Aos poucos são retomadas as atividades culturais e com as salas de cinema reabertas, seguindo à risca o protocolo obrigatório recomendado pelas autoridades de cada cidade e pela OMS (Organização Mundial de Saúde), estreia hoje no país “Os Novos Mutantes”. O filme demorou tanto para chegar à telona, que, com o perdão do trocadilho, ‘parece coisa de cinema’. Adiado por vários motivos, entre eles a venda da Fox e a pandemia do novo coronavírus, finalmente os fãs dos X-Men, poderão se despedir da franquia. A trama dirigida por Josh Boone (A Culpa é das Estrelas) acompanha um grupo de personagens desajustados que tentam compreender suas vidas, enquanto são atormentados pelos próprios poderes. O elenco conta com Anya Taylor-Joy, Maisie Williams, Charlie Heaton, Blu Hunt, Colbi Gannett e com os brasileiros Alice Braga e Henry Zaga.
Com a venda da Fox para a Disney, a produção entrou em uma via-crúcis cheia de refilmagens e reedições que adiaram sua estreia. E quase que o filme não chega às salas de exibição. A obra só chegou aos cinemas devido a uma cláusula na venda da Fox, que exigia que todos os filmes em produção até aquele momento fossem lançados nas telonas.
Em 2017, o diretor Josh Boone e parte do elenco estiveram no Brasil para participar da CCXP (Comic Con Experience) e promover o filme. Àquela altura, os primeiros materiais de divulgação já estavam prontos, e Boone aproveitou para exibir algumas cenas inéditas. Foi um tremendo sucesso. Além do diretor e do roteirista Knate Lee, Alice Braga e Henry Zaga participaram do evento. Além dos dois atores nacionais, um dos mutantes do filme, O Mancha Solar (papel de Zaga), também é brasileiro. O diretor ainda deu a deixa para os fãs, sugerindo que a continuação de ‘Novos Mutantes’ poderia se passar em terras brasilis. Só que não, ao menos por enquanto.
Uma semana após esta CCXP, a Disney anunciou a compra da 21st Century Fox em uma das maiores transações da indústria do entretenimento: o processo, que se estenderia por mais alguns anos, custou, ao todo, US$ 71,3 bilhões. Com isso, Os Simpsons, Avatar e o canal National Geographic, passaram a pertencer ao todo poderoso Mickey Mouse. Desde 2009, a Marvel pertence à Disney, que criou, nos últimos anos, o universo cinematográfico (MCU) ao qual pertencem os filmes dos Vingadores. O problema: a Fox, até então, detinha os direitos sobre os personagens dos X-Men e, desde 2000, havia criado um universo próprio para eles no cinema. A pergunta é onde se encaixaria agora “Os Novos Mutantes”?
O mistério continuou até o começo de 2020, quando e a Disney e 21st Century Studios (que sofreu um “rebranding”, uma ressignificação da marca, que limou o nome “Fox”) anunciaram uma data de estreia: 2 de abril. Seria o final feliz para essa novela, não fosse a pandemia, que colocou ‘Os Novos Mutantes’ novamente no limbo. Como se não bastasse, algumas especulações davam conta que a exibição iria para o streaming via Disney+, mas eram boatos, até que o filme estreou nos Estados Unidos em 28 de agosto e chega finalmente ao Brasil hoje.
“Os Novos Mutantes” tem um casal gay, o que não é nenhuma novidade nos quadrinhos, porém atualmente o cinema tem dado mais representatividade LGBTQI+ em seus roteiros, em parte, graças à proposta da Fox em fugir do convencional. Outro grande barato, é o fato do filme pertencer a um universo já estabelecido, o que proporciona, boas tiradas envolvendo os X-Men, com citações e perspectivas, que sempre agradam ao fã mais atento. Por outro lado, há um lamento implícito pelo que poderia ter sido. Aquele sentimento, de que, o filme chegou tarde. Sem contar que existe o temor de ser este, um novo “X-Men: Fênix Negra” porém, cabe ao leitor ir curtir na telona e tirar suas próprias conclusões.
A mídia especializada já deu os primeiros pareceres sobre “Os Novos Mutantes”, como é o caso de Claudio Yuge, do site Canaltech, que acredita que o lançamento do longa fez a Fox cumprir seu papel. “Os fãs dos X-Men com certeza vão querer dar esse ‘adeus’ para a franquia da Fox — e serão os que mais vão se divertir com as referências e as interações entre personagens tão queridos e que nunca estiveram juntos nas telonas. Embora a perda do caminho no meio do trajeto, Novos Mutantes tem lá seus momentos interessantes e reviravoltas divertidas. Então, se Novos Mutantes não é o filme ideal que a nova geração de X-Men precisava, pelo menos pode servir de referência como o novo gênero de super-heróis pode flertar com o terror e o pós-terror. Se Doutor Estranho no Multiverso da Loucura aprender algo com essa experiência e elevá-la no MCU, o último filme dos mutantes na Fox já cumpriu o seu papel.”
Já Hiccaro Rodrigues, do site Estação Nerd, comentou que nosso mutante brasileiro foi mal aproveitado. “O suspense em torno das situações é exagerado e o espectador mais desatento consegue matar metade das charadas em 20 minutos, ou até em menos. As situações que ocorrem nos 30 primeiros minutos são atabalhoadas e caóticas, o espectador que lute para entender o que acontece. Do meio para o fim o longa melhora, mas metade das cenas estão nos trailers, o que tira a força/importância do que vemos. As cenas de ação do ato final são boas, mas as de terror… Não assustam em momento nenhum. O diretor Josh Boone não consegue criar situações que aterrorizem ou que deixe o espectador tenso. Para piorar ele se apoia em clichês bobos e as cenas que poderiam render, como a do Mancha Solar na piscina são muito mal desenvolvidas.”
“Os Novos Mutantes” estreia na sexta-feira (23) e a classificação indicativa é de 14 anos.
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(Texto: Marcelo Rezende)