Escritor se inspira na cultura sul-mato-grossense para criar a história em quadrinhos ‘A Ausente Ordem das Coisas’
A história em quadrinhos “A Ausente Ordem das Coisas”, escrita pelo artista visual, escritor e muralista Fabio Quill, é inspirada em elementos da cultura regional, como as árvores retorcidas do Cerrado e a guavira, cultura pop e as lendas urbanas da “Bruxa da Sapolândia” e “João de Barro”.
A “Bruxa da Sapolândia” foi uma mulher presa por matar crianças e virou lenda de terror em Mato Grosso do Sul, e “João de Barro” é uma ave trabalhadora e construtora por natureza, uma das espécies mais populares, especialmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. No livro, um grafiteiro é engolido por uma mulher enquanto colore os muros da cidade.
Apesar de ser paulistano, Quill mora em Campo Grande desde 2017 e para a história buscou referências que parecem familiares e fazem parte do imaginário coletivo, que pode ser percebido principalmente pelo leitor sul-mato-grossense. A obra é um projeto incentivado pelo FIC-MS (Fundo de Investimentos Culturais de Mato Grosso do Sul) e teve mais de 200 cópias distribuídas nas escolas estaduais.
Autor
A paixão pelas histórias em quadrinhos chegou na vida do paulistano Fabio Quill ainda criança, quando ele conheceu os gibis. “Os quadrinhos chegaram bem cedo na minha vida, por meio de um vizinho que comprava gibis em uma feira e isso mexeu bastante comigo, pois, desde criança, gostei muito de desenhar e, a partir daí, eu me encantei com a linguagem.
Na passagem da minha adolescência para a juventude, eu tentei entender como isso (história em quadrinhos) poderia ser possível, pois morava na periferia de São Paulo, onde as coisas não chegam e chegavam menos ainda sem internet, na época. Com isso, acabei me aproximando do grafite, que aborda também a questão visual, mas que estava na rua e me parecia mais possível, naquele momento”, conta o artista que, em 2011, se aperfeiçoou em um curso e deu início às suas produções de HQs.
‘A Ausente Ordem das Coisas’
Conforme os elementos da cultura sul-mato-grossense foram se encaixando em “A Ausente Ordem das Coisas”, o artista, residente em Campo Grande desde 2017, foi produzindo a história do livro de 120 páginas coloridas e capa em brochura, que conta a história de um grafiteiro que é engolido por uma mulher enquanto colore os muros da cidade.
“Pensei em usar umas lendas locais, como: ‘João de Barro’, ‘A Bruxa da Sapolândia’ e, nessa ideia, eu pensei em usar esses personagens em uma história que eu não precisasse contar a origem deles, mas colocá-los em interação com o restante da narrativa. Depois desse pensamento, outros elementos foram surgindo por observação, como as árvores retorcidas, que eram muito comuns em Mato Grosso do Sul, a questão da guavira, um patrimônio sul-mato-grossense também. Então, até convido os leitores a observarem bastante o quadrinho depois da leitura, pois tem umas guaviras que às vezes estão um pouco escondidas, em algumas partes do livro”, explica Quill.
A HQ é o primeiro trabalho da Avuá Edições, um selo editorial criado para potencializar a produção literária sul- -mato-grossense, é idealizado por Fábio e a preparadora de texto Mayara Dempsey. O prefácio tem assinatura do escritor Henrique Komatsu, que já foi parceiro de Quill em trabalhos anteriores e indicado ao prêmio Jabuti em 2021, com o livro de contos “Ototo”.
Lançamento
Na última quarta-feira (10), a obra “A Ausente Ordem das Coisas” foi lançada no Sesc Cultura, com um bate-papo com os envolvidos na produção do livro e mediação do jornalista Daniel Rockenbach, organizador do grupo de leitura Vórtice Literário. Otimista, Quill conta como se sente com o lançamento. “Eu gosto muito desse momento de lançamento, conversa, porque podemos ter um contato com os leitores. Nos quadrinhos, temos um tempo muito longo de produção, foram quase 2 anos produzindo ‘A Ausente Ordem das Coisas’ e, quando finalmente termino, é legal ter essa troca e poder compartilhar pessoalmente, com as pessoas”.
O projeto é incentivado pelo FIC-MS (Fundo de Investimentos Culturais de Mato Grosso do Sul) e, recentemente, 210 cópias do livro foram distribuídas a professores da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul, que se inscreveram antes para poder receber a obra. “A ideia é dar ao professor um pouco da literatura produzida no Estado, para que ele possa replicar isso com os alunos e colegas. E também para que isso possa ganhar a atenção daquele que forma, pois o professor tem essa função e acredito que não apenas a matemática e português, mas também a formação social e de leitura”, justifica o autor.
Por Livia Bezerra – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.
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