Projeto de teatro oferece espetáculos, oficinas e mesas públicas no mês de maio com grupos de SP, AM e PA
Segundo o dicionário de língua portuguesa, ‘Escambo’ significa a troca de bens ou serviços sem uso de moeda. E por que não utilizar o sistema na arte? Com peças de todo o Brasil, o projeto ‘Escambo: Rede Parente’ traz teatro a Campo Grande em todo o mês de maio, com espetáculos, oficinas e mesas públicas. A programação acontece todos os sábados e domingos de maio.
Após cruzar Belém e Manaus, o projeto pousou em Campo Grande no último fim de semana, onde o grupo teatral Fulano di Tal foi o anfitrião, com apresentação da peça ‘A Fabulosa História do Guri-Árvore’, oficina ‘Lugar de Ser Bocó – Criando Histórias com Objetos do Nosso Quintal’ e a mesa pública ‘O Teatro Popular a partir da Estética Poética de Manoel de Barros’, de forma gratuita.
A estreia da etapa-sul-mato-grossense do projeto trouxe para o palco peça inspirada no cerne e solo fértil da poesia de Manuel de Barros. O espetáculo foi, inclusive, selecionado este ano para a 27ª edição do Palco Giratório do Sesc.
‘Escambo: Rede Parente’ é uma realização da Cia Cisco (SP), idealizada por Edgar Castro e Donizeti Mazonas, com financiamento da Funarte, via Bolsa Myriam Muniz de Teatro.
“O Edgar nos encontrou por meio do Festival América do Sul. Coincidência feliz que virou convite, sonho e, agora, realidade”, lembra Marcelo Leite, diretor do Fulano di Tal. “Ficamos encantados com o projeto desde o início. Circular com o Guri-Árvore pelo Brasil era um desejo antigo — e receber esses grupos incríveis, aqui, é um presente”.
Quanto à escolha do espetáculo, Marcelo é direto. “‘O Guri-Árvore’ traz a nossa identidade. Livremente inspirado em Manoel de Barros, mas também homenageando Conceição dos Bugres, Lídia Baís, Wega Nery e Maria da Glória Sá Rosa. Era natural levar as histórias do nosso quintal e nossa essência a outros cantos do País”.

Guri Árvore – Foto: Andre Lorenzoni/Divulgação
Abrir os trabalhos
Para Marcelo Leite, a etapa Campo Grande do projeto começou com o ‘pé direito’. “Neste fim de semana rolou na sede do Fulano di Tal a oficina e no sábado e domingo fizemos duas sessões do espetáculo, com casa cheia e um público acolhedor. Foi uma experiência incrível iniciar o projeto por aqui. Agora esperamos todos para os próximos espetáculos, oficinas e mesas públicas”, destacou.
Com um cenário cultural ainda muito centrado em locais como Rio de Janeiro e São Paulo, o diretor entende que o projeto é essencial e deveria servir de exemplo para outros coletivos. “A Cia Cisco de SP convidou 2 grupos dos Norte e 1 do Centro-Oeste para que a arte destas regiões possam ser vistas por mais gente. Achamos de fundamental importância essa proposta de descentralizar do eixo Rio-São Paulo, mostrando também as potencialidades de outras regiões do Brasil”.
“O projeto Escambo representa um primeiro passo firme rumo à descentralização do cenário teatral concentrado no eixo Rio-São Paulo, mas seu impacto depende da continuidade e de uma análise crítica desta primeira edição para que novos avanços possam ser planejados e implementados”, reforça o idealizador.

Huma – Foto: Robert Coelho/Divulgação
Encontros
Na próxima semana, dias 10 e 11, será a vez de ‘Com os Bolsos Cheios de Pão’, da Cia Cisco (São Paulo–SP). Nos dias 17 e 18, será apresentado ‘HUMA/’, de Francisco Rider e Ly Scantbelruy (Manaus–AM). Encerrando o mês, dias 24 e 25, o público poderá conferir ‘MOMO – Um ato poético para testemunhas’, do Grupo Usina (Belém–PA).
“Somando as estradas percorridas pelos grupos, já ultrapassamos 10 mil quilômetros entre São Paulo, Belém, Manaus e Mato Grosso do Sul. Mas são as distâncias simbólicas que mais me tocam — essas, creio, são infinitas”, afirma Edgar Castro. “Até agora, realizamos 24 atividades em Belém e Manaus e já ultrapassamos mil pessoas de público. Mas sei que o impacto é muito maior: é o que ecoa depois, nos ensaios, nas salas de aula. Nosso alcance vai além do que a matemática fria pode medir”.
Conforme Castro, o termo ‘rede parente’ busca ativar as semelhanças entre si, mesmo com as diversidades, fortalecendo a colaboração e ampliação dos horizontes.
“O isolamento nos enfraquece. O pacote oferecido pelo mercado cultural é restritivo. Nesse sentido, nossa rede parente deseja ser a semente para a abertura de outras frentes de existência, e a participação propositiva dos coletivos que a formam torna-se um exercício de sociabilidade capaz de materializar alternativas de mundo”.

