Obra reúne 57 poemas inspirados em territórios reais e imaginados, explorando temas como luto, espiritualidade e itinerância, em uma imersão lírica pelas paisagens do Brasil
O artista visual Elias Aquino lança seu primeiro livro de poemas, Cachoeirão, pela editora Toma Aí Um Poema. Com 57 textos líricos distribuídos em 99 páginas, a obra percorre geografias reais e afetivas do Brasil, especialmente as paisagens naturais do Mato Grosso do Sul, trazendo à tona memórias, espiritualidade e os deslocamentos vividos pelo autor. A pré-venda está aberta até 15 de agosto, com exemplares autografados e descontos especiais para compras de dois ou mais volumes.
Escrito entre 2020 e os anos seguintes, Cachoeirão nasceu do silêncio das estradas e da contemplação dos territórios não urbanos visitados pelo autor. Dividido em cinco capítulos Carapanã à Tarde, Alojamento de Mariscos, Trívia das Sombras, Deserto Doce e És isto entre os montes, o livro atravessa temas como luto, família, espiritualidade e movimento, conectando momentos distintos da vida do autor a partir de sua vivência itinerante. Cada parte da obra reflete um ciclo de escrita vinculado a experiências sensoriais e paisagens específicas.

Capa do Livro Cachoeirão – Foto: divulgação
A paisagem não é apenas pano de fundo, mas matéria viva dos versos. Com nomes retirados de placas de estrada, praias, rios e distritos brasileiros, os poemas constroem um território poético que mistura o real ao imaginado. O título homenageia o Rio Cachoeirão, próximo ao município de Terenos (MS), e funciona como símbolo desse espaço inventado: ao mesmo tempo íntimo, onírico e profundamente conectado à natureza. Em Cachoeirão, o artista convida o leitor a caminhar com ele entre palavras e paisagens, num exercício de escuta e presença.
Cachoeirão de experiências
Transformar territórios reais em matéria poética, como em Cachoeirão, foi um processo guiado por uma busca intensa por registrar sensações mais do que sentimentos. Para o Jornal O Estado, Elias explica que desejava criar um livro que se ancorasse nas experiências do corpo, no tato, na escuta, no olhar, como uma maneira de capturar o que há de mais vívido na relação com o mundo natural.
“Para mim, a sensação é algo que experimento fisicamente, diferente do sentimento, que muitas vezes percebo como algo deslocado para uma esfera mais interior. Essa corporeidade atravessa meus poemas, que carregam nomes de lugares que visitei ou observei, transformando-se quase em um álbum de fotografias sensoriais, onde a geografia se mistura à memória”, explica o autor.

Paisagem que inspirou o poema Morraria do Sul – Foto: Elias Aquino/arquivo pessoal
Além dos espaços reais, Cachoeirão também é habitado por paisagens inventadas, criadas a partir de palavras encontradas em placas de estrada, nomes de distritos ou regiões que despertaram uma energia específica no autor. Esse gesto de criação, de transformar palavras em território, tornou-se uma metodologia central do livro.
Em alguns casos, a escrita parte de lugares onde o autor nunca esteve, mas que, por força da imaginação e da escuta sensível, ganharam vida poética. Assim, a obra navega entre o documental e o ficcional, entre a lembrança e a invenção, construindo um mapa afetivo onde cada poema é um ponto de contato entre corpo, linguagem e paisagem.
Cachoeirão está estruturado em cinco capítulos que representam diferentes ciclos de escrita, refletindo uma relação não linear entre tempo, espaço e criação. O autor mistura lugares reais com um território inventado, construído a partir da sobreposição de imagens e sensações vividas, criando uma paisagem poética única e complexa.
Embora o livro apresente uma sequência que sugere uma narrativa, da luz inicial a uma passagem por obscuridades, até um desfecho renovador, como aponta a escritora Jarrid de Arraes, os poemas foram escritos de forma fragmentada, com temas e paisagens que retornam e se transformam ao longo da obra.
“Eu rompo com a visão linear tradicional do tempo, criando uma estrutura em espiral onde passado, presente e futuro coexistem, enriquecendo a poesia do livro com camadas de memória e circulação temporal”, afirma.

Paisagem que inspirou o poema Corumbá – Foto: Elias Aquino/Arquivo
Em todas as suas artes
Elias está envolvido em diversas linguagens artísticas (da pintura à fotografia, da performance à escrita) e essa vivência interdisciplinar é visível em cada verso de Cachoeirão. Para ele, não há separações rígidas entre os meios de expressão: todos fazem parte de um mesmo corpo criativo que se alimenta de sensações, memórias e deslocamentos. Ao se definir como um artista interdisciplinar.
O artista reforça a ideia de que sua prática artística é contínua e fluida, e que a literatura surge não como exceção, mas como mais um território onde suas inquietações podem ganhar forma.
“Em Cachoeirão, busco uma escrita sensorial, guiada pelo olhar do pintor, a escuta do performer e o espaço do instalador. Não quero que o livro seja apenas lido, ele convida à experiência, como uma exposição em camadas de imagem, som e textura. Para mim, poesia é forma de ver, tocar e habitar o mundo”, finaliza Elias.
Recepção
Cachoeirão é uma obra poética aclamada por figuras importantes da literatura e das artes, como Jarid Arraes, Nega Carolina e Rose Afefé, que destacam seu caráter sensorial, vívido e profundamente conectado à natureza e à memória. Jarid ressalta a precisão e o propósito da escrita, enquanto Nega Carolina vê no livro uma musicalidade que embala memórias e reforça o pertencimento a um território. Rose Afefé, por sua vez, aponta que a obra transcende o formato tradicional de livro, tornando-se um lugar vivo que conduz o leitor por paisagens e trajetórias íntimas, marcadas pela experiência do corpo e da memória. Juntas, essas vozes confirmam Cachoeirão como uma criação que pulsa entre linguagem, território e existência.
A publicação de Cachoeirão faz parte do projeto “Ninfeias e ostras serão nossas moradas”, contemplado pelo Fundo de Investimentos à Produção Artística e Cultural – FIP 2023, da Secretaria Municipal de Cultura de Dourados/MS. O projeto prevê, além do livro, um evento de lançamento presencial ainda neste ano com a participação de outros artistas da palavra, bem como uma oficina de escrita poética ministrada por Elias de Aquino.
Sobre o Autor
Elias de Aquino nasceu em Corumbá (MS) e atua como artista interdisciplinar nas áreas de pintura, performance, instalação, escrita e práticas educativas informais. Sua produção investiga a relação entre memória, afeto e violência a partir do território sul-mato-grossense. Em sua pesquisa artística, trabalha com arquivos familiares, histórias locais, contextos campesinos e a presença negra em regiões de fronteira. Cachoeirão marca sua entrada na literatura com uma escrita sensível e cartográfica, que propõe um deslocamento físico e poético do leitor.
Por Amanda Ferreira
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