Documentário revela o contraste entre a beleza e os desafios na conservação das árvores da Capital

Foto: Instagram
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Curta-metragem “Em Cantos Verdes”, será exibido nas escolas públicas até sexta-feira (21)

 

Campo Grande, reconhecida por sua exuberante vegetação, que inclui ipês, flores e diversas plantas, também se destaca por abrigar 65% do Pantanal em seu território no estado de Mato Grosso do Sul. Por conta de sua rica flora, a cidade é mundialmente celebrada como a “Cidade das Árvores”. Em meio a todo esse verde, a diretora Lu Bigatão convida o público a explorar a imensidão de árvores no curta-metragem “Em Cantos Verdes”, que retrata a vegetação de Campo Grande e está em circulação nesta semana pela Capital.

O filme é um produto da Deslimites Teatro e a abordagem escolhida no documentário foi ouvir a voz dos moradores e dar protagonismo àqueles que convivem diretamente com as árvores no cotidiano de Campo Grande. Entre os depoimentos, está o de Conceição Leite, que mora em frente a uma praça e auxiliou a arborizá-la, compartilhando sua experiência de viver ao lado da natureza.

Cristina Medeiros e Arlindo Fernandes também falam sobre a importância de manter um quintal verde, evitando o uso excessivo de cimento e incentivando o cultivo de plantas. O filme ainda conta com a participação de Fernando Cruz, ator e professor, que, como ciclista, circula pelos parques da cidade e destaca a relevância das árvores para quem se desloca de bicicleta.

A ausência da vegetação é o problema dos moradores de uma área de ocupação, como conta Marilza Silva uma das entrevistadas. A professora Sueli Levandoski Paroni reúne seus alunos em uma praça, para falar o que as crianças esperam do futuro. O viveirista Nereu Rios chama atenção para a importância das áreas verdes, para amenizar o clima, alimento para a fauna, para preservação dos córregos e para o bem-estar das pessoas.

O fotógrafo Wilmar Carrilho, com seu olhar atento à vegetação urbana, também participa no filme e mostra sua visão sobre a relação dos moradores de Campo Grande com o verde que permeia a cidade. Reconhecida por sua beleza natural, a capital sul-mato-grossense é, há seis anos consecutivos, detentora do título de “Tree City of the World” (“Cidade Árvore do Mundo”), concedido pela FAO/ONU (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), consolidando-a como uma das cidades mais arborizadas do planeta.

O lançamento aconteceu ontem (19), na E.E. Padre Franco Delpiano, no São Julião, com sessões às 9h30 e 15h30. Mas o filme terá outras duas exibições: no dia 20 de março, na E.M. Plínio Mendes dos Santos (Guanandi), às 19h30 e no dia 21 de março, na E.E. Maria Eliza Bocayuva Correia da Costa (Vila Margarida), às14 horas.

Verde, que te quero Verde

Em entrevista ao Jornal O Estado, a diretora Lu Bigatão explicou que a escolha do tema “árvores” para o documentário veio naturalmente devido à sua longa experiência no cultivo e preservação das plantas, juntamente com seu companheiro, Nereu Rios, que mantêm um viveiro de mudas há mais de 30 anos. Com diversos documentários sobre o tema e um canal no Instagram, “Árvores e Rios”, Lu destacou que o recente reconhecimento de Campo Grande como uma das cidades mais arborizadas do mundo foi um motivador para aprofundar a relação da cidade com suas árvores.

“Apesar do título, as árvores não estão distribuídas de maneira equilibrada. Enquanto o Parque Prosa, por exemplo, abriga milhões de árvores e há diversos parques e áreas verdes espalhados pela cidade, muitos bairros ainda apresentam uma escassez significativa de vegetação. Embora haja um excesso de árvores, elas estão concentradas em algumas regiões, o que revela a falta de um trabalho mais harmonioso”, explica a diretora.

No documentário também são ouvidos moradores de uma ocupação, onde a falta de árvores torna a vegetação essencial como abrigo e proteção. A voz indígena de Gleycielli Nonato, da etnia Guató, traz a visão dos povos originários na preservação ambiental.

“Para essas pessoas, as árvores representam mais do que apenas um elemento da paisagem, elas funcionam como um abrigo, proteção e até mesmo uma casa, oferecendo um mínimo de conforto em barracos de lona e sem estrutura adequada”, destaca.

A conscientização é essencial para preservar as árvores existentes e plantar novas onde há escassez. A diretora Lu Bigatão destaca que muitas árvores passam despercebidas na correria diária, sendo vistas apenas em momentos específicos, como a florada dos ipês. O objetivo do filme é mostrar a singularidade de cada árvore, valorizando sua importância para o equilíbrio urbano e ambiental.

“No passado, era comum matar animais como as onças sem restrições, mas hoje isso é crime. Com as árvores, ainda não atingimos esse nível de conscientização; as pessoas podem derrubá-las impunemente. No futuro, acredito que vamos enxergar as árvores como seres vivos que merecem respeito e um espaço próprio”, reflete Lu.

Cantos verdes está em Volta

A produtora Fernanda Kunzler, em entrevista à reportagem, explicou que durante a pré-produção do documentário foi feito um levantamento das árvores que representam a identidade de Campo Grande. Foram identificadas áreas devastadas pelo desenvolvimento habitacional, onde árvores centenárias, como mangas e ipês, foram derrubadas sem preservação.

“As percepções de cada um/a embora façam reflexões distintas de suas experiências com o meio ambiente/árvores/cidades, no fim convergem na necessidade de conservar o meio e retomar urgentemente os plantios e preservação”, destaca.

As entrevistas proporcionaram experiências intensas, trazendo reflexões sobre a cidade e a relação com o meio ambiente, algo que ela não havia considerado antes. Ela destacou que as urgências do cotidiano muitas vezes nos impedem de perceber a importância das árvores.

“Cada pessoa entrevistada no filme traz suas percepções e suas visões da cidade e do meio em que elas vivem. São pessoas que percebem e se percebem nesse lugar. E possuem ideias e opiniões sobre a cidade que são muito pertinentes, abrindo portas para a gente escolher outras possibilidades e reflexões a respeito da cidade”.

O documentário, com 15 minutos de duração, é uma realização da Deslimites Teatro e Cinema, dirigido pela jornalista e diretora de teatro Lu Bigatão Rios, com roteiro de Rosiney Bigattão, edição de Carlos Diehl, produção Fernanda Kunzler, narração Gleycielli Nonato e direção de fotografia e imagens de Israel Miranda. Foi produzido com recursos da Lei Paulo Gustavo, Governo Federal, através da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Campo Grande.

 

Amanda Ferreira

 

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