3º Bonito CineSur fomenta o cinema latino-americano

Foto: Divulgação
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Festival Bonito CineSur reúne talentos do cinema latino-americano, promove debates, formações e exibe produções que refletem as realidades sociais e culturais da região

 

O cinema sul-mato-grossense ganhou vida nas últimas duas semanas com a realização de um dos maiores festivais de cinema da América do Sul: o Bonito CineSur. Realizado entre os dias 25 de julho e 2 de agosto, o evento movimentou a cidade de Bonito com uma programação extensa e variada. O jornal O Estado acompanhou de perto os dois últimos dias do festival, nos dias 1 e 2 de agosto, para prestigiar esse momento mágico da sétima arte e testemunhar o encerramento de uma edição memorável.

Ao longo de nove dias, o CineSur exibiu 60 filmes entre curtas, médias e longas-metragens, com produções recém-lançadas e estreias nacionais, incluindo animações e obras ambientais. A programação incluiu mostras competitivas e paralelas, como Longa-Metragem Sul-Americano, Filme Sul-Mato-Grossense, Sessões Infantojuvenis e Mostra Comunidade. Além das exibições, o festival promoveu oficinas de roteiro, produção e edição, seminários, rodas de conversa e debates que abordaram desde questões regionais e sociais até políticas públicas e os desafios do mercado audiovisual.

A reportagem conversou com cineastas de diversas partes do Brasil e da América do Sul, incluindo representantes do Paraguai, Uruguai e Argentina, além de talentos locais do Mato Grosso do Sul. Os diretores destacaram a importância do festival como vitrine para o cinema independente e como espaço de diálogo sobre a identidade cultural da região.

Cinema além do óbvio

Na manhã do dia 1º de agosto, o Bonito CineSur deu destaque à formação e ao debate crítico com uma programação intensa e diversa. A partir das 7h30, o CineSur Educa – Mostra Comunidade Sessão Infantojuvenil abriu o dia com exibições voltadas ao público jovem, promovendo o acesso ao cinema desde cedo.

Em seguida, às 8h, teve início a oficina “Do Roteiro à Realização”, conduzida pelo renomado diretor e roteirista Luiz Carlos Lacerda (RJ), uma imersão prática e teórica sobre o processo criativo cinematográfico, que se estendeu até o meio-dia. Paralelamente, às 9h, aconteceu o Cine Debate das mostras competitivas Sul-Mato-Grossense, Sul-Americana e Ambiental, com destaque para a análise do filme Enigmas do Rolê. A conversa foi conduzida pelos curadores Marcos Pierry e Ulísver Silva, que trouxeram à tona discussões sobre identidade, juventude periférica e o olhar negro no cinema.

O diretor Deivison Pedrê participou do debate da Mostra Competitiva de Filmes Sul-Mato-Grossenses no Bonito CineSur 2025, onde apresentou o filme Tempestade Ocre, elogiado pela proposta centrada na atuação e pela performance do ator Breno, para quem o roteiro foi escrito.

Além da exibição, Pedrê integra a equipe técnica de outros projetos no festival e revelou que já está em pré-produção de um novo trabalho: um especial de Halloween com quatro curtas-metragens, previsto para novembro deste ano. “É um filme feito para engrandecer a atuação, e o retorno do público mostra que conseguimos alcançar esse objetivo. Sobre o novo trabalho, já temos quatro roteiros prontos, e um deles já está em pré-produção. A ideia é lançar no fim do ano e seguir ampliando nosso trabalho no audiovisual sul-mato-grossens”, afirmou.

A atriz Shirley Cruz participou do debate após a pré-estreia de A Melhor Mãe do Mundo, último filme exibido na Mostra Competitiva de Filmes Sul-Americanos. Protagonista da obra, Shirley falou sobre os desafios físicos e afetivos do projeto, como puxar uma carroça de 400 quilos pelas ruas de São Paulo e construir uma relação genuína com as crianças do elenco, especialmente com a jovem atriz Rihanna, elogiada por sua performance complexa e emocional.

Shirley também destacou a troca intensa com as catadoras reais que inspiraram o roteiro, com quem mantém laços até hoje. “Meu principal objetivo era representar essas mulheres com dignidade e respeito. Esse filme é, pra mim, o resultado de um processo coletivo, marcado por afeto, preparo técnico e um profundo senso de responsabilidade social”.

A diretora Carmela Sandberg, do Uruguai e Argentina, compartilhou com a reportagem a inspiração por trás do seu curta-metragem ‘La Falta’, criado durante uma jornada em uma escola pública de Buenos Aires. O filme aborda uma situação crítica vivida por uma criança e destaca o papel acolhedor dos professores, que vão além da educação formal para atuar como verdadeiros pilares em contextos vulneráveis. “Uma oportunidade rara de conexão profunda com a natureza e com colegas que, assim como eu, lutam contra todas as dificuldades para contar histórias que transformam”.

Às 13h30 e 15h, o CineSur Educa – Mostra Comunidade recebeu exclusivamente alunos da rede pública municipal para a Sessão Infantojuvenil e o seminário Cinema, Políticas e Mercado. Destaque para a mesa “Coprodução Nacional e Internacional: Estratégias e Possibilidades”, com as convidadas Marina Reginato (Globo Filmes) e Lucia Silva (Salado Audiovisual, Uruguai), mediada pelo cineasta e professor Alfredo Manevy (UFSC).

Às 16h, o Bonito CineSur exibiu em sessão especial “Manas” (Brasil, 2024), dirigido por Marianna Brennand. Com 101 minutos de duração, a ficção acompanha Marcielle, uma adolescente de 13 anos que decide romper com o ciclo de violência que afeta as mulheres de sua comunidade ribeirinha na Ilha do Marajó. Presente na sessão, a atriz Fátima Macedo, que interpreta a mãe da protagonista, falou à reportagem: “A gente espera que ela, como mãe, saia dessa inércia de violência e pare de aceitar as agressões do marido com as filhas. Mas não é o que acontece.” Fátima também destacou o rigor da preparação para o papel, ressaltando que o roteiro é fruto de dez anos de pesquisa com mulheres da região.

Homem com H

A reportagem do Jornal O Estado conversou com Esmir Filho, diretor do recém-lançado filme Homem com H, que narra a trajetória do cantor Ney Matogrosso, durante sua participação no Bonito CineSur. Em sua primeira visita ao Mato Grosso do Sul, Esmir se mostrou entusiasmado com o festival e elogiou a estrutura e a curadoria do evento. “Achei muito lindo o espaço, a concentração dos eventos, os debates, os filmes. Estou vendo filmes que nunca vi no cinema, são muito lindos, estou gostando muito do festival”, afirmou o diretor.

Esmir Filho, diretor de homem com H – Foto: Isabelle Silva

Sobre a exibição do filme “Manas”, que assistiu recentemente, Esmir destacou a força da produção: “O filme é muito lindo, no sentido de trazer a verdade, fazer refletir sobre uma questão importante. A direção da Mariana Brennand é maravilhosa, ela sabe o que mostrar e o que deixar de lado, e o trabalho do elenco é incrível. É uma denúncia feita de forma cinematográfica, por isso o filme emociona tanto.”

Questionado sobre seu processo criativo, Esmir explicou que tudo começa de dentro para fora: “Eu assisto muitos filmes, isso vai formando meu olhar. Quando encontro uma história ou personagem, procuro entender o que em mim vibra nessa situação. Quero que o filme me emocione, que toque em algum lugar. O processo é muito interno, mas depois vira um trabalho coletivo, com equipe e tudo para levar a história para a tela”, destacou o diretor.

 

Por Amanda Ferreira

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