Obras do artista plástico Cleir colorem prédios de Dourados para celebrar o aniversário da cidade
No dia 20 de dezembro, Dourados, o segundo maior município de Mato Grosso do Sul, celebra seus 89 anos. Porém, a cidade de quase 244 mil habitantes, de acordo com o Censo 2022, já recebeu um presente especial antes da data comemorativa: a revitalização dos icônicos painéis “Arara Vermelha” e “Papagaio”, localizados no centro da cidade. As obras, assinadas pelo artista plástico Cleir, passaram por um processo de renovação que trouxe novas cores e um brilho renovado à paisagem urbana.
Inaugurados em 2000, os painéis passaram por sua primeira revitalização em 2016. Agora, em 2024, a intervenção é uma iniciativa do Sicredi Centro-Sul MS/BA, que comemora 35 anos de existência. Para a reportagem, o pintor Cleir destaca a rica produção artística e a forte inspiração presente em Mato Grosso do Sul, um estado que, segundo ele, não deixa a desejar em termos de criatividade.
“Quando fiz a revitalização dos painéis em Dourados, em 2016, acabei fazendo quase tudo sozinho. Em 2024, foi uma experiência diferente, pois tive a ajuda de duas mulheres: minha esposa, Débora Figueiró, e a Nathalya Escobar, uma fã do meu trabalho. Juntos, enfrentamos o frio e a neblina, mas o trabalho ficou excelente. Para mim, é importante ajudar quem quer aprender e também aprender com os outros”, explica.
Patrimônio Cultural
Os painéis estão localizados no Edifício Adelina Rigotti, o primeiro prédio comercial de Dourados, inaugurado em 1977. Desde então, a obra de arte foi se tornando referência na cidade, a ponto de o edifício ser popularmente conhecido como “Prédio das Araras”. Após a revitalização, os painéis reforçam ainda mais a identidade cultural do município.
“Em 2016, durante a revitalização do painel das araras em Dourados, uma experiência me marcou bastante. Fui a um museu e lá conheci uma senhora que me disse: ‘Clei, estou há 14 anos em Dourados e, desde que cheguei aqui, sempre que pergunto algo na cidade, meu marido e eu ouvimos a mesma resposta: você conhece o prédio das araras?’ Isso me fez perceber como o mural se tornou um ponto de referência na cidade, assim como a Praça das Araras em Campo Grande”, destaca.
A revitalização das empenas, com 27 metros de largura por 26 metros de altura, foi executada com as mesmas técnicas e materiais utilizados há quase 24 anos, mas com toques refinados pela experiência acumulada por Cleir ao longo dos anos.
“Acho que essa revitalização é muito interessante para a população, pois ela realmente agrega valor ao patrimônio. As pessoas começam a valorizar ainda mais, e eu percebi um grande respeito por parte dos douradenses, em relação ao trabalho que estava sendo feito”, afirma Cleir.
Durante o processo de revitalização, o artista se sentiu especialmente acolhido pelos moradores de Dourados, o que, para ele, demonstra o quanto a cidade valoriza suas manifestações culturais. “Pude vivenciar a cultura local em feiras de arte e outros eventos. A receptividade foi incrível e reforça a importância do resgate da memória cultural. Isso mantém a identidade da população viva”, conclui Cleir.
Além dos famosos painéis “Arara Vermelha” e “Papagaio”, o artista é responsável por outras obras emblemáticas em Dourados, como o “Monumento Deusa da Justiça – Themis”, inaugurado em 2012 em frente ao Fórum da cidade.
Arte que vem da natureza
A carreira de Cleir, com mais de 35 anos, é marcada por uma vasta produção espalhada por todo o Mato Grosso do Sul e até o Paraná, com destaque para esculturas e painéis que abordam a fauna regional, como o “Monumento Pantanal Sul” (Tuiuiús do Aeroporto), em Campo Grande, e o “Monumento Vale das Águas”, em Bodoquena.
Com passagens por diversas cidades, como Corumbá, Bonito, Dourados e Três Lagoas, o artista compartilha suas experiências vividas ao longo dos anos, onde teve a oportunidade de trabalhar e mergulhar na cultura local. Essas experiências ajudaram a expandir sua produção e o contato com diferentes realidades e formas de expressão.
“Minha família tem raízes profundas em Rio Verde, onde meu bisavô, desbravou as serras da região. Cresci visitando as fazendas e sendo inspirado pela natureza, o que também me conecta com minha família de Aquidauana. Essa relação com o meio ambiente foi a principal inspiração para minha arte, que busca retratar a beleza da natureza e ressaltar a importância de preservá-la”.
Ao longo dos anos, a arte no Mato Grosso do Sul passou por transformações significativas. A constante produção e pesquisa foram essenciais para o desenvolvimento artístico na região, impulsionando tanto o crescimento individual quanto coletivo dos artistas.
“Meu trabalho, em especial, busca refletir essa mudança, levando a arte para as ruas, praças e prédios, transformando esses espaços urbanos em verdadeiros centros de expressão e interação. A arte na rua, além de ser uma forma de resistência, se torna também uma poderosa ferramenta de conexão entre a cultura e a população, mostrando que a cidade pode ser, de fato, uma galeria a céu aberto”, finaliza.
Amanda Ferreira
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