Publicação é lançada em meio às celebrações do aniversário de 125 anos da cidade
Quais são as transformações que ocorrem quando uma cidade é escolhida para se tornar capital de estado? É isso que analisa a historiadora Lenita Maria Calado no livro ‘A Invenção de Campo Grande Capital’, que foi elaborado baseado em sua tese de doutorado, defendida em 2018 pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), e está sendo lançado agora em meio às comemorações do aniversário de 125 anos de Campo Grande. “Este livro teve início na intriga, que deve ser o motivo do trabalho de todo historiador. E o que me intrigava era: como Campo Grande se inventava como capital, desde o dia da divisão do estado de Mato Grosso e a criação de Mato Grosso do Sul, fato que havia lhe dado o título de capital?”, conta a historiadora.
Lenita não era estranha as pesquisas sobre Campo Grande, já tendo feito um trabalho sobre a Feira Central durante seu mestrado, o que a inspirou para a realização de mais pesquisas sobre a história da cidade, divisão do Estado e sua transformação em Capital.
Para analisar essas transformações, foi necessário escolher um objeto, não a cidade como um todo, mas um lugar que a retratasse em vários momentos. E a escolhida foi a Praça Ary Coelho, localizada na Rua 14 de Julho. “Eu tinha que ter um objeto que me levasse à população da cidade, às pessoas, e achei que a praça seria interessante, pois ela acompanhou todas as transformações, como fonte e objeto da história da cidade ao longo do tempo”, detalha Lenita. Ela conta que há registros que a praça surgiu como um cemitério, em 1872, que foi transferido para onde hoje é o Cemitério Santo Antônio, e recebeu a denominação de praça em 1909.
Depois de sua construção como ‘passeio público’, a Praça Ary Coelho acompanhou várias transformações de Campo Grande, já teve casa de chá e recebeu apresentações de orquestras no coreto, foi lugar de encontro da alta sociedade, foi um lugar esquecido e vigiado, durante a ditadura militar, foi ocupada pelo movimento das Diretas Já, e passou por sua última reforma em 2013, quando foi revitalizada, cercada por grades e passou a ter horário de funcionamento. “As transformações por quais ela passou, ao longo do tempo, foram reflexos das transformações da cidade. Assim, pôde-se entender o que fez Campo Grande se inventar como capital e como as relações de poder na Praça Ary Coelho representavam esse processo contínuo que se estende até os dias atuais”, comenta a autora.
A escolha
No livro, Lenita investiga as transformações que envolveram Campo Grande ao deixar de ser interior e passar a ser capital de um novo estado, uma mistura de tradição e de modernidade. “Campo Grande foi escolhida porque era a segunda maior cidade do estado de Mato Grosso uno e estava no meio da região que seria Mato Grosso do Sul, mais distante das fronteiras. Aqui tem o Comando Militar do Oeste, o comércio é maior. As transformações maiores foram as ondas migratórias, que aumentaram com a divisão, o crescimento da população, a modernização dos comércios, que culminou na construção do primeiro shopping, a verticalização, o prolongamento das avenidas, a construção do Parque dos Poderes, mas principalmente o imaginário, o próprio olhar das pessoas mudou, do que era o modo de se viver em uma capital”, resume.
Foi por meio dessa migração, citada pela autora, que Campo Grande se tornou um local miscigenado culturalmente. “Por conta da migração, cada um trouxe um pouco de sua cultura, então não existe uma identidade fixa, existe uma formação de identidades, ou seja, o campo-grandense não pode ser limitado, e sim formado pelo contato de várias culturas de vários lugares. História é liberdade, quando você conhece a história ela te liberta de conceitos que te limitam, você olha as coisas de um jeito mais aberto, mais amplo, então entender que a história de Campo Grande é diversa é muito mais interessante que ficar tentando colocar em uma só caixinha”, explica.
“Existiu uma ruptura, a criação do estado, mas só ela não determinou o futuro, por isso o que está para além dessa ruptura foi o que me interessou. A história é assim, ela nos constitui, nos forma, nos deixa vivos, e quando você conhece a história ela te liberta de conceitos que te limitam, então entender que a história de Campo Grande é diversa é muito mais interessante que ficar tentando colocar em uma só caixinha”, finaliza a historiadora.
Serviço:
O livro “A Invenção de Campo Grande Capital”, da historiadora e escritora historiadora Lenita Maria Calado, publicado pela Life Editora, está sendo vendido com frete grátis no site da editora (lifeeditora.com.br/loja/produto/a-invencao-de-campo-grande-capital/), na Amazon (amazon.com.br/Inven%C3%A7%C3%A3o-Campo-Grande-Capital/dp/6558875233/) ou diretamente com a autora, pelo telefone (67) 99648-8001.
Por Carolina Rampi
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