Aos 60 anos de carreira, David Cardoso é a história viva do cinema brasileiro

Foto: Nilson Figueiredo/O Estado MS
Foto: Nilson Figueiredo/O Estado MS

David Cardoso: Vida e obra

Por Méri Oliveira – Jornal O Estado MS

Ariano do dia 9 de abril, corintiano de coração, ator, produtor e cineasta por paixão, José Darcy Cardoso – mais conhecido como David Cardoso – se fez por conta própria no mundo artístico e agora celebra 60 anos de carreira, com uma trajetória interessante e invejável, mas, principalmente, admirável. A reportagem do jornal O Estado teve um bate-papo exclusivo com esse ícone do cinema brasileiro e você vê o resultado agora.

David Cardoso talvez não seja tão conhecido dos mais jovens, mas, com certeza, já teve seu trabalho visto e assistido por várias gerações Brasil afora, na TV, no teatro e, majoritariamente, no cinema, que foi o seu amor primeiro e segue sendo objeto do afeto do artista até hoje. “O que eu gosto no cinema é aquela coisa de chegar, sentar na poltrona, sem pessoas usando o celular, as luzes se apagam, se acende aquela telona… isso não existe mais”, afirma.

Que o homem é um aficionado pelo cinema, isso é visível e não se pode negar. Quando perguntado sobre a experiência de cada linguagem, ele afirmou que “o teatro é a formação de atores, é ótimo para quem quer se formar ator. Mas aí você pega um dos maiores atores do Brasil – quem falava isso era o Anselmo Duarte, que ganhou a Palma de Ouro com ‘O Pagador de Promessa’, único cara da América do Sul a ganhar a Palma de Ouro – ele falava ‘quem é o maior ator de teatro do Brasil?’, é o Paulo Autran, ‘mas nenhum filme que ele fez você viu’, porque uma coisa é você ser ator de teatro, outra é ator de cinema, outra, de televisão”.

O gênio Raul Cortez

Em seguida, ele relembra e exemplifica seu ponto de vista citando o ator Raul Cortez como um profissional que transitava muito bem entre atuações no cinema, teatro e na TV. “O Raul Cortez se dava bem no teatro, se dava bem no cinema, e na televisão, foi um gênio. Então, era um ator eclético. Há diferença entre teatro, cinema e televisão, eu não posso dizer quem é ator de cinema, teatro e televisão, não é isso. Cada um tem uma diferença e a minha preferência é pelo cinema, é a tela grande, você entrar no cinema, não ter ninguém com celular do seu lado, nem fumando, é a atmosfera… O cinema é o cinema!”

Cardoso afirma que, embora tenha feito quatro novelas como protagonista, não gostava de atuar na TV. “A novela te lança. Quando eu fiz a novela, não podia andar na rua, porque ‘olha lá o cara da novela’, você fica conhecido, mas não dá uma satisfação como o cinema, o cinema fica eternizado. A televisão te projeta, porque você faz uma novela e aí faz uma peça teatral, como é o caso do Fallabella, do Tony Ramos, e ‘explode’, mas essas coisas você só vive quando faz a novela.”

Saudosismo

Avesso a tanta tecnologia existente atualmente, o diretor afirma que sente saudades do cinema de uma época em que era mais fácil encontrar cinemas de rua, em vez de complexos de salas de exibição. “Infelizmente as salas grandes, de rua, quase não existem mais. Eu fiz cinco países este ano, Lisboa ainda tem uns cinemas bons, mas tudo em shoppings. Inclusive, Ponta Porã – ninguém sabe – tem quatro cinemas que são dos mais bonitos que eu vi no Brasil, e tudo isso no centro da cidade.”

Mas ele não fala apenas da ausência das salas individuais de rua na realidade atual. David também menciona a dificuldade que é fazer filmes no Brasil e, em especial, em MS. “Eu tenho saudades mais do cinema. Eu fiz sete filmes aqui em MS agora, não meus, de outras pessoas. Tem que ver os produtores que nós temos aqui, eles me chamam.

Eu colaborei [com os produtores], fiz dois minutos em um, cinco no outro, quatro no outro… e cadê esses filmes? Não lançaram ainda! É uma luta para conseguir concluir”, lamenta o cineasta.

Sonho

Mesmo com tantos feitos, realizações e prêmios ao longo de 60 anos de carreira, Cardoso nos conta que ainda tem um sonho. “Eu gostaria de fazer um filme histórico no meu Estado, sobre um trecho da Guerra do Paraguai, mas isso demanda, hoje em dia, uma logística grande e muito dinheiro. A gente ouve pessoas falando que o livro é melhor do que cinema, mas não entendem que tudo tem de ser sintetizado, há uma diferença entre uma coisa e outra.”

David Cardoso

David Cardoso nasceu em Maracaju, interior do Estado e, ainda jovem, se interessou pelo cinema. Em 1963, mudou-se para São Paulo e iniciou seus trabalhos na cinematografia. Primeiro na técnica, trabalhando como continuísta e diretor de produção na Pam Filmes, empresa de Mazzaropi. Em 1963, estreou como ator em “Noite Vazia”, fazendo uma pequena ponta. Seu primeiro papel como protagonista veio três anos depois, em “Corpo Ardente” (1966), de Walter Hugo Khouri, mas a fama, mesmo, veio com “A Moreninha” (1970), de Glauco Mirko Laurelli, baseado no romance homônimo de Joaquim Manuel de Macedo.

Em 1973, fundou a DaCar Produções Cinematográficas, produtora de quase todos os seus filmes subsequentes, tendo estreado como diretor em “Dezenove Mulheres e Um Homem” (1977).

Já como ator, Cardoso participou de mais de 40 filmes, além de novelas e peças de teatro. Ficou conhecido por atuar, dirigir, produzir ou roteirizar clássicos da pornochanchada brasileira, como “Amadas e Violentadas” (1975), “A Noite das Taras” (1980), “Caçadas Eróticas” (1984) e “O Dia do Gato” (1988).

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