Artista combina desenhos e arquitetura de Campo Grande em uma cartilha educacional para narrar histórias

Foto: Divulgação
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Você enxerga beleza em prédios abandonados, muros pichados e obras inacabadas? “Resquícios do Tempo”, projeto criado por Sara Welter (Syunoi), visa resgatar a história de Campo Grande, promovendo o conhecimento dos locais históricos e prédios abandonados da cidade. A artista produz retratos autênticos apresentados em uma cartilha educativa ilustrada no formato de fanzine, acompanhados por 10 locais históricos da capital.

O projeto visa educar e conscientizar os estudantes sobre a história de Campo Grande, enfatizando a necessidade de preservar e valorizar esses locais como parte essencial da identidade da capital. A cartilha terá 16 páginas e oferecerá informações detalhadas sobre 10 locais históricos significativos: Edifício José Abrão, Casa Glória, Casarão, Primeira Escola, Igreja São Benedito, Morada dos Baís, Aldeia Marçal de Souza, Árvores Centenárias, Rotunda Ferroviária e Hotel Gaspar.

Ao passar das páginas, você encontrará Campo Grande dividida em quatro páginas:a primeira parte é uma breve apresentação do conteúdo da cartilha; a segunda parte é uma página explicando a importância do patrimônio histórico; a terceira parte são as ilustrações e desenhos dos 10 lugares históricos com os mini textos explicativos; e a quarta parte é sobre a ficha técnica dos desenhos e a equipe do projeto.

A ideia surgiu em 2021 durante um projeto de desenho no curso de Artes Visuais na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), quando Syunoi desenhou os lugares históricos do centro de Campo Grande por interesse próprio. Durante esse processo, a jovem encontrou alguns locais abandonados e inacabados. Ao deparar-se com essa realidade, Syunoi procurou dar visibilidade a esses ambientes e resquícios, fundamentais para a construção da história da capital.

“O principal é levar o conhecimento do patrimônio cultural-histórico para que a população e estudantes campo-grandenses possam estar valorizando a história da capital e compreendendo com esses locais históricos são importantes para nossa identidade coletiva, pois ao valorizarmos esses patrimônios culturais estão valorizando a nossa própria história”, A artista Syunoi compartilhou para a reportagem do Jornal O Estado.

Os principais desafios na produção da cartilha foram o tempo dedicado e as extensas horas desenhando sem interrupção. A cartilha foi elaborada com base nos desenhos dos locais históricos, exigindo o refinamento de todos eles antes de iniciar a diagramação. A pesquisa, os desenhos, os estudos, a diagramação e o design foram realizados integralmente pela artista. Ao todo, o processo de produção da cartilha demandou três meses.

“A arte tem papel fundamental para entendermos a cultura e a sociedade através da memória e do contexto histórico retratados. A arte, desenhos e pinturas são necessários para a preservação da memória, ao fazerem papel de documentar a história visualmente. Dessa forma, a arte educa a população por meio de figuras que facilitam a compreensão histórica de um povo”, explicou a artista.

A técnica utilizada na construção dos desenhos envolve hachuras com caneta bico de pena, tinta nanquim aguada e carvão de desenho. Esses materiais proporcionam diversas nuances de preto e cinza, tornando a produção mais interessante com contrastes variados de luz e sombra.

Os desenhos foram elaborados a partir de observações e fotografias antigas dos lugares. A artista transmitiu um aspecto de abandono e de lugares imersos em fumaça e névoa, como se estivessem perdidos no limbo do tempo. Por esse motivo, os detalhes dos desenhos incluem pichações, sujeiras e rachaduras nas construções.

“Uma dos principais referenciais artísticas que tenho nas inspirações desses desenhos são as técnicas com base no nanquim e gravuras, pois seguindo essas aplicações no desenho podemos obter artes como variações de traços e detalhes”, explicou Syunoi.

Sobre o futuro do projeto, a artista detalha que pretende ampliara para novos espaços “Com a realização desse projeto e vendo o quão importante é resgatarmos a história das cidades, tenho pretensão de ampliar essas pesquisas desenhadas por outras cidades aqui do Estado, visto que MS é rico em muitas histórias que precisam ser contadas”, finalizou a artista.

Oficina e acesso

O projeto “Resquícios do Tempo: Redescobrindo Campo Grande” incluirá a realização de oficinas artísticas baseadas na cartilha dentro da comunidade escolar. Três oficinas serão dedicadas aos estudantes, promovendo a criatividade através de colagens, desenhos ao ar livre, lambe-lambe e murais em grupo. Além disso, uma oficina de capacitação online será oferecida aos professores, explicando a importância dos patrimônios históricos e como integrá-los às aulas.

Duas palestras serão conduzidas em centros de atendimento a deficientes auditivos, beneficiando mais de 50 alunos com deficiência auditiva. Os responsáveis por ministrar as oficinas são os artistas Syunoi e Victor Macaulin.

Victor Macaulin conduzirá uma aula prática focada na utilização de tintas naturais em trabalhos realizados em papel, contextualizando sua aplicação e ensinando os alunos a produzi-las. Os alunos serão encorajados a criar obras relacionadas ao tema de memória local, seja através de pinturas com pigmentos naturais ou desenhos com carvão, que posteriormente serão integrados em um mural.

Em paralelo às oficinas, os artistas iniciarão a distribuição das cartilhas neste mês de junho. As cartilhas serão destinadas às escolas, pontos culturais, turísticos, instituições de educação, bibliotecas e instituições para pessoas com deficiência, incluindo uma versão em braille. As escolas que irão receber a cartilha e as oficinas até o fechamento da reportagem são: E. M. Prof. Alcídio Pimentel, E. M. José Rodrigues Benfica, E.M. Professora Ione Catarina Gianotti Igydio, E.M. Professor Licurgo de Oliveira Bastos e E.M. Professor Antonio Lopes Lins. Além disso, serão espalhados cartazes pela cidade com QR Code para acesso à versão digital da cartilha.

O projeto recebe financiamento da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura, através de edital municipal da Sectur – Secretaria de Cultura e Turismo de Campo Grande, vinculada à Prefeitura de Campo Grande.

Por Amande Ferrreira 

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