Em frente à bilheteria, era possível observar passos desajeitados, laços na cabeça e olhinhos atentos enquanto os mordedores coloridos eram mordiscados. Essas são algumas das características que definem o público da sessão da sala três. O filme em exibição era “Minha Irmã e Eu”, um longa nacional lançado em dezembro de 2023, que narra a história de duas irmãs unindo-se para realizar o sonho da mãe. A sessão estava marcada para começar às 14h10 da terça-feira (20), no Cinemark da Capital, onde outras mulheres também realizavam seus desejos, mas de voltar ao cinema. Fundado em 2008, a sessão organizada pelo CineMaterna, oferece às mães, com bebês de até 18 meses, um espaço para trocar experiências sobre a maternidade e, principalmente, uma oportunidade de retomar a vida cultural.
Com a proposta de fornecer um espaço acolhedor, o CineMaterna realiza sessões adaptadas visando o entretenimento da mãe e um espaço confortável para as crianças. Com arandelas espalhadas pela sala, o escurinho do cinema se transforma em um ambiente mais intimista e relaxante. O tradicional clima frio é ajustado para uma temperatura mais amena. Após os trailers, a potência do som é reduzida para proteger os ouvidos sensíveis dos pequenos, garantindo uma experiência quase inacreditável para os seus espectadores.
“Eu vi uma propaganda no Instagram. Quando vi, nem achei que era real”, disse Priscila Marques, de 37 anos, acompanhada de sua filha de um ano. Ela frequenta o CineMaterna desde 2023. Um dos objetivos do projeto é proporcionar, por meio do cinema, inclusão social, lazer e acolhimento para as mulheres no puerpério; pontos que também foram destacados por Priscila.
“É complicado nessa fase de pós-parto, e a minha filha nasceu em setembro, em novembro de 2023 nós viemos e foi bem gostoso. Com o projeto, consigo vir com ela e é bem tranquilo. Torna essa fase, nesse comecinho da maternidade, que é tão cansativo às vezes, uma chance de a gente poder vir, se divertir, relaxar um pouquinho. Fiquei feliz com o projeto, achava que seria como foi da minha primeira filha, que ia demorar uns dois, três anos para eu conseguir ir ao cinema de novo, ainda bem que não”, disse, contente.
Para a estudante Beatriz Maciel, 19, o projeto surtiu o mesmo efeito, além ocupar uma lacuna que é o entretenimento voltado as mães. “É a primeira vez que estou vindo, estou acompanhando minha prima e estamos animadas. É uma oportunidade dela aproveitar o cinema com a filha. E, normalmente, não temos uma programação voltada para as mães”, afirmou a estudante.
A Associação Cine Materna
Em um grupo de discussões, mães lamentaram a dificuldade em ir ao cinema após dar à luz; diante desse cenário, dez mães se organizaram, e com seus bebês decidiram ir ao cinema. Assim, da iniciativa despretensiosa, surgiu em 2008, na cidade de São Paulo, o primeiro CineMaterna: uma iniciativa sem fins lucrativos que, atualmente, realiza sessões em 51 cidades do Brasil. Em Campo Grande, o projeto iniciou em meados de 2010 e, desde então, oferece uma estrutura em uma sala convencional de cinema para famílias com bebês de até 18 meses.
“Nós colocamos tapetes, brinquedos, montamos um espaço de lazer, porque sabemos que às vezes a criança de um ano já está andando e não para. Então, para a mãe se concentrar no cinema, pode deixar a criança ali brincando, andando, enquanto ela assiste ao filme, cuida do bebê, interage e se diverte”, disse a coordenadora do projeto em Campo Grande, Laura Heimbach, mais conhecida como Pink. “Nós somos conhecidas como as ‘pinks’, somos voluntárias do CineMaterna. Organizamos a sala de cinema com todos os materiais do projeto: trocadores, fraldas, lenços umedecidos, tapete EVA… e recebemos as mães com carinho e acolhimento durante a sessão”, acrescentou Laura.
Além do espaço aconchegante, após cada sessão, as ‘pinks’ convidam as famílias para um bate-papo próximo ao cinema, com tema livre, proporcionando a troca de experiências e conversas descontraídas. Além disso, o projeto distribui cortesias 30 minutos antes do início da sessão para as primeiras famílias com bebês de até 18 meses, limitada a uma cortesia por bebê para uso de um adulto: mãe, pai ou responsável. Os valores dos ingressos para os acompanhantes seguem os estipulados pela rede Cinemark.
Na Capital, os encontros são mensais, realizados normalmente no fim do mês. Os filmes, em sua maioria, são para o entretenimento dos adultos. Além disso, no site do projeto, são disponibilizadas três opções de filmes para que as mães decidam com qual filme irão relaxar, sendo exibido o mais votado. Para mais informações sobre a próxima sessão, acesse o site www. cinematerna.org.br
Por Ana Cavalcante.
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