A arte de reciclar roupas

A venda de roupas usadas tem crescido muito em todo o país. A internet e as redes sociais influenciam para que as negociações ocorram de forma mais rápida e simples. Tem até aplicativo próprio para revenda de peças seminovas. Mas existem também aqueles que optam pelo tradicional e preferem manter as lojas abertas para que os clientes possam garimpar.

Esse é o caso da comerciante Dolly Batista. Já são mais de 13 anos atuando no ramo, que, apesar de crescer com o passar dos anos, ainda precisa de maior adesão da população. Ela conta que entrou no ramo quase por acaso.

“A loja começou após eu perder meu emprego e, com pouco dinheiro, buscava alternativas para novas roupas para meu filho que ainda era criança e vinha crescendo muito rápido. Uma amiga me deu a ideia de ir até o Centro tentar trocar as peças que ele já tinha por algumas outras novas. Aproveitei e levei algumas minhas, mas a dona não aceitou”, contou.

Ao observar a forma com que a loja trabalhava, em que as roupas ficavam expostas na frente e uma cozinha funcionava nos fundos, Dolly pensou: “por que não tentar?”. Assim começou a vender com as próprias peças, que haviam sido negadas na loja.

“Para começar, é só preciso vontade. Eu já tinha alguma experiência com lojas e com algumas peças comecei a vender. Com o dinheiro, mandei fazer cartões e comecei a distribuir nos pontos de ônibus, escritórios e fui conquistando um público. E fui garimpando com amigas peças que elas já não usavam mais e gostariam de vender”, relembrou.

A experiência à frente da loja Doka Reciclagem Fashion mudou sua forma de enxergar o mundo. A consciência e a preocupação com o meio ambiente é maior e o trabalho, hoje, é levar isso para outras pessoas.

“Por volta de 2015, eu comecei a perceber a importância deste trabalho para o meio ambiente. Foi quando mudei o nome da loja e tirei o Brechó e coloquei Reciclagem Fashion. O consumo desenfreado de roupas e sapatos é algo que faz muito mal para o mundo. São toneladas produzidas todos os anos, enquanto existem peças boas e com qualidade, que podem ser reutilizadas. Essa consciência tem crescido aos poucos na população, mas ainda tem muito a evoluir”, pontuou.

Brechó alternativo

Proprietária do Gaveta Brechó, Lauren Cury foi uma das pioneiras a trazer o conceito de brechó alternativo para a cidade. A ideia para começar veio após a conclusão dos cursos de moda e o de artes visuais, em que buscou unir a vontade de trabalhar com a roupa e com outras peças artísticas de produção local. O desejo se transformou em um ateliê, aberto em 2010.

“Foi uma junção de vontades, em que poderia desenvolver os cursos em que sou formada no ateliê. Nessa trajetória de brechó, comecei a trazer para essa realidade o olhar mais consciente sobre o consumo, com um cuidado na hora da compra”, apontou.

Lauren destaca que, atualmente, a demanda de consumo é o fast fashion, em que novas peças são lançadas a cada seis meses e tende a resultar em uma montanha de peças perdidas no guarda-roupa, ou acabam virando lixo por serem peças de baixa qualidade. Ao incentivar o consumo consciente, também se promove o consumo nos brechós.

Após cinco anos de trabalho em um ponto fixo, Lauren fez um projeto para se tornar mãe. Buscando uma flexibilidade maior no trabalho, elaborou um projeto de venda itinerante. Após uma campanha de arrecadação de fundos, comprou uma kombi, a reformou e a transformou em ateliê móvel.

“Deu muito certo a iniciativa e, com a loja móvel, comecei a fazer eventos. Continuei fazendo algumas coisas quando engravidei, fiz outras enquanto ele era bebê, mas chega uma hora que nós precisamos fazer uma pausa. Para não parar, abri um outro ateliê, no qual atendo com hora marcada”, disse.

Nessa nova fase, inspirada pelo nome do brechó, deu início a um projeto em que convida as clientes para abrirem suas gavetas e mostrarem seu acervo. Como consultora, Lauren também ensina formas diferentes que as roupas podem ser usadas, para aproveitar da melhor forma as peças que já existem no armário.

Nas redes sociais

Nas redes sociais, é cada vez mais comum a criação de brechós e até mesmo alguns perfis que trabalhem apenas com peças de desapego. Mas, para dar continuidade e ter sucesso com as vendas, é preciso criatividade. Gabrielly Costa tem um brechó on-line, o Desplugado Brechó.

O início do brechó começou com o incentivo da mãe, que tinha algumas peças e tinha vontade de começar a vender, mas não conseguia conciliar com o trabalho. Após concluir a Faculdade de Direito e não se identificar com o curso, Gabrielly colocou em prática o sonho da mãe e assumiu a responsabilidade da loja. No início, o empreendimento também era presencial.

“Aos poucos, fui mudando a identidade visual do brechó e comecei a vender mais. Aconteceram algumas coisas que me fizeram fechar a loja física e, com a chegada da pandemia, passei a focar mais nas redes sociais, o que tem dado muito certo. Aos poucos, estou crescendo”, revelou.

No entanto, o trabalho com a rede não é tão simples, pois é preciso muita dedicação e tempo para produzir conteúdo e se destacar em meio a tantas pessoas que têm apostado no mesmo ramo.

“Trabalhar só com on-line tem me feito aprender muitas coisas. Para fazer com que as pessoas cheguem até você, é preciso ter uma boa foto, fazer um bom anúncio nas redes. Hoje, principalmente, o Instagram é uma vitrina para a loja. Tudo tem de ser convidativo para os clientes. No começo, foi bem difícil”, relembrou.

SERVIÇO: No mês de fevereiro, Lauren vai ministrar uma live para falar sobre consumo e dar dicas sobre como utilizar as peças, por meio do perfil @ gavetabrecho, no Instagram. As lojas Doka Reciclagem Fashion e Desplugado Brechó também podem ser acessadas por meio do Instagram, nos perfis @dokareciclagemfashion e @desplugadobrechó, respectivamente.

Texto: Amanda Amorim

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