Como ‘Cobra Kai’ se tornou um fenômeno?

Para algumas pessoas traz a nostalgia dos anos 1980 para outros é uma descoberta grata e divertida. “Cobra Kai” – série que estava no catálogo do Youtube Red – agora foi para Netflix. Trata se de uma “Prequel” de “Karatê Kid”, de 1984, com elenco principal em peso e com muito Karatê. O toque chave dessa série e tratar com extremo carinho a trajetória de todos os personagens, respeitando também quem fez parte de história e principalmente mostrando camadas que deixam cada um ainda mais grandioso. 

As dificuldades para uma adaptação como essa são várias, como fazer uma história calcada em personagens marcantes como Daniel Larusso (Ralph Macchio) e Kesuke Miyagi (Pat Morita) durar mais que algumas horas. Claro, há muito para desenvolver em relação às técnicas mas o saudoso mestre faleceu em 2005, e um dos grandes acertos dessa empreitada é se valer de algumas flashback do filme que dão tanto o tom nostálgico como estimulam os espectadores novos a procurar as franquias dos anos 1980. E também acompanharmos o outro lado da história pela ótica de Johnny Lawrence (William Zabka) a partir de sua derrota com o famoso golpe de Daniel. Vemos Johnny no fundo do poço e assombrado pela derrota, enquanto seu arquirrival se deu muito bem na vida como vendedor de carros. O sentimento de se provar perante a comunidade é presente,dos dois lados, as motivações de Johnny são um pouco mais reais pelo passado de Bullying e a forma como é tratado, até mesmo esse lado de que um agressor também sofre muito para até desenvolver atitudes mais agressivas com os outras pessoas. Larusso parece ter uma certa dor de cotovelo ou um sentimento de que o antigo rival não pode fundar um novo Dojo e fazer daquilo uma fonte de renda. Um ponto para série e evitar a dinâmica chata e extremamente clichê de sabotagem, mesmo que Daniel tente nem sempre funciona o que deixa o processo de confronto entre os dois mais crível. 

A produção da primeira temporada é bem mambembe, o que claro,é falta de um orçamento grande e confiança de que um projeto assim poderia dar certo. Mas não deixa a desejar e traz muito do universo dos anos 80 e 90 com músicas, carros e até a forma de montagem que causa uma estranheza no começo mas depois de alguns episódios parece bem claro essa intenção de diminuir o ritmo. Os episódios tem em média 30 minutos,o que é fantástico pelas história complexa que está sendo construída e principalmente a tensão que vai sendo construída ao longo das temporadas.Os atores tanto o elenco de Karate Kid quanto os jovens são excelentes, imprimem bem esse interesse pelo esporte e o empenho que os dois lados tem por demonstrar suas habilidades. O trio principal Xolo Maridueña,Mary Mouser e Tanner Buchanan são muito competentes, tanto para seguir os desdobramentos de cada episódio quando para passar uma real urgência de aprender Karatê e rivalizar com os próprios amigos usando a rivalidade de Larusso e Johnny como plano de fundo. 

É claro que o fator nostálgico é fundamental para pegar aquela fatia que cresceu assistindo a franquia no século passado, mas essa direção inteligente abre espaço também para que está conhecendo agora a febre dos filmes de ação, e os realizadores têm adaptado a história com maestria. Criar novas arcos para personagens clássicos é uma tarefa difícil, porque querendo ou não eles tem um legado, e nesse sentido fica bem evidente que essas pessoas envolvidas no projeto são muito fãs também.Basta ver a quantidade de fan service que a série tem, e como isso não é colocado fora de contexto. Há cenas em que Daniel Larusso encarna o Mestre Miyagi, ou lutas e referências óbvias aos filmes. Mas principalmente o fato de não ter um mocinho propriamente e sim cada um mostrar seu interesses e virtude como pessoas reais.  

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(Texto: Filipe Gonçalves)

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