Campo-grandense entra para a luthieria quebrando padrões machistas do ofício

“É comum ouvir ‘é você mesmo que conserta? Não é ele?’”, diz luthière sobre profissão

A profissão de luthieria – ato de consertar, customizar ou fabricar instrumentos musicais –, em alguns casos, está associada ao trabalho masculino. Porém existem mulheres que estão entrando em cena para praticar o serviço e mostrando o outro lado da história.

Em Campo Grande, a luthière Mariana Kemp, de 36 anos, realiza esse tipo de serviço que aprendeu com seu marido, o professor de música e luthier Maurício Kemp, de 49 anos. Em 2011, eles abriram a escola/oficina Gig Musical, na qual ele ensina a tocar instrumentos e ela faz o conserto dos instrumentos que é solicitado.

“Comecei a ensiná-la a consertar instrumentos, amplificadores e pedais de efeito. Usamos alguns instrumentos antigos que tínhamos para ela começar a aprender. Hoje em dia, praticamente todo serviço de luthieria é feito por ela, sendo que eu sou o responsável somente pelo controle de qualidade nessa área”, explica Maurício.

“Na verdade, eu comecei a ajudar meu marido e fui gostando cada vez mais desse trabalho”, completa a profissional. Desde os 17 anos, Maurício trabalha nessa área, e graças a esse longo período conseguiu repassar as habilidades para a esposa. “Fiz alguns cursos com funcionários mais antigos de uma loja de instrumentos musicais que eu trabalhava no interior de São Paulo e Minas Gerais. Comecei a colocar o aprendizado em prática nessas lojas”, lembra.

As ferramentas e o manuseio utilizados para a produção do serviço são vários, entre eles estão corte, furação, lixamento, parafusamento, chaves específicas, solda, isolamento elétrico, colas próprias para cada tipo de material, fitas, vernizes, óleos, além das peças que fazem parte do instrumento, como tarraxas, captadores, cavaletes, potenciômetros, entre outras coisas.

Mulheres na luthieria

Com isso, as luthières chegaram para desconstruir todo pensamento contrário de que mulher não sabe sobre ferramentas e consertos. Mariana mostra que a mulher pode ser o que quiser. “Ainda há certa resistência por parte de algumas pessoas, é comum ouvir ‘mas é você mesmo que conserta? Não é ele?’, mas a maioria percebe nossa competência e seriedade logo de cara e acaba virando mais um cliente fiel”, conta

A área em que o casal trabalha junto é voltada para os instrumentos de cordas, como violão, contrabaixo, guitarra, viola caipira, violino, cavaquinho, ukulele, além de amplificadores e pedais de efeito.

Mariana conta que sente vontade de ensinar outras mulheres, mas somente homens tiveram o interesse em aprender a profissão. Contudo, a intenção de ensinar o seu dom para o meio feminino continua. “Ainda é um trabalho que a maioria das pessoas pensam que é feito somente por homens. Seria interessante haver mais mulheres nesse ramo, pois além de se tornar uma paixão, que é o meu caso, é muito prazeroso e pode se tornar uma boa fonte de renda”, finaliza.

(Izabela Cavalcanti)

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