Filmado no coração do Pantanal, curta-metragem estreia hoje no Sesc Teatro Prosa, em Campo Grande
Estreia hoje (3) o curta-metragem A Última Porteira, uma produção que mergulha na paisagem do Pantanal sul-mato-grossense para contar uma história íntima sobre vínculos familiares, escolhas e pertencimento. A trama acompanha Tiago, um peão de fazenda cuja vida toma um novo rumo ao conhecer Alice, sua filha até então desconhecida. Em meio ao cotidiano rural, os dois constroem, com delicadeza e profundidade, uma relação marcada por descobertas, afetos e reconexões.
Inspirado nas lembranças de infância do diretor e roteirista Rodrigo Rezende, o filme presta homenagem ao estilo de vida pantaneiro, valorizando suas paisagens, sons e tradições. As filmagens aconteceram em Aquidauana (MS), no Hotel Fazenda Baía das Pedras, durante seis dias intensos de produção. O elenco conta com Tero Queiroz, Giulia Agnes, Jurema de Castro e Nathalia Maluf.
Viabilizada com recursos da Lei Paulo Gustavo e apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campo Grande, a produção foi realizada de forma independente e carrega forte identidade regional. A estreia será no dia 3 de junho de 2025, às 19h, no Sesc Teatro Prosa, com ingressos gratuitos disponíveis pelo Sympla a partir de 30 de maio.
Como tudo começou
O filme A Última Porteira tem uma trajetória de produção que começou ainda em 2018. Em entrevista ao jornal O Estado, o diretor e roteirista Rodrigo Rezende contou que a inspiração para o curta surgiu durante uma visita à Baía das Pedras, no Pantanal, onde ele inicialmente trabalharia em um documentário. Encantado pelo lugar, teve ali o “start” criativo para desenvolver a história.
Embora as filmagens tenham ocorrido ao longo de sete dias intensos na região pantaneira, todo o processo levou cerca de três anos para ser concluído. Rezende explica que esse tempo foi necessário para a escrita do roteiro, inscrição e aprovação em edital, captação de recursos e viabilização da produção. Ao todo, cerca de 20 profissionais participaram do projeto, incluindo equipe técnica, elenco, produção, motoristas e apoio logístico.
“O filme é composto por vários fragmentos das minhas lembranças, não só da infância, mas da vida toda. Fui pegando esses pedaços da minha história e costurando tudo para formar uma narrativa. A inspiração para o personagem Tiago veio do meu avô. Foi ele quem me ensinou a abrir porteira, arrumar cerca, tirar leite de vaca, andar a cavalo. Foi ele quem me apresentou esse ambiente rural. E não foi no Pantanal, foi na ‘chácara’ dele, ali perto de Camapuã, na região de Figueirão”, explica Rodrigo.
Anos depois, já na fase adulta, durante a produção do documentário no Pantanal, Rezende teve um reencontro com essa rotina rural que marcou sua infância e adolescência. Essa vivência foi essencial para reacender memórias e dar forma à narrativa do curta, que carrega elementos autobiográficos e homenageia a cultura pantaneira.
Um dos elementos mais marcantes da experiência pessoal do Rodrigo que influenciaram diretamente a construção dos personagens e da narrativa de A Última Porteira foi o contraste entre a vida urbana e o cotidiano no campo. Ele explica que buscou evidenciar esse choque cultural por meio da personagem Alice, que, ao chegar ao Pantanal, vivencia um estranhamento diante da realidade rural, algo que o próprio diretor experimentou na infância.
“Morei na cidade, com todo o conforto, e nas férias ia para a chácara do meu avô, onde tudo era mais simples. Dormíamos em redes, com morcegos passando perto da orelha, e o contato com animais como cobras e aranhas era constante”, relembra Rezende. Essa diferença entre os dois mundos, segundo ele, foi essencial para dar autenticidade à história e aproximar o espectador das suas próprias vivências.
Pantanal em tudo
Dirigir o filme foi uma experiência gratificante para o roteirista Rodrigo, especialmente por contar com um elenco que ele já admirava antes mesmo do projeto começar. Essa afinidade com o elenco facilitou a condução das cenas mais emocionais, contribuindo para a profundidade das relações familiares retratadas no curta.
“Sempre fui fã do Lutero, já tinha assistido a vários trabalhos dele e sonhava em dirigi-lo. Com a Giulia, que interpreta Alice, tive uma conexão imediata após vê-la em um espetáculo. Me emocionei e sabia que ela tinha tudo a ver com a personagem. A Nathalia Maluf é minha amiga e já conheço o talento dela, e a Jurema, com quem já trabalhei antes, é extremamente profissional”, conta o diretor.
Gravar no Pantanal, apesar dos desafios logísticos, também foi um processo natural. Rezende destaca que o ator Tero Queiroz, que interpreta Tiago, cresceu em ambiente rural e se sentiu em casa no papel. Já Giulia, segundo ele, é curiosa, dedicada e compartilha características com sua personagem, o que ajudou na construção da atuação.
“A equipe talvez tenha enfrentado mais dificuldades, especialmente com o calor intenso e a rotina puxada de gravações ao amanhecer, para aproveitar a luz natural e o clima mais ameno. O Pantanal é quase um personagem do filme. A natureza, os sons, a cultura local. Tudo está presente de forma viva e integrada à narrativa. Era fundamental que o ambiente não fosse apenas pano de fundo, mas parte ativa da história.O Pantanal é quase um personagem do filme. A natureza, os sons, a cultura local..tudo está presente de forma viva e integrada à narrativa. Era fundamental que o ambiente não fosse apenas pano de fundo, mas parte ativa da história.”, comenta.
Na direção de A Última Porteira, Rodrigo teve como principal objetivo construir uma obra realista e fiel ao cotidiano pantaneiro. Para isso, priorizou elementos como figurinos autênticos, luz natural e atuações espontâneas, evitando exageros ou estereótipos regionais. A fotografia do filme valoriza a paisagem com planos abertos e longos, destacando o Pantanal como um verdadeiro personagem da narrativa. Rezende também fez questão de retratar a pecuária local, ressaltando seu caráter sustentável e a relação de respeito com o meio ambiente, inspirada em experiências vividas com moradores e parceiros da região, como os da Baía das Pedras.
“Queremos que ele leve um pouquinho da nossa cultura para outros cantos do Brasil e, quem sabe, até para o mundo.Um dos principais objetivos é que o povo mato-grossense se veja nesse curta-metragem e sinta orgulho de si mesmo, da sua história, do seu jeito de viver.E, se o filme tiver uma boa recepção, quem sabe a gente não faz uma versão longa-metragem dessa história? Sempre tentando fazer o máximo de trabalhos regionais possível, com esse foco na valorização da nossa cultura”, finaliza Rodrigo.
Serviço: O curta-metragem A Última Porteira estreia nesta terça-feira, 03 de junho, às 19h, no Sesc Teatro Prosa, localizado na Rua Anhanduí, 200, em Campo Grande (MS). Com classificação indicativa livre e duração de 27 minutos, a sessão é aberta ao público e tem entrada gratuita. Os ingressos podem ser retirados online pela plataforma Sympla a partir do dia 30 de maio, às 14h, por meio do perfil @sescculturams. Para mais informações, a assessoria do filme está disponível pelo telefone (67) 99247-8026.
Por Amanda Ferreira
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