Explosão de sabores

(Fotos: Amanda Ferreira)
(Fotos: Amanda Ferreira)

Final da competição estadual SuperChef de Merendeiras aconteceu com participação de seis municípios no Senac da Capital

Muito mais que a “tia da cantina”, a merendeira de uma escola é a responsável por criar, naquele curto espaço de tempo do horário do intervalo, memórias afetivas entre alunos e professores de uma instituição, por meio dos mais deliciosos preparos. “A cada dia que a gente faz um prato com amor, enxergamos a felicidade no rosto dos alunos”, disse Sara Ramirez Aragão, do município de Miranda, que é uma das finalistas da competição SuperChef Merendeiras, evento promovido pelo Sebrae/MS, com objetivo de destacar o talento, cultura e criatividade dos manipuladores de alimentos das escolas públicas do Estado.

Na manhã de ontem (16), foi realizada a etapa estadual, com a avaliação dos pratos, preparados nas cozinhas do Senac Turismo e Gastronomia de Campo Grande. As participantes foram divididas em dois grupos para preparar e apresentar os pratos para uma bancada de jurados, compostos por Rafael Gomes, vencedor do programa MasterChef Profissional em 2018, a nutricionista da secretaria de Estado de Educação, Adriana Rossato Souza, a chef de cozinha e docente da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Míriam Arazini, e duas profissionais que atuam no Senac MS: Vera Krabbe, docente de Turismo e Gastronomia e Melina Ribeiro Fernandes, nutricionista e docente de Turismo e Gastronomia.

Segundo o Diretor de Operações do Sebrae, Tito Estanqueiro, a competição é um evento que envolve não apenas as merendeiras, mas toda uma cadeia de produção, desde cada município finalista. “O SuperChef Meredeira faz parte de um programa mais amplo, o Cidade Empreendedora, do Sebrae. Mas, é importante destacar, que o trabalho começa nos municípios, onde nutricionistas elaboram cardápios com as merendeiras. São ensinadas técnicas de manipulação de alimentos, de gastronomia e cozinha, então a escolhida de cada município disputa a finalíssima. Temos aqui a parceria com a escola de gastronomia do Senac, no qual a gente conseguiu dar toda uma infraestrutura para que elas possam desenvolver suas receitas da melhor forma e com qualidade”, explicou.

“É uma jornada muito grande que envolve desde a agricultura familiar no município, as nutricionistas que elaboram os cardápios e as merendeiras que desenvolvem os pratos. Muitas das nossas crianças tem como a merenda escolas a principal refeição do dia, e quanto melhor a refeição, maior será o rendimento escolar do estudante”, complementa.

Participantes

Aparecida do Taboado, Brasilândia, Deodápolis, Ladário, Miranda e São Gabriel do Oeste foram os municípios vencedores da etapa da municipal. Para a criação dos pratos, não foi permitido o uso de alimentos ultraprocessados. Além disso, foi preciso utilizar a carne bovina, suína, de frango ou de peixe como proteína principal e incluir, no mínimo, três itens da agricultura familiar previstos no edital.

Marilza Mendes de Souza, que apresentou o prato “Tilápia a moda pantaneira”, prometeu conquistar os jurados pelo estômago. “Eu adoro crianças, adoro o que faço, amo cozinhar. Estou na torcida para levar o primeiro lugar, e levar o troféu para a minha cidade”.

A representante de São Gabriel do Oeste, Mônica Moraes, chegou a final com a torta “Maravilha de Frango”, tirada e adaptada das receitas da própria mãe. “A torta eu como desde que eu sou criança. Eu cresci e vi a minha mãe fazendo. Só que você faz de uma maneira mais diferente em casa. Na escola a gente faz uma adaptação pela alimentação mais saudável das crianças, mas a torta em si eu cresci e vi a minha mãe fazer”, disse ao jornal O Estado.

Ela também destacou a importância dos alimentos saudáveis na merenda, mesmo que para inseri-los seja preciso “esconder” das crianças mais sistemáticas. “A gente utiliza as verduras, os hortifrútis que vêm para creche. A gente usa brócolis, espinafre, abobrinha, tomate, cebola, pimentão. Faço massas coloridas, de couve e beterrabas, e utilizo para eles poderem lanchar, porque eles ficam bem faceiros por ser colorido, eles acham que tudo é brincadeira. Você rala para dar uma escondidinha, você faz uma sopa, porque daí ela cozinha até desmanchar, você sempre procura fazer alguma coisa, você sempre brinca com eles que tem que comer porque é colorido, para ficar forte, porque se não crescer, vai ficar fraquinho e assim eles vão indo”.

As outras finalistas foram Keila Querina de Jesus, de Aparecida do Taboado, com o prato “Arroz nutritivo com filé de tilápia em molho salada primavera”; Bia de Lima Doó, de Brasilândia, com o prato “Arroz temperado com a farofa da Tia Bia” e Marta Soares, de Deodápolis, com o prato “Galinhada nutritiva”.

No momento da competição, havia regras específicas para as cozinheiras, como não utilizar o fogo alto, todos os ingredientes eram separados conforme o prato inscrito, e o mais importante, não poderia haver desperdício após a comida pronta. Um chefe estagiário do Senac, Paulo Alves, era responsável por monitorar os preparos, juntamente com os jurados, que acompanhavam cada etapa.

Nome de peso

Um dos principais destaques da banca de jurados era o do chefe Rafael Gomes, vencedor do programa “MasterChef Profissionais” de 2018. Formado em gastronomia pelo Institute of Culinary Education, em Nova York, o renomado chef é destaque no setor, principalmente, pelo domínio técnico e criatividade. Em 2023, ele foi eleito Chef do Ano, segundo o Prêmio Comer & Beber, da Veja Rio.

Para o profissional, a alimentação saudável precisa ver desde a primeira infância. “Eu acho que a alimentação é inserida de berço, quando você começa a comer bem desde novo, há uma tendência de ter uma saúde muito melhor, ser mais saudável. Então, é não privar as crianças do que é bom, do que é gostoso de comer, mas também o que é bom para o corpo, de forma que elas aceitam uma alimentação saudável da melhor forma possível. É sempre tentar extrair o máximo de sabor dos alimentos, usando menos produtos processados”, afirmou em entrevista ao jornal O Estado.

chefe Rafael Gomes, vencedor do programa “MasterChef Profissionais” de 2018 (Foto: Amanda Ferreira )

Ainda segundo Gomes, é preciso investir primeiramente no sabor para as crianças, já que o visual pode ser um empecilho para o consumo de alimentos mais saudáveis e nutritivos.

“É importante saber que se você cozinhar bastante a abóbora, ela fica docinha, é saber que a criança não gosta de ver o verde dos alimentos, mas é possível bater a couve com o feijão e beterraba, e extrair o sabor, mas não necessariamente deixar que o visual influencie no que ela quer ou não comer. Eu acho que as merendeiras têm um papel muito grande em suprir essa parte da alimentação, porque muitas crianças não têm tanto alimento saudável em casa, mas é a merenda é o que faz que a alimentação delas seja mais nutritiva.”, disse.

A nutricionista do Sebrae e também jurada da competição, Melina Fernandes, reiterou a importância desse tipo de alimentação para crianças. “Esse tipo de alimentação é de extrema importância para as crianças, porque muitas vezes é a única refeição que a criança tem no dia, ela necessita de uma alimentação balanceada, equilibrada, com ingredientes que não são ultraprocessados, mais natural possível. Isso ajuda em todo o desenvolvimento cognitivo, físico, neurológico”.

 

Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi

 

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