moinho Cultural, Rua Domingos Sahib, n.º 300, Beira-Rio – Corumbá. Entrada Gratuita/ Classificação Livre
Por Carolina Rampi
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