espetáculo que celebra 30 anos da companhia será realizado no Teatro Glauce Rocha
Deborah Colker, uma das mais renomadas coreografias brasileiras, voltou a Campo Grande para apresentação do espetáculo ‘Sagração’. A estreia aconteceu ontem (19) no Teatro Glauce Rocha, e nesta terça-feira (20) haverá uma segunda apresentação, a partir das 20h. Ingressos seguem disponíveis para compra.
O novo espetáculo da Companhia Deborah Colker foi desenvolvido a partir da música clássica ‘A Sagração da Primavera’, de Igor Stravinsky, com adição de sons e ritmos brasileiros, inspirado por visões ancestrais sobre a origem do mundo, evolução e continuidade do planeta Terra. A versão é dirigida com todo o vigor, energia e originalidade de Deborah Colker, que desenvolve projetos desde o início da companhia, em 1994.
‘Sagração’ faz parte de uma temporada de apresentações que celebram os 30 anos da companhia, que ao longo das décadas proporcionaram mais de duas mil apresentações em mais de 100 cidades, em 32 países, com um público total de aproximadamente 3,5 milhões de pessoas.
Processo
“Ao longo dessas três décadas, assistimos e participamos de muitas transformações na cultura, na política e na economia. Chegamos até aqui porque temos este espírito de evolução, que é um tema muito precioso para o novo espetáculo”, avalia o diretor-executivo João Elias, que em 1994 fundou a companhia de dança com Deborah Colker.
O processo criativo de ‘Sagração’ durou dois anos e meio. O espetáculo é uma livre adaptação de ‘A Sagração da Primavera’, obra composta pelo russo Igor Stravinsky, que ganhou projeção mundial pela montagem estreada em Paris em 1913, com coreografia de Vaslav Nijinsky e produção de Sergei Diaghilev para os Ballets Russes. A composição musical é considerada revolucionária por introduzir estruturas rítmicas e harmônicas nunca utilizadas em partituras.
“Quando decidi recontar esse clássico, pensei que teria de ser a partir da cosmovisão de povos originários do Brasil”, lembra Deborah, que também é pianista. “Stravinsky foi responsável por pontos de ruptura e provocação entre o erudito e o primitivo. ‘A Sagração da Primavera’ representa esses pontos de evolução da humanidade”.
“Tudo começa com uma mulher”
Foi em uma viagem para o Xingu, durante o Kuarup, e no encontro com as aldeias indígenas Kalapalo e Kuikuro, que Deborah conheceu Takumã Kuikuro. O cineasta contou a ela como o povo do chão recebeu o fogo do Urubu Rei. Essa história é dançada e acompanhada por narração do próprio Takumã e faz parte da coleção de cosmogonias que a diretora reuniu para montar a dramaturgia do espetáculo.
“Tudo só poderia ter começado com uma mulher. Uma avó. A avó do mundo”, conclui Deborah, que, na companhia de Nilton Bonder, revisitou a mitologia judaico-cristã. Do livro “Gênesis”, as passagens sobre Eva e a serpente e sobre Abraão ganham cenas que destacam momentos de ruptura. “São dois mitos que elaboram sobre a consciência humana: pela autonomia de uma mulher que desperta para caminhos interditados e transgride; e de um homem que sai da sua casa e cultura em direção a si mesmo”, destaca o dramaturgo. Além das alegorias bíblicas, a coreografa também buscou referências na literatura científica.
“A versão mais recente da nossa espécie é a Homo sapiens sapiens que, assim como outros seres, precisa se adaptar constantemente”, pontua Deborah, destacando a presença das personagens que representam bactérias, herbívoros e quadrúpedes no espetáculo. “Nossa dramaturgia é feita da poesia presente em mitos e teorias que pensam a existência da vida em nosso planeta”. A coreografa, em parceria com o diretor musical Alexandre Elias, introduziu à partitura instrumental de Stravinsky a sonoridade pujante das florestas e ritmos brasileiros.
Boi bumbá, coco, afoxé e samba foram introduzidos à criação de Stravinsky. Aos acordes de instrumentos de orquestra, o diretor musical adicionou flauta de madeira, maracá, caxixi e tambores. Os paus de chuva também entram em cena no arranjo executado ao vivo pelos bailarinos. Para Alexandre Elias, “foi um privilégio trabalhar profundamente na estrutura da obra”
Deborah Colker
A inquietação e o gosto pela diversidade não se tornaram uma marca do trabalho Deborah Colker por acaso. Criada entre a solidão do estudo do piano clássico e a prática de um esporte coletivo, o voleibol, a coreógrafa carioca iniciou-se na dança contemporânea como bailarina do Coringa, da uruguaia Graciela Figueiroa, grupo que marcou época no Rio de Janeiro dos anos 1980.
Antes ou depois de fundar, em 1994, a companhia que leva seu nome, Deborah Colker imprimiu sua marca ainda em territórios tão distintos quanto o videoclipe, a moda, o cinema, o circo e o show- biz. Inscreveu seu nome, também, na história do maior espetáculo de massa do planeta: o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, símbolo maior do carnaval carioca, com o qual contribuiu repetidas vezes assinando a coreografia de comissões de frente de grandes agremiações, a exemplo da Mangueira, da Unidos do Viradouro e, mais recentemente, da Imperatriz Leopoldinense.
Largamente reconhecida pela crítica internacional, a excelência de seu trabalho como coreógrafa foi honrada em 2001 com o Laurence Olivier Award na categoria “Oustanding Achievement in Dance” (realização mais notável em dança).
Cinco anos mais tarde, motivava o convite da FIFA para dar vida ao único espetáculo de dança a figurar na grade de atividades culturais da Copa do Mundo 2006, na Alemanha: Maracanã – incorpo- rado mais tarde ao repertório da CIA DEBORAH COLKER sob o título de Dínamo.
Em 2009, assinava a criação do novo espetáculo do Cirque de Soleil – Ovo, uma viagem lúdica pelo mundo dos insetos.
Uma das maiores honras, ser Diretora de Movimento das Olimpíadas do Rio 2016 mostrando um espetáculo visual representativo da energia do povo brasileiro. Espetáculo este que também incluía elementos icônicos de trabalhos dela como coreógrafa.
Em 2021, colocava em cena mais um espetáculo, o Cura, inspirada por sua percepção de que precisava encontrar a cura – a cura do que não tem cura. A obra apresenta de forma profunda e eletrizante a importância de se fazer uma ponte entre a fé e a ciência, entre aceitar e lutar, entre calar e gritar, entre esperar e agir.
No ano seguinte, Deborah inovou mais uma vez e mostrou que seu talento pode ir muito mais além ao fazer sua estreia como diretora de ópera com a obra Anaidamar, na Escócia, sendo amplamente elogiada pelos críticos do país.
Serviço:
O espetáculo ‘Sagração’, será realizado hoje, no Teatro Glauce Rocha, a partir das 20h e os valores variam entre R$ 39 e R$ 120, com possibilidade de meia-entrada. Ingressos podem ser adquiridos no link: https://ingressos.spartaproducoes.com.br/comprar-ingresso/companhia-deborah-colker-sagracao-20-08-6157
Por Carolina Rampi
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