Curso de Cinema nas aldeias de Aquidauana e Porto Murtinho oferecem capacitação audiovisual para o registro das histórias locais

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O projeto “Aldeia em Imagens e Sons”, financiado pela Lei Paulo Gustavo e promovido pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, está oferecendo uma oportunidade única para as comunidades tradicionais do estado. Com o objetivo de fomentar a expressão audiovisual nas aldeias Terena e Kadiwéu, o projeto está sendo realizado em duas etapas: a primeira aconteceu em dezembro de 2024, na Aldeia Limão Verde, em Aquidauana, e a segunda acontecerá entre 9 a 13 de fevereiro, na Aldeia Alves de Barros, em Porto Murtinho.

A iniciativa, coordenada pelo jornalista Sidney Terena, reúne uma equipe de renomados profissionais do audiovisual, incluindo o publicitário, professor e produtor executivo Carlos Diehl, os professores Felipe Bonfim e Regis Raisa, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), e a cineasta e documentarista Marineti Pinheiro, que será responsável pela segunda etapa do curso.

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O projeto conta com o apoio fundamental do Cacique Ademilson, da Aldeia Limão Verde, e da Subsecretaria de Políticas para Povos Originários de Mato Grosso do Sul, na Aldeia Alves de Barros. A produção do curso também é coordenada por Ana Rita, produtora do evento, que completa a equipe com seu trabalho fundamental na organização e logística do projeto.

O curso de cinema, que tem como objetivo resgatar e preservar as tradições culturais por meio do audiovisual, também se configura como uma importante oportunidade para que as comunidades indígenas se empoderem e compartilhem com o mundo sua própria visão e identidade. Através da utilização de tecnologias modernas, o curso proporciona que as comunidades consigam se inserir no cenário contemporâneo, sem perder sua essência e suas raízes culturais.

História contada pelas Telas

Para o Jornal O Estado, o publicitário, produtor executivo, roteirista, diretor e editor da TVE, Carlos Diehl l compartilhou a experiência de ministrar a oficina na Aldeia Limão Verde como uma experiência muito enriquecedora.

“A comunidade escolar estava muito interessada em usar o audiovisual como ferramenta educacional, e a própria comunidade queria registrar suas histórias e compartilhar seus produtos com o mundo. O maior desafio que tivemos foi o da limitação de tempo para a oficina. O apoio que tivemos do cacique e da direção da escola Pascoal Leite Dias foi incrível, fora o empenho dos alunos que estavam muito empolgados”, destaca.

O professor do curso de Audiovisual da UFMS, Felipe Bomfim, ministrou o curso na parte focada no uso de câmeras com o objetivo de desenvolver gravações com celulares. “As oficinas são uma verdadeira troca de saberes. Ao final, os alunos produziram um curta-metragem, e um segundo projeto está em andamento. Eu aprendi muito com a experiência e com as trocas com todos da Aldeia Limão Verde.”, contou Felipe.

Os alunos demonstraram um grande envolvimento durante a oficina. Carlos conta que um dos momentos mais emocionantes foi quando o artesão e produtor de moda Sullyvan Barros, apesar de enfrentar problemas de saúde, insistiu em participar do curso e do vídeo.

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“O empenho foi notável. Mesmo com dor, ele fez questão de estar ali, sua presença foi muito significativa para todos. Outro momento emocionante foi quando estávamos deixando a aldeia e o organizador do evento, o jornalista Sidney Terena começou a se derramar em lágrimas, pela emoção de poder trazer essa oficina na aldeia onde nasceu e viveu a infância”, relembra.

O envolvimento dos alunos foi notável, e o próprio processo de escolha das histórias a serem filmadas foi uma experiência marcante. “Os participantes tinham um grande interesse em registrar as tradições que estavam se perdendo, como a dança da Ema e as histórias dos anciãos. No entanto, a história do artesão Sullyvan Barros, que está revitalizando e divulgando o artesanato Terena, acabou sendo escolhida”, explicou Carlos Diehl.

Audiovisual nas Comunidades

Com a chegada da segunda etapa do curso, na aldeia Alves de Barros em Porto Murtinho, as expectativas são altas. Marineti Pinheiro, cineasta e documentarista, será responsável pela oficina e compartilhou sua empolgação com o projeto.

“Eu já conhecia a aldeia Kadiwéu, e sempre foi um desejo voltar para trabalhar com essa comunidade. A proposta é ser uma oficina prática, focada em aspectos como direção, roteiro, fotografia e edição. Os participantes terão a oportunidade de filmar a própria comunidade e, ao final, receberão o produto final”, explica Marineti para a reportagem.

A questão da fotografia também será abordada na segunda etapa, atendendo a um pedido específico da comunidade, que deseja aprender mais sobre a captura de imagens para divulgar seus artesanatos nas redes sociais. “A ideia é que, além da produção de filmes, os participantes aprendam também a registrar suas obras de arte, como as cerâmicas e outros itens culturais, e usá-los para promover sua cultura”, complementa Marineti.

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Felipe Bonfim, que esteve presente na primeira etapa do projeto, também estará ao lado de Marineti na segunda fase. Ele destacou a importância de incluir a fotografia como parte do curso. “Já no início, Carlos e Sidney se propuseram a ouvir as propostas de histórias dos alunos e alunas indígenas da oficina. A troca foi muito potente. Estas oficinas são trocas de saberes”, afirma Felipe.

O foco do curso está no aspecto prático do aprendizado, com os participantes sendo incentivados a filmar e contar suas próprias histórias. “Nós acreditamos que as pessoas que vivem as histórias têm um conhecimento muito rico sobre elas. Nossa proposta é fornecer as ferramentas para que elas possam contar essas histórias de forma autêntica e impactante”, explicou Marineti.

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Ainda gravando…

O projeto “Aldeia em Imagens e Sons” também possui um caráter de continuidade. Carlos Diehl expressou suas expectativas para a próxima etapa, que, segundo ele, será ainda mais enriquecedora. “A experiência que tivemos na Aldeia Limão Verde serviu como um aprendizado importante para aprimorar nossa metodologia. Na Aldeia Alves de Barros, haverá desafios adicionais, como a língua, mas estamos prontos para isso”, disse Carlos.

A colaboração entre os professores e as comunidades não se limita ao aprendizado técnico, mas se expande para uma troca cultural profunda. Marineti, Felipe e Carlos destacaram a importância de ouvir e respeitar as necessidades e desejos das comunidades para que o projeto seja verdadeiramente eficaz. “A nossa tarefa é criar um espaço de aprendizagem onde os participantes se sintam acolhidos e inspirados a compartilhar suas histórias” concluiu Marineti.

Ao fim do projeto, os participantes terão não apenas adquirido habilidades técnicas em audiovisual, mas também fortalecido o vínculo com sua cultura e sua história. Para Marineti, esse é o verdadeiro impacto do curso: “Nosso objetivo é que, ao final, cada participante se sinta capaz de usar o cinema como uma ferramenta para contar sua própria história e para mostrar sua rica cultura ao mundo”.

Com a continuidade do projeto em fevereiro, as expectativas são de que cada oficina seja uma nova oportunidade de fortalecimento da identidade cultural, resgate de tradições e empoderamento por meio do audiovisual.

 

Por Amanda Ferreira

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