Espetáculo ‘Depois que a luz apaga’ estreia na Capital com elenco cego

Ensaio espetáculo ISMAC - Foto: arquivo pessoal
Ensaio espetáculo ISMAC - Foto: arquivo pessoal

Com representações das vivências, peça terá três apresentações nesta semana

 

Estreia nesta quarta-feira (24), às 19h, o espetáculo teatral ‘Depois que a luz apaga’, com grupo de atores cegos, que representarão, de forma autêntica, as vivências e desafios enfrentados pelos próprios atores. A apresentação será no Instituto Sul Matogrossense para Cegos Florivaldo Vargas (ISMAC).

A atuação fica por conta de Marelija Zanforlin, Jefferson Messias, Luiz Alberto, Nivaldo Santos e Monique Lopes, que trarão cenas do seu dia-a-dia, desafiando preconceitos sobre suas habilidades e mostrando seu cotidiano. O espetáculo é resultado de uma oficina no próprio ISMAC.

A direção e dramaturgia é de Alexandre Melo, que desenvolveu seu trabalho por meio dos relatos e experimentos, com movimentações inspiradas em pinturas, esculturas, fotos e imagens famosas e marcantes, como, por exemplo, a pintura de ‘Mona Lisa’ de Leonardo da Vinci e a pintura ‘Os Operários’ de Tarsila do Amaral.

Para o jornal O Estado, o diretor da peça comentou que já conhecia o ISMAC por meio de um familiar, que também o questionou sobre a falta de acessibilidade em peças de teatrais. “Eu conheço o ISMAC através do meu tio Delci, ele tem deficiência visual e sempre frequentei o espaço com ele. Também sou ator e comentava com meu tio sobre os trabalhos que fazia, e ele questionava o fato de não poder estar incluso, de não ter audiodescrição, e com isso, sempre quis fazer algo para poder incluí-lo”, recordou Melo.

EM 2022, por meio de um patrocínio do Instituto Cultural Vale, o diretor conseguiu montar um espetáculo sensorial com atores cegos, onde surgiu seu primeiro contato dirigindo pessoas com deficiência. “Me encantei com esse universo, é algo diferente, estimulante, sempre fala que sinto que faltava esse desafio na minha carreira quanto artista”, disse.

Processo

Segundo Melo, mesmo com os desafios, os resultados são gratificantes. “A direção sempre dá um pouco de trabalho, é diferente trabalhar com deficientes visuais. Com pessoas videntes você mostra como é fazendo, já com eles isso não funciona, você precisa descrever o que está querendo, e muitas vezes repetir e repetir de diversas formas até ter um entendimento do conjunto, mas no final o resultado é gratificante”, explicou. “Já a peça foi criada por histórias trazidas pelos próprios atores, eles criaram cenas durante a oficina do qual demonstrava fatos do seu cotidiano, coisas do qual as pessoas que enxergam pensam que eles ‘cegos’ não façam, esse foi o estímulo para a criação. Depois eu peguei esses trabalhos apresentados por eles e criei a dramaturgia baseado nessas histórias. Trabalhamos também com imagens, representação de imagens famosas, como, por exemplo, a pintura os operários de Tarsila do Amaral, eu descrevi a imagem para eles e eles se deslocavam em cena conforme a imagem descrita, foi interessante esse processo”, completou.

Inclusão

Mesmo tendo frequentado o Instituto e ter um familiar tão próximo com a deficiência, o trabalho não foi fácil. “Eu vivi a vida toda com meu tio, e o que percebi é que ele se adaptou a nossa realidade familiar. Quando fui trabalhar com eles pensei ‘tenho a experiência com meu tio, vai ser moleza’; que nada, foi ali que vi que não sabia nada”, destacou Melo.

Ainda na opinião do diretor, a inclusão está se tornando mais frequente, porém ainda há muito chão a se percorrer. “Isso leva tempo”, reiterou. “Mas ainda, o que tona o grande empecilho é a dificuldade, principalmente na comunicação. Tanto que ouvi deles na primeira vez foi ‘você vai começar e não vai continuar, porque dá muito trabalho’. Outra questão é a mão de obra, temos na cidade apenas uma pessoa que trabalha com audiodescrição, e para não ficar preso e dependente apenas de uma única pessoa, fui até São Paulo fazer um curso de audiodescrição para conseguir incluir nos meus projetos”.

Serviço

Serão três apresentações do dia 24 a 26 de julho, às 19 horas e com acesso gratuito. O espetáculo contará com intérprete de libras e audiodescrição inclusa na dramaturgia, garantindo uma experiência inclusiva para todos os públicos, no Auditório do ISMAC, rua 25 de dezembro, 262, Centro.

 

Por Carolina Rampi

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