Breu Coletivo leva à UFMS exposição que desafia a linha entre o belo e o grotesco

Breu Coletivo - Da esquerda pra direita beare, João Lucas, Maya Severino, Mär Cozta, Thais Soares, VDB - Foto: Reprodução/ Breu Coletivo
Breu Coletivo - Da esquerda pra direita beare, João Lucas, Maya Severino, Mär Cozta, Thais Soares, VDB - Foto: Reprodução/ Breu Coletivo

Mostra convida o público a questionar os limites do normal e do estranho

Com cores, texturas, recortes e traços que subvertem padrões estéticos e sociais, a exposição Ecos da Estranheza, do Breu Coletivo, convida o público a refletir sobre os limites entre o belo e o feio, o normal e o estranho, o certo e o errado. Aberta à visitação na GAV UFMS (Galeria de Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) até 28 de maio, a mostra reúne obras que exploram o fascínio pelo grotesco e transformam elementos frequentemente associados à repulsa em provocações visuais. A entrada é gratuita e as visitas podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 13h30 às 16h30.

As obras reunidas na exposição Ecos da Estranheza percorrem um universo simbólico povoado por insetos venenosos, criaturas do imaginário, corpos distorcidos, lendas de fogo e os horrores que habitam a mente humana. Em comum, todas carregam uma estética que reverencia o grotesco e propõem um olhar sobre o contraste entre repulsa e beleza.

Por meio da fragmentação, distorção e reinvenção de símbolos do mundo natural, as obras provocam deslocamentos visuais e sensoriais, revelando que o estranho não está à margem ele é parte constitutiva da experiência humana. Ao tensionar os limites do que é considerado belo, a exposição amplia as possibilidades de percepção estética do público, convidando à reflexão sobre os códigos culturais que moldam nossos julgamentos.

Arte de dentro para fora

Selecionada por meio de edital lançado em 2024 pela Galeria de Artes Visuais da UFMS, Ecos da Estranheza se destacou tanto pela qualidade conceitual e técnica das obras quanto pela relevância de incentivar a produção de novos artistas locais. O Coletivo Breu, responsável pela exposição, é formado por alunos e ex-alunos do curso de Artes Visuais da universidade.

A exposição reúne um conjunto diverso de linguagens artísticas, incluindo desenhos, pinturas, fotografias, imagens digitais, livros e instalações, todas alinhadas ao conceito estético do grotesco. A proposta dialoga com uma tradição que remonta à Roma Antiga e que, ao longo dos séculos, foi ressignificada.

A professora da Faalc (Faculdade de Artes, Letras e Comunicação) e integrante da comissão da Galeria de Artes Visuais, Priscilla Pessoa, explica que, neste ano, a galeria programou sete mostras quatro selecionadas por meio de edital interno da universidade e outras abertas à participação de artistas de todo o Brasil que queiram expor no espaço do GAV.

“O termo ‘grotesco’ foi normatizado como adjetivo em 1694 pelo Dicionário da Academia Francesa, designando aquilo que é bizarro, fantástico, extravagante, frequentemente associado ao absurdo e ao antinatural”, explica a professora Priscilla.

Artistas do Coletivo

De acordo com a artista Beare, egressa do curso de Artes Visuais da UFMS, o processo de criação das obras ocorreu de forma individual e espontânea, sem a intenção inicial de compor uma exposição coletiva. Com o tempo, no entanto, os integrantes do coletivo identificaram conexões poéticas entre os trabalhos, os “ecos” que dão nome à mostra e, a partir dessas afinidades temáticas e estéticas, estruturaram a proposta curatorial de Ecos da Estranheza.

“Houve cuidado em olhar nossas produções e escutar o que elas comunicavam entre si. Queríamos construir uma narrativa de união, de estranhamento e beleza com nosso terror”, diz.

Segundo Beare, o Coletivo Breu foi formalizado há cerca de um ano, mas a conexão entre os integrantes iniciou bem antes, ainda durante a graduação em Artes Visuais na UFMS. Foi no convívio cotidiano do Bloco 8 entre aulas, grupos de estudos e eventos acadêmicos, que os laços se formaram, primeiro como colegas, depois como amigos e, mais tarde, como artistas.

“Curiosamente, não éramos da mesma turma. Mas justamente na diversidade de cada um que nos encontramos, unidos pelo desenho, inquietações semelhantes e pela vontade compartilhada de tornar visível o que nos atravessa, por isso formamos o Breu. Somos seis artistas atualmente, que bebemos do belo e do grotesco, encontramos no estranho um abrigo e uma forma de pertencer. Cada um do seu jeito, com seu gesto, sua poética, mas sempre em diálogo juntos. Trabalhamos juntos, pensamos juntos, sem apagar a subjetividade de ninguém”, acrescenta.

Mär Cozta, também integrante do Coletivo Breu, ressaltou que o elemento central da exposição está no olhar lançado sobre o que é peculiar e incomum e na capacidade de enxergar isso com paixão. Segundo ela, os trabalhos apresentados percorrem diferentes momentos da trajetória de cada artista, alguns produzidos antes mesmo da formação oficial do coletivo, outros já durante sua atuação conjunta.

“Dentre os meus trabalhos que estão na amostra, alguns foram feitos durante a minha trajetória no curso de Artes Visuais. Eles englobam a observação de insetos e essa mistura do corpo e metamorfose e a percepção que a gente tem no nosso corpo. Há também percepção do corpo enquanto matéria de gênero e todas essas outras coisas que vão passando por mim”, destaca Mär.

Quanto aos próximos passos do Coletivo Breu, os artistas afirmam que a intenção é continuar desenvolvendo seus projetos e expandir sua atuação no cenário artístico. “Estamos buscando cada vez mais uma abordagem autoral em nossos trabalhos e eventos, com o objetivo de fomentar a arte independente e trazer à tona temas provocativos, como o estranho e o incomum, que queremos compartilhar com o público”, afirmam. O coletivo segue em busca de novas colaborações e exposições que ampliem seu impacto e suas discussões.

Serviço: A exposição Ecos da Estranheza estará disponível para visitação até 28 de maio na Galeria de Artes Visuais, localizada no piso térreo do bloco 8, na Cidade Universitária. A mostra pode ser contemplada de segunda a sexta-feira, das 13h30 às 16h30.

Por Amanda Ferreira

 

Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *