Documentário sobre o Hospital São Julião resgata memórias, voluntariado e a força curativa da arte
Foi lançado nessa segunda-feira (18) no auditório Gunter Hans, o documentário ‘Hospital São Julião: A arte de Reabilitar Vidas’, dirigido pelo jornalista Sérgio Carvalho. A produção retrata a trajetória da Presidente de Honra, Irmã Silvia Vecellio, na reconstrução e fortalecimento da instituição, que neste mês completa 84 anos de história. A celebração fica ainda maior, pois também comemorou os 94 anos de vida da Irmã Silvia, e marcou a nomeação do grande auditório do Hospital com o nome do benfeitor e artista Ney Latorraca.
A obra audiovisual reuniu imagens de arquivo, depoimentos de pessoas que participaram de forma ativa da transformação do hospital e cenas atuais que conectam passado, presente e futuro. São três episódios, onde o público acompanha momentos que vão da sapataria à palhaçaria, das esculturas de João Zumelho à poesia de Lino Villachá, que revela como o hospital transformou a dor em expressão artística e aconhecimento.
O evento contou com a presença do Governador Eduardo Riedel, autoridades do governo estadual, o elenco do filme, o Cant’arte Coro Lírico, Irmã Sílvia e Edi Botelho, companheiro de Ney Latorraca. Durante o lançamento, Carlos Augusto Melke, presidente da ABARH (Associação Beneficente de Auxílio e Recuperação dos Hansenianos), destacou como o documentário revela as transformações promovidas por Irmã Sílvia, que tornaram o hospital um local de cura e reabilitação.
“O documentário é um resgate da história de um local que foi de sofrimento, dor, morte, que era o antigo leprosário do Estado. A partir de determinado momento, chega a Irmã Silvia, mais de 50 anos atrás, e doou a vida dela para transformar o que conhecemos como o Hospital São Julião, um local de saúde, de cura, alegria, acolhimento e até de arte”, disse a reportagem do Jornal O Estado.
Melke também adiantou à reportagem que o documentário ultrapassará as fronteiras, com exibição na Itália. “Ele será exportado para o exterior, porque o São Julião tem um envolvimento muito grande com a Itália. Eles estão esperando ansiosamente o filme, ele será dublado em inglês e italiano, e quando terminar será enviado”.
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- Sérgio Carvalho: O jornalista e cineasta é o diretor do documentário que homenageia o hospital – Foto: Nilson Figueiredo
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- Carlos A. Melke: Presidente da Associação Beneficente de Auxílio e Recuperação dos Hansenianos – Foto: Nilson Figueiredo
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- Presidente de Honra: A Irmã Silvia Vecellio é a inspiração para ‘Hospital São Julião: A arte de Reabilitar Vidas’ – Foto: Nilson Figueiredo
Olhar além do preconceito
Um local que vai além do peso da doença, da tristeza e do preconceito. É assim que o diretor do documentário, Sérgio Carvalho, vê o Hospital São Julião. Em 2023, Sérgio viu de perto todo o trabalho realizado pela instituição, ao trabalhar como assessor de comunicação. Foi a partir disso que surgiu a vontade de criar o documentário, com objetivo de fazer um recorte da arte como instrumento de reabilitação de vidas.
“Ele é histórico em MS, e dentro dessa história tem muita arte. O hospital é um berço de arte quando falamos de arquitetura, escultura, literatura e música. Tivemos três sets de gravação, o próprio hospital, a Estação Ferroviária de Campo Grande e o Colégio Auxiliadora, além do estúdio. Ouvimos artistas e fazedores culturais dentro desse recorte, o Hospital São Julião como berço da arte no processo de reabilitar vidas”.
Com mais de 80 anos de história, Sérgio revela que catalogar e selecionar o que seria usado no documentário foi um processo “sofrido”, de uma boa maneira. “Sofrido porque precisamos eliminar uma série de situações, não dá para contar tudo. Mas foi preciso fazer um intenso trabalho de imersão, de estudar, ver datas, analisar documentos, observar fotografias. Contamos com uma equipe para isso: a roteirista Lenilde Ramos, a pesquisadora Roberta Costa, o assistente de direção Haroldo Garay, a produtora Sabrina Xavier, a diretora-executiva Gabriela Xavier”.
Além de roteirista, a jornalista e escritora Lenilde Ramos foi uma das depoentes no documentário, onde compartilhou lembranças e experiências vividas no São Julião. Lenilde tem grande parte de sua vida entrelaçada com o hospital: desde os 17 anos ela se dedica a instituição, tendo estudado no Colégio Auxiliadora, e durante 30 anos, realizou trabalhos no local, como professora, secretária, e artista.
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- Edi Botelho: O companheiro do saudoso ator Ney Latorraca marcou sua presença na solenidade – Foto: Nilson Figueiredo
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- Valentina Xavier: A atriz que interpreta a Irmã Silvia relatou que foi uma honra representar a religiosa – Foto: Nilson Figueiredo
Inspiração
A responsabilidade foi grande, mas Valentina Xavier não recuou. Para o Jornal O Estado, a psicóloga revelou que ‘A arte de reabilitar vidas’ foi seu primeiro trabalho como atriz, mas a honra de poder representar uma figura tão importante para a cultura sul-mato-grossense foi um incentivo.
“Foi uma honra representar ela, um privilégio, pois é uma história linda. A Irmã Silvia virou uma inspiração de vida, foi mega especial. Ela tem uma trajetória tão humilde, com tanta vontade de ajudar os outros, foi o que me ajudou. Teve desafios, como a ansiedade e o nervosismo, mas deu tudo certo”, revela.
O presidente ainda destaca que o documentário está alinhado à pauta global da Agenda 2030 da ONU e aos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), nos quais a cultura exerce papel essencial na preservação do patrimônio histórico-cultural e a saúde mantém o compromisso de assegurar vidas saudáveis e promover o bem-estar para todos.
“Recontar a história da Irmã Sílvia Vecellio é reconhecer a força de uma mulher que não mediu esforços para reconstruir o Hospital São Julião com amor, visão e coragem. Este documentário eterniza não apenas sua trajetória, mas também os valores que ela deixa como legado para todos nós que acreditamos na saúde como um ato de amor ao próximo”.

Foto: Assessoria/Divulgação
Homenagem
O evento também prestou homenagem ao ator Ney Latorraca, falecido em dezembro de 2024, que destinou parte de sua herança a três entidades filantrópicas brasileiras, incluindo o Hospital São Julião, reconhecendo o trabalho histórico no combate à hanseníase no Estado. Em tributo ao seu legado, o auditório Gunter Huns, foi rebatizado como Auditório Ney Latorraca. Para receber a homenagem, esteve presente o escritor e diretor teatral Edi Botelho, companheiro de Ney por 29 anos, que destacou a importância do ator e de sua conexão com a causa.
“Quero ressaltar a forte ligação dele com Campo Grande, onde sua mãe nasceu. A avó de Ney, Dona Maria, espanhola de personalidade forte, também teve grande influência na cidade. Me sinto muito honrado em estar aqui recebendo essa homenagem em nome dele, apoiando a arte em que ele sempre acreditou e também no Hospital São Julião onde esteve presente em suas ações”, finaliza.
O documentário é uma realização da Macro Vídeo, com coprodução da TBX Audiovisual e da Uaná Produções, contando com apoio e financiamento da Lei Paulo Gustavo, com Governo Federal, Ministério da Cultura, FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul ) e SETESC (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura).

Foto: Nilson Figueiredo
Amanda Ferreira e Carolina Rampi