Nos últimos anos, quem gosta de ação foi contemplado com a franquia ‘John Wick’, protagonizado pelo adorado Keanu Reeves. Com ação do início ao fim, os quatro filmes do assassino aposentado que retorna as ruas em busca vingança (quem é pai/mãe de pet entende suas razões) agradou o público com longas que não víamos há um tempo. Agora, a trama traz uma nova adição ao universo, com a estreia nesta quinta-feira (5) com ‘Bailarina’, que traz Ana de Armas como protagonista.
Com direção de Len Wiseman (Anjos da Noite) e roteiro de Shay Hatten, e supervisão de Chad Stahelski, criador da franquia, o longa segue a assassina habilidosa Eve Macarro, bailarina treinada nas tradições da organização Ruska Roma. Ela busca vingança contra aqueles que assassinaram sua família. O filme não é uma continuação, e conforme a linha temporal se passa entre os eventos de ‘John Wick: Capítulo 3 – Parabellum’ e ‘John Wick: Capítulo 4 – Baba Yaga’, expandindo o conceito introduzido no terceiro. Além de explorar o mundo das assassinas de aluguel, Bailarina traz de volta Anjelica Huston como a mentora de uma academia de balé que funciona secretamente como uma escola de mercenários.
A produção também traz o retorno de personagens icônicos da franquia como Ian McShane, Lance Reddick e o próprio Keanu, além de nomes novos como Norman Reedus, o Daryl Dixon de The Walking Dead.
A Ruska Roma
‘Bailarina’ joga luz a algo que foi apresentado nos dois últimos filmes da franquia, a Ruska Roma. No mundo real, os Ruska Roma são conhecidos como os ciganos russos, sendo o maior subgrupo do povo Romani na Rússia. Já no universo de John Wick, a Ruska Roma é uma organização criminosa ligada a Alta Cúpula, responsável pela criação e treinamento do personagem de Keanu.
Agora, a personagem de Ana de Armas surge do mesmo local, sendo criada para ser uma assassina semelhante a John; inclusive, ambos fazem um paralelo até mesmo nas tatuagens: Eve possui a frase ‘Lux in tenebris’, que em latim significa ‘luz nas trevas’, escrita acima da figura do espírito feminino Kikimora, oriundo da mitologia eslava, personagem que pode ser bom ou mal. John, que também foi da Ruska Roma, possui a frase ‘Fortis Fortuna Adiuvat’, ou seja, ‘a sorte sorri para os corajosos’. Ambas as frases têm origens cristãs
“O filme mergulha mais fundo nos meandros da Ruska Roma, porque Eve está entrando ali e quer se tornar parte desse mundo, de onde John Wick passou muito tempo tentando sair. Nós conseguimos ver muito mais das camadas de como a Ruska Roma opera”, explica Wiseman, durante sua vinda com o elenco para a CCXP, no ano passado.
‘Ela não é uma versão feminina’
O legado que Keanu deixou para a franquia é inegável, tanto que ele ainda participa da produção do longa e foi responsável por alguns treinamentos da atriz principal. Em entrevista para o portal Adoro Cinema, Ana de Armas revelou que a preparação para as cenas de ação foi intensa e exaustiva, com meses de treinamento com armas, dublês e o próprio Keanu.
“A parte física foi brutal. Foi realmente intenso. Eu treinei por cerca de quatro meses, com armas, com a equipe de dublês, com meu treinador, uma dieta maluca. Quer dizer, foi intenso. Eu sabia que assumir esse papel daria muito trabalho. Desde o começo, desde o desenvolvimento do roteiro e da história, trabalhando na personagem, nas emoções, no contexto e tudo para que fizesse sentido, para criar empatia por ela e embarcar nessa jornada com ela”, explicou a atriz sobre os desafios como protagonista de Bailarina.
Entretanto, em entrevista para o Collider no ano passado, ela reforça que está criando um novo legado. “Acho que há algumas marcas registradas no estilo das lutas de John Wick, e coisas que ele faz que são muito particulares a ele (…) Há alguns pequenos detalhes que são parecidos, mas Eve Macarro é Eve Macarro. Ela não é John Wick”.

Foto: Reprodução
Ela ainda revelou que construiu sua personagem buscando um equilíbrio entre um lado ‘durão’ e vulnerável. “Ela é uma voz feminina muito poderosa e está neste mundo dominado por homens e eles são todos esses assassinos enormes. Eu preciso sentir que ela está com dor. Ela está de luto pelo assassinato do pai, sabe? E eu queria que isso também se traduzisse no aspecto físico e eu queria levar uma surra também, superar isso e continuar. É o que a torna identificável e durona. Acho que conseguimos o ponto ideal, bem no meio, forte, mas também há algum tipo de fragilidade e vulnerabilidade nela”, disse.
O diretor também foi enfático em reiterar que Eve não é John Wick. “Uma das coisas que foi muito importante desde o início foi que eu não pretendia fazer uma versão feminina de John Wick, mas que John Wick fosse John Wick. Ana de Armas vive uma personagem completamente diferente, incrível por si só. Ela é uma nova personagem no mundo, não alguém que está reproduzindo o que John Wick faz”, disse para o IGN Nordic.
Crítica
Sérgio Alpendre, da Folha de S.Paulo, destaca a mistura entre o balé e a matança, um paralelo entre delicadeza e brutalidade. “A dualidade entre a elegância do balé e a violência das matanças dá o tom do filme, espelhando a delicadeza dos traços da atriz com a carnificina que ela provoca”.
É interessante o modo como o universo dos quatro longas, principalmente do terceiro, “John Wick 3: Parabellum”, de 2019, pela cronologia dos eventos, sofre a invasão de Eve. Ela encontra vários personagens conhecidos da série, a começar pela óbvia Angelica Huston. É uma costura bem-feita para integrar o drama de Eve no mesmo universo em que John Wick transita.
Um outro trunfo está na fluência de “Bailarina”. Apesar de ter muitas cenas de ação, o que poderia resultar numa certa ressaca da aceleração constante, o filme passa suave, divertido, não nos sentimos cansados com a montanha-russa.
Já Angelo Cordero, da Rolling Stone, pontua que o filme não alcança o potencial de seus antecessores, chama a vingança de Eve de “fraca” e “rasa”. “Em suma, Bailarina é uma adição razoável ao universo de John Wick, ainda que aquém de seu potencial, sendo um filme que se limita a reproduzir elementos reconhecíveis, sem a mesma potência, inovação ou inventividade. Carece de um vilão mais marcante, um arco emocional mais complexo e, sobretudo, a sensação de que estávamos diante de algo tão marcante quanto o original. Por fim, é um spin-off que tenta, mas não consegue, carregar o peso do legado que o inspira”.
Resta ir ao cinema conferir o longa, sem se deixar levar apenas por críticas, que, nesse caso, podem ser fundamentadas no saudosismo masculino a persona de John Wick e a Keanu Reeves.
Por Carolina Rampi