Exposição inédita reúne obras de 27 artistas indígenas e destaca, pela primeira vez no Estado, projeto inteiramente dedicado ao protagonismo dos povos originários
A conexão entre os povos indígenas, a terra e a natureza vai muito além da paisagem: ela é raiz, memória e criação. Pela primeira vez em Mato Grosso do Sul, essa relação ganha destaque em um espaço expositivo inteiramente dedicado ao protagonismo indígena. A exposição inédita Artistas da Natureza apresenta obras de 27 artistas de oito etnias (Guarani, Kaiowá, Terena, Kadiwéu, Kinikinau, Atikum, Ofaié e Guató) revelando, por meio da arte, os saberes e expressões que atravessam gerações.
Com curadoria da artista e educadora Benilda Kadiwéu, a mostra ocupa o Centro Cultural José Octávio Guizzo, em Campo Grande, entre os dias 13 de agosto e 26 de setembro. A entrada é gratuita, e o público poderá visitar o espaço de terça a sexta, das 14h às 20h, e aos sábados, das 9h às 18h. A iniciativa é do Sesc MS, com apoio da Fundação de Cultura de MS, da Subsecretaria de Políticas Públicas para Povos Originários e da UFMS, e integra os projetos Sesc Raízes, Sesc Mediações e Sesc LABmais.
Fabrício Machado é o idealizador do projeto e também atua como responsável técnico da iniciativa, que conta com a curadoria de Benilda e a consultoria de Sol Terena e Yvoty Medina. Yvoty, além de seu papel consultivo, ministrou uma oficina de Mediação Cultural de Arte Indígena nos dois últimos sábados no Sesc Lageado, formação considerada essencial para a preparação dos mediadores que acompanham as visitas, fortalecendo o diálogo intercultural e o entendimento sobre as expressões artísticas dos povos originários.
Mais do que uma exposição de arte, Artistas da Natureza é um convite ao diálogo intercultural, à valorização das culturas originárias e à formação de uma identidade regional mais diversa e representativa. As obras apresentadas não apenas expressam a estética indígena, mas também narram histórias, territórios e resistências, tornando visíveis as múltiplas vozes dos povos que há séculos habitam e cuidam do que hoje é Mato Grosso do Sul.
O público poderá acessar conteúdos complementares por QR Codes, e estudantes de 14 instituições de ensino, públicas e privadas, participarão de visitas mediadas com transporte escolar incluso. Além disso, o projeto contempla ações educativas com oficinas, produção de documentário e formação de mediadores culturais.
Da natureza
A exposição teve seu nome inspirado em um momento simbólico relatado pela curadora Benilda Kadiwéu, artista e educadora indígena. A ideia surgiu a partir das palavras de um ancião do povo Kinikinau, que afirmou: “os povos indígenas são artistas da natureza” , frase que sintetiza o espírito da mostra.
“É uma grande novidade: pela primeira vez, esses povos ocuparão um espaço expositivo de forma digna, como protagonistas. Isso representa um marco histórico não só para os artistas, mas para todo o estado”, afirma Benilda. O público poderá ver de perto cerâmicas, esculturas, pinturas, vestuários, produções audiovisuais e outras formas de expressão que atravessam gerações, saberes e territórios, contando com a participação de 27 artistas de diferentes cidades.

Fabrício Machado, idealizador do projeto e responsável técnico – Foto: Assessoria/Divulgação
Com curadoria de Benilda e consultoria de Sol Terena e Yvoty Medina (AVA-Guarani), a iniciativa propõe um olhar sensível sobre o protagonismo indígena, evidenciando a arte como expressão de ancestralidade, conexão com a terra e resistência cultural.
“Assumir a curadoria de Artistas da Natureza foi mais do que um convite profissional. Foi um chamado ancestral, uma missão coletiva de dar visibilidade aos artistas indígenas de MS que por muito tempo foram invisibilizados nas grandes instituições culturais do estado. A curadoria envolveu pesquisa profunda: mergulhei nas redes sociais, visitei aldeias, observei obras incríveis muitas vezes sem que os próprios artistas soubessem. Eu pensava: ‘Um dia serei curadora, e essa pessoa estará na minha lista’ Hoje, esse sonho virou realidade”, conta Benilda para a reportagem.

Foto: Benilda Kadiwéu/Arquivo pessoal
Memória
A exposição Artistas da Natureza reúne obras que se destacam pela originalidade, qualidade estética e profundidade simbólica, incluindo telas, cerâmicas, esculturas e desenhos com fortes vínculos com os biomas da região, o Pantanal, a luta ambiental e a memória dos povos originários.
Cada peça carrega uma narrativa própria, de território, resistência e ancestralidade. Participam da mostra artistas de oito povos indígenas de Mato Grosso do Sul, que, pela primeira vez, ocupam um espaço expositivo em condições dignas, como protagonistas legítimos da cena cultural. A proposta é evidenciar que o indígena é, sim, artista, com técnica apurada, linguagem própria e um repertório cultural vasto e vivo.
A exposição Artistas da Natureza também estabelece uma ponte internacional de intercâmbio cultural com o apoio do professor doutor Eduardo Viana, que levará seus alunos da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, para conhecerem de perto as obras e os artistas indígenas de Mato Grosso do Sul. A visita representa um passo importante na valorização global das culturas originárias e no reconhecimento da arte indígena como expressão contemporânea e universal.
Mais do que uma mostra artística, a exposição é um ato de inclusão, resistência e afirmação cultural. Cada obra, seja uma tela, uma cerâmica ou uma escultura carrega histórias, memórias e um apelo por respeito e visibilidade”, afirma Benilda.
Segundo Benilda, a iniciativa reforça que os povos indígenas não podem ser apagados da história, e que a arte é uma das ferramentas mais potentes para garantir sua permanência e protagonismo.
“A expectativa é de que o público saia da exposição com uma nova percepção: de que o artista indígena é criador, educador e merece reconhecimento igualitário no cenário artístico nacional”, finaliza.
Serviço: A exposição Artistas da Natureza estará aberta ao público de 13 de agosto a 26 de setembro, no Centro Cultural José Octávio Guizzo, localizado na Rua 26 de Agosto, 453, no Centro de Campo Grande (MS). A visitação é gratuita e pode ser feita de terça a sexta-feira, das 14h às 20h, e aos sábados, das 9h às 18h.
Amanda Ferreira
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