Álvares de Azevedo descreve em sua obra “Macário”: “A vida é só a vida! Mas é uma vida tumultuosa, fervente, ansiosa, às vezes até sanguinária. Esse é o drama”. Agora, esse drama profundo ganha nova vida no curta-metragem escrito e dirigido por Felipe Feitosa, produzido pela Boca Filmes, que estreia neste domingo (25) no Teatro Glauce Rocha.
O curta-metragem adapta o universo de Álvares de Azevedo para as telas, explorando a jornada de um homem desajustado em bares noturnos de Campo Grande. A obra mistura elementos dos séculos XIX e XXI e acompanha um jovem recém-chegado que, ao encontrar uma figura misteriosa em um bar, é guiado por um diálogo enigmático e cenários excêntricos. Esse encontro o força a confrontar traumas do passado enquanto vive intensamente o presente.
Direção
Em entrevista ao Jornal O Estado, Felipe Feitosa, diretor do curta-metragem, revelou que sua inspiração para o projeto surgiu durante o ensino médio. Ao ler “Noite na Taverna” como parte de um trabalho escolar. Feitosa se encantou com o estilo de Álvares de Azevedo. O interesse se aprofundou quando adquiriu uma edição de bolso de “Macário”, que incluía um ensaio do autor.
“O trecho de Álvares dizendo: ‘não o fiz para o teatro’ ficou borbulhando na minha cabeça. Mesmo entendendo que o autor estava falando mais sobre o tipo de teatro que se fazia em sua época — naquele momento ainda nem existia cinema —, fiquei me perguntando como seria aquela história se fosse contada no cinema. Junta essa provocação com um gosto pessoal por narrativas fantásticas e alguns amigos incentivando e pronto, ‘Macário’ se torna um projeto de curta-metragem”.
A adaptação da peça para o cinema exigiu uma cuidadosa organização, reescrita e reorganização dos diálogos da obra original. Desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso em audiovisual pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), o projeto, criado pelos alunos Felipe Feitosa, Aram Amorim, João Gabriel Pelosi e Esdras Dürks, enfrentou desafios significativos, mas a orientação recebida foi crucial para a estruturação do filme.
“As principais liberdades criativas foram nas escolhas de encenação, incluindo o tom dos atores, elementos de arte, cenografia, fotografia e som. Alinhei o filme com as intenções do ultrarromantismo brasileiro, resultando em um curta-metragem caracterizado por uma paleta de cores vibrante, exagerada e uma estética artificial deliberada”.
Produção
Esdras Durks, Coordenador de Produção e Diretor de Arte, adaptou a obra no roteiro com uma abordagem anacrônica proposta pelo diretor. Durante a busca por locações, encontrou um bar vermelho e preto, localizado na esquina do Mercadão, que considerou visualmente impactante.
“Esse período literário é caracterizado por um exagero intenso, com temas como o amor inalcançável e o sofrimento profundo. No interior, a equipe ajustou com a decoração para criar uma atmosfera que misturasse elementos antigos com o contexto moderno, refletindo a transição entre o limbo da taberna e os botecos urbanos” explicou o coordenador.
Fotografia
João Pelosi, Diretor de Fotografia, explicou que o diretor do filme, se inspirou no cinema maneirista, que também explora temas ultrarromânticos, para influenciar diversos aspectos da produção.
“Queríamos que o filme fosse visto como uma obra artística, e não como uma representação realista dos eventos. Por isso, todas as escolhas estéticas — desde a iluminação até a atuação — foram projetadas para enfatizar o caráter exagerado da narrativa. Essa abordagem foi intencional e uniforme em todos os aspectos da produção, visando sempre destacar o exagero e a artificialidade da apresentação”, afirmou Pelosi.
Para a estreia do filme neste domingo, a equipe enfatiza que o objetivo é que o público assista, experimente e critique “Macário”. Felipe e Pelosi sugerem que os espectadores venham com a mente aberta e, se possível, leiam uma sinopse ou breve descrição para compreender melhor a história.
Serviço: O curta-metragem “Macário”, possui classificação indicativa de 14 anos, será exibido neste domingo (25) às 18h30 no Teatro Glauce Rocha. A entrada é gratuita. Após a exibição, haverá uma apresentação sobre o processo de produção do filme e uma roda de conversa com toda a equipe.
Por Amanda Ferreira
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