“As mulheres produtoras rurais têm isso; é um misto de gestação e vida, de amor e respeito pela terra”

Foto: divulgação
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Documentário relata a história de cinco mulheres que dão a vida na produção de alimentos

 

Com pouco mais de 20 minutos, mas muita emoção envolvida, estreou esta semana o documentário ‘Esmalte no Alimento’, roteirizado e dirigido pelo jornalista Sérgio Carvalho. A produção conta a história de cinco mulheres, e que, com sua força, tem um único objetivo de vida: a produção de alimentos.

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As histórias foram coletadas de mulheres produtoras rurais na fronteira do Brasil com o Paraguai, em Mato Grosso do Sul. Sob direção executiva de Gabriela Oliveira Xavier, e da produtora TBX Audiovisual, o projeto surge da necessidade de um registro documental sobre o amor ao trabalho na terra, a dedicação e os desafios de mulheres que receberam terras dos programas de Reforma Agrária Brasileira.

De forma criativa e inovadora, o documentário está segmentado em cinco eixos que representam o imaginário dos sabores que alcançamos com os alimentos: salgado, doce, amargo, azedo e umami (o quinto sabor). A linha condutora do roteiro foi inspirada na obra UMAMI, da jornalista Patrícia Leite. E nessa métrica imaginária que o documentário nos permite reconhecer, aplaudir e nos emocionar com a determinação da força feminina na produção de alimentos no Brasil.

“A ideia surgiu da angústia. Todo roteirista tem uma certa angústia solitária, apesar de ‘Esmalte no Alimento’ ter sido em vários momentos da produção uma criação coletiva. Mas foi essa angústia de resolver a linha condutora do roteiro que me fez pensar, ‘se as mulheres produzem o que nos alimenta, o que sentimos? Sentimos o que elas sentem ao produzir’. Só que no caso de quem consome temos os 5 sabores e essa realidade não muda. E foi essa linha de raciocínio que deu a linha condutora do documentário”, contou Carvalho em entrevista ao jornal O Estado.

Com direção de fotografia, captação e finalização de Marcos Mendes, os depoimentos foram coletados em formato de diálogo com o interlocutor, onde as entrevistadas relembraram períodos de acampamento, espera pela entrega da terra, a conquista do seu pedaço, e o início das atividades de criação e trabalho na lavoura.

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Para o jornalista, todas as histórias o impactaram, principalmente ao perceber situações de injustiça sofridas diariamente pelas mulheres, como dificuldades, filhos e assédio. Seguindo Carvalho foi impossível não se emocionar.

“Todas as histórias gravadas com as cinco personagens (respeitando o projeto), e a filha de uma delas, me impactaram. Mas quando você ouve de todas sobre o amor que sentem pela terra, o amor pelo trabalho que realizam, e a determinação e perseverança, você se vê num país injusto. E essa injustiça está em vários aspectos e em diferentes camadas. A assistência ao pequeno produtor rural, no caso as mulheres, os assédios, a dificuldade com os filhos, a luta na formação acadêmica para a futura geração…você se sente impotente. Me senti um jornalista emocional, impossível não enxugar algumas lágrimas, situação que dificilmente vivi na minha vida profissional: chorar”, relatou.

Experiência e emoção

Ressaltando sempre ser um trabalho coletivo, ‘Esmalte no Alimento’ traz na bagem as experiências de Sérgio Carvalho no Assentamento Itamarati. Como jornalista, ele acompanhou a instalação das primeiras famílias no Assentamento, e depois produziu reportagens para a Rede Globo; também conseguiu acompanhar a entrega de alguns títulos.

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“Saí dessa experiência com uma imagem na mente. Uma pequena propriedade administrada por um homem, é diferente de uma pequena propriedade gerida por uma mulher (sem discussão de gênero, claro). Foi assim que nasceu a ideia de produzir Esmalte no Alimento”.

Questionado sobre a questão ambiental mais recente, as queimadas que atingem grande parte do Brasil e que devastam o pantanal sem dó e piedade, o diretor acredita que é impossível não se emocionar.

“Tem dores e lágrimas. Impossível a gente não se emocionar ao ver que uma tartaruga está inteira queimada no Pantanal, que uma equipe de profissionais viajou até Miranda para transportar um tamanduá adulto vítima das queimadas. Que hoje leio a notícia de que uma onça macho adulta morreu depois de três meses de tratamento, também vítima das queimadas. É desolador”, expressou.

“Esmalte no Alimento não discute diretamente a questão ambiental, mas traz esse olhar, esse cuidado feminino com a Terra, e está em maiúsculo pelo tamanho da importância. Você ouvir em um dos depoimentos que ‘dói quando a gente precisa rasgar a terra para tirar água dela, quando temos de furar um poço”’, é lindo e doloroso. As mulheres produtoras rurais têm isso. É um misto de gestação e vida, de amor e respeito pela terra. Isso também é preservar”.

“Parece que tudo ficou assustador, mas é preciso nos mantermos calmos. Só o investimento em Educação poderá mudar tudo isso. E é assim que Esmalte no Alimento propõem ‘uma saída’. Sim, claro, é mais complexo que simplesmente ‘apontar’ uma saída, mas o caminho é a educação”, aponta o diretor.

A mulher como força

O cerne do documentário é sem dúvida mostrar a força do feminino, não só em seu círculo familiar, mas como o trabalho de uma mulher pode mudar tudo.

“Uma certeza que temos quando assistimos ‘Esmalte no Alimento’, as mulheres são incríveis. Existe um pensamento, que desconheço o autor, que diz: ‘quer ter um lar, dê uma casa para uma mulher!’ Vou me permitir um plágio: quer ter alimento de qualidade, dê um pedaço de terra para uma mulher. Conheci em Campo Grande, no extremo norte da cidade, uma moradora que transformou o jardim em alimento. É isso. Elas são capazes.

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Encontramos produtoras rurais no Assentamento Itamarati que não vão ao mercado nem para comprar açúcar, porque fazem o mascavo diretamente na propriedade. Isso é incrível e nos gera esperança”, finalizou.

Esmalte no Alimento é acima de tudo o resultado de olhares femininos sensíveis e de uma pesquisa apurada da produtora Sabrina Barros Xavier, onde o resultado final é uma homenagem à todas as mulheres que trabalham de sol a sol nas pequenas propriedades do país, produzindo alimento e vivendo do que plantam, colhem e criam sobre a terra.

 

Por Carolina Rampi

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