Momo – Foto: Octavio Cardoso/Divulgação
Participações
Entre as vozes que chegam, está também a do Grupo Usina (Belém/PA), com “MOMO – Um ato poético para testemunhas”. Solo protagonizado por Alberto Silva Neto, traz cartas trocadas entre pai e avô do artista — um misto de ancestralidade masculina e conflitos geracionais, entre choro e cura.
“Um aspecto importante é que ‘MOMO’ é uma criação do norte do Brasil, de um teatro amazônico que não se encaixa no exótico. Cria-se a possibilidade de contato com uma obra que sai do enquadramento regionalista”, diz Alberto. “Estou com uma expectativa enorme de ver como a diversidade estética dos quatro coletivos será recebida em Campo Grande”.
De Manaus, chega também o premiado “HUMA/”, de Francisco Rider e Ly Scantbelruy. A preparadora de elenco da Cia, Koia Refkalefsky compartilha nuances da obra e destaca a emoção de integrar o projeto. “O nome do espetáculo vem de humanidade. A personagem enfrenta dilemas da existência, resistência e minorias. E, estar em um novo lugar nos enche de responsabilidade, especialmente após receber, de Campo Grande, o presente que é a montagem do ‘Guri-Árvore'”.
“É um trabalho de formiga, a médio e longo prazo. Daí a necessidade da continuidade de ações como a do projeto Escambo. Se as oficinas e mesas públicas do projeto Escambo conseguem colaborar de alguma forma para a fertilização desse caminho, já nos damos por satisfeitos. O retorno que temos tido sinaliza que estamos no caminho certo, sem idealismos, mas com a certeza de que é um bom caminho, um caminho que vale muito a pena”, finaliza Castro.
Escambo: Rede Parente conta com financiamento da Funarte, ligado ao MinC- Ministério da Cultura, com apoio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Setesc, Governo do Estado e Estação Cultural Teatro do Mundo.
Confira a programação:
* A Cia Cisco, de São Paulo (SP), apresenta o espetáculo Com os Bolsos Cheios de Pão nos dias 10 e 11 de maio (sábado e domingo), às 20h, na Estação Cultural Teatro do Mundo (Rua Barão de Melgaço, 177 – Centro). No dia 11, domingo, também serão realizadas a oficina A Escuta do Corpo, das 9h às 13h, e a mesa pública O Trabalho do Intérprete Teatral como Ofício, das 17h às 19h.
* Francisco Rider e Ly Scantbelruy, de Manaus (AM), apresentam o espetáculo HUMA/ nos dias 17 e 18 de maio (sábado e domingo), às 16h, com ponto de encontro na Estação Cultural Teatro do Mundo (Rua Barão de Melgaço, 177 – Centro). No dia 17, sábado, às 17h, ocorre a mesa pública Corpocidade / Dinâmicas em Via Dupla no mesmo local. Já no dia 18, domingo, das 9h às 12h, será realizada a oficina Corpo Cidade Performance: Como a Pessoa-Cidadã se Relaciona com sua Cidade? no Espaço Fulano Di Tal.
* O Grupo Usina, de Belém do Pará (PA), apresenta o espetáculo MOMO nos dias 24 e 25 de maio (sábado e domingo), às 20h, no Espaço Fulano di Tal (Rua Rui Barbosa, 3099 – Centro). No dia 24, sábado, das 9h às 12h, acontece a oficina A Carne da Palavra, e no dia 25, domingo, das 10h às 12h, será realizada a mesa pública Pachiculimba, uma Encenação Contra-Hegemônica, ambas no mesmo local.
Interessados em acompanhar o projeto ou obter informações sobre oficinas e mesas públicas devem acessar o Instagram @projetoescamboredeparente. Gratuitas, as vagas são limitadas e podem ser garantidas pelo formulário online: acesse aqui.
Por Carolina Rampi
Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook e Instagram