Curta ‘Sou eu quem queima na noite’ terá exibição especial no MIS em parceria com Casa Satine

Foto: Divulgação
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Serão cinco sessões com rodas de conversa e debate

 

O cenário do audiovisual independente em Mato Grosso do Sul segue em expansão. Em 2024, 145 projetos foram aprovados com recursos da Lei Paulo Gustavo, conforme a Fundação de Cultura, refletindo avanços na produção do cinema local. Nesse contexto, o MIS (Museu da Imagem e do Som) receberá do dia 17 a 21 de fevereiro uma programação especial, com o lançamento do filme ‘Sou Eu Quem Queima na Noite’, além de exibições e rodas de conversa com grupos e coletivos da área.

No drama, René revive memórias de sua vida com a amiga/interesse romântico Ester. Com o apoio de Elena, seu braço direito, eles realizam um último desejo da amiga que se foi. O projeto é financiado pela Lei Paulo Gustavo e viabilizado pela Prefeitura Municipal de Campo Grande, por meio da Secretaria Municipal de Cultura.

As exibições são realizadas em parceria com a Casa Satine, ONG de Campo Grande fundada em 2018 com a ideia de funcionar como uma república de acolhimento às pessoas LGBTQIAP+. Atualmente ela também oferece atendimento psicológico e psiquiátrico e orientação jurídica, de forma online e gratuita, além de promover eventos focados na comunidade, campanhas de doação de alimentos e entregas de cestas básicas.

Inicio e gravações

Antes de ser aprovado na Lei Paulo Gustavo, o curta nasceu de um projeto de conclusão de curso, como relembra o diretor e roteirista Bernardo Balsani, em entrevista ao jornal O Estado.

“O filme surgiu com o nosso TCC [Trabalho de Conclusão de Curso] da faculdade, em 2022, éramos um grupo de quatro pessoas, cada um responsável por um dos cargos principais do filme. O roteiro e a direção ficaram na minha mão e o que tinha em manter era uma ideia totalmente diferente do que se tornou, principalmente devido ao recurso”, comenta. Segundo ele, o projeto inicial era um estilo de filme road movie, porém os gastos seriam intensos, o que mudou o cerne do filme, sendo apresentado como projeto no curso de audiovisual do grupo, como primeira versão.

“Porém, na semana da defesa em 2023, descobrimos que fomos selecionados na Lei Paulo Gustavo. Foi uma loucura, um misto de emoções, conseguimos pagar todo mundo que tinha participado voluntariamente do filme lá atrás. Mas o desespero bateu quando eu vi que tínhamos um filme de 27min e precisávamos enquadrar ele num tempo máximo de 15min para o edital. Então acho que posso dizer que depois de muitas alterações no roteiro, novas cenas que gravamos no ano passado, temos um filme quase novo, apesar de que os dois falam sobre o mesmo tópico no final das contas”, relembra.

Antes do recurso, o diretor relembra os ‘perrengues’ do processo de filmagens. “As gravações foram bem caóticas. Tínhamos muitas cenas externas e a previsão do tempo não foi nossa melhor amiga”, relembra. Mas com o recurso e outras parcerias, o trabalho deu um ‘up’. “Dessa vez com os recursos foi muito mais tranquilo. Gravamos em vários lugares da cidade, no Parque dos Poderes, na Praça do Rádio, no centro, em locais privados que foram parceiros na hora de disponibilizar seus espaços como a Casa de Ensaio e o Terraço Quebra-Torto. Para mim era importante a relação desses personagens com diferentes espaços da cidade”.

Temas

Com uma carga emocional que cerca René, Ester e Elena, o diretor acredita que a relação do trio é um dos pilares do filme, em uma trama que além de descobertas, traz a construção de um relacionamento, reflexões e memórias.

“Os três eram inseparáveis. O curta reflete um momento bem difícil de perda que coincidiu com o momento de escrita desse projeto, então me inspirei muito em memórias de relações minhas com amizades, o que era um pouco doloroso na época. Acabamos abrindo nosso casting enquanto o roteiro ainda estava em construção e foi a melhor escolha que poderíamos ter tomado. Gabriel, Isa e Gal, nosso elenco, trouxeram tanta carga e ideias, eles só ajudaram a trazer mais vida e complexidade para cada um desses personagens, sou muito orgulhoso desse trabalho em equipe que fizemos juntos”, reflete.

Questões como a perda e desejos não realizados também são abordados no curta. Bernardo pontua que esse tipo de tema universaliza o projeto, pois aproxima o público do filme.

“Não digo que é o meu objetivo tocar nas feridas, mas acredito que o cinema é bem-sucedido quando ele toca em algum lugar de quem vê, quando causa algo. Tudo nesse filme foi pensado com muito carinho e detalhe para ficar de alguma forma guardado no coração ou memória de quem tiver disposto a ver. Antes de vir de um lugar de dor, ele vem de um lugar de amor, e acho que esse é o pilar do filme”.

Outro tema que Bernardo destaca é o do luto. “Todo o filme tem esse tema assunto como central. Quem teve a oportunidade de ver a nossa primeira versão, vai ver que essa nova é muito mais direta. O René é um personagem que esta passando por um momento difícil, a perda de alguém muito importante, e o filme é sobre isso, sobre como esse personagem se sente. É muito sobre como eu me senti lá na época também”, contempla.

“É até um pouco vulnerável de mais da minha parte, pensei nisso muitas vezes enquanto escrevia, mas graças a Deus eu tive o Gabriel comigo, nosso protagonista, que além de trazer muita força para o texto, me ajudou a afastar ele um pouco dessa área extremamente autobiográfica em que o texto se encontrava. A Elena vem como um ombro amigo, um suporte, apesar de também estar passando pela situação”.

Programação

Com uma semana de exibições de curta, cada sessão será encerrada com rodas de conversa abertas ao público, para promover um espaço de troca e reflexão. As discussões terão como foco tanto os aspectos técnicos da produção do filme, como os detalhes artísticos, além de comentar os temas centrais abordados na obra e que dialogam diretamente com as vivências LGBTQIAP+. “A presença de convidados especiais, incluindo membros da equipe do filme, atores e representantes da Casa Satine, proporcionará diferentes perspectivas sobre o processo criativo e a relevância social do curta”, pontua Bernardo.

“Projetos como Sou Eu Quem Queima na Noite são fundamentais para o fortalecimento do cinema independente em Mato Grosso do Sul, pois ampliam a diversidade de narrativas e vozes dentro do cenário audiovisual local. Além de oferecer visibilidade a histórias e personagens que muitas vezes não encontram espaço na grande mídia, fomentando a cultura e a reflexão crítica. Produções independentes como essa demonstram o potencial criativo da região e incentivam novos realizadores a explorarem diferentes formas de contar histórias”, finaliza.

 

Por Amanda Ferreira e Carolina Rampi

 

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