A arte de ensinar arte! No Dia do Professor, profissionais da rede pública contam ao jornal O Estado os desafios e alegrias do ensino da arte

Foto: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

Do risco à cor; das formas às texturas; artistas, obras, museus… o primeiro contato que temos com a arte é na escola, começando com o fundamental e, em seguida, como um meio de compreender o mundo, explorando as diferentes culturas existentes. A arte nos oferece uma nova perspectiva através da pintura, escultura e até fotografia. E quem guia esse aprendizado são os professores e professoras, que se empenham em revelar o que há ao nosso redor e nos ajudam a despertar nossos sentidos artísticos.

Na mão delas

Formada em Artes Visuais – Licenciatura Plena pela UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), a professora Ana Claudia Monteiro da Silva Bento começou o seu ensino na sala de aula com o desejo de ser ‘algo a mais’, metodologia que segue até hoje. Para ela, a arte tem um papel extremamente importante na escola hoje, por ser uma linguagem e forma de expressão que permite que o aluno tenha a oportunidade de compreender o mundo.

“Além de ser uma linguagem, a arte também oferece a possibilidade do aluno desenvolver a criatividade. A criatividade, hoje, é essencial para a sobrevivência do ser humano. Não só focando na matemática, na língua portuguesa, na história, geografia, que são ciências extremamente importantes, mas a arte também tem um papel extremamente relevante nesse processo de ensino e aprendizagem das crianças na escola” argumentou em entrevista ao jornal O Estado.

Já para a professora Juliana Moreno Cavalheiro, o ensino da arte começou por acaso, quando ainda morava no município de Amambai, em 2010. Mesmo com o desafio, ela colocou a mão na massa. “Fui convidada para dar aula de arte em uma escola estadual. Na época, não tinha professor de arte habilitado e assumi o desafio de ensinar arte para turmas do Ensino Fundamental 1, 2 e Turmas do Ensino Médio. Com esse desafio nas mãos, eu vim para Campo Grande e comprei uns livros de arte usados em Sebos para estudar e preparar melhor as aulas para meus alunos. Quando me mudei fiz o ENEM e entrei no curso de Artes Visuais na UFMS em 2012”, relembrou.

Para Juliana, o papel do ensino da arte vai além da transmissão do conhecimento relacionado a história da arte, sendo a criatividade um dos aspectos mais importantes.

Criatividade: as crianças aprendem a expressar a arte através de desenhos produzidos a partir do que estudam – Foto: arquivo pessoal

“Além de aprender sobre o legado artístico nos diversos lugares do mundo e períodos da história, estudando movimentos artísticos, artistas e suas respectivas obras de arte, o ensino de arte desenvolve outras habilidades como leitura de mundo, pensamento crítico, imaginação, concentração e criatividade. Ser criativo e se reinventar faz parte do mundo atual. A capacidade de poder se expressar por meio da arte, seja por um desenho, uma pintura, uma música, um poema, uma dança em um mundo tão tecnológico, é o que nos faz humanos”.

Como ensinar

Educadora desde 2011 na Escola Municipal Professora Maria Tereza Rodrigues, Ana Claudia conta que alia seu ensino com o referencial curricular desenvolvido pela Semed (Secretaria Municipal de Educação) e com seu próprio planejamento, voltado para o ensino da arte para crianças dos anos iniciais (1º ao 3º ano).

“Trabalho com eles, por exemplo, os elementos da linguagem, a qual são as linhas, pontos, formas, cores e busco referencias não só na arte europeia como na local, temos muitos artistas que eu utilizo como referencia no meu trabalho”, explica.

“Dentro do possível procuro levar esses artistas para a sala de aula para que as crianças tenham um contato mais direto, mais real com a arte também. Gosto de propor para que eles possam recriar essas obras de arte com o olhar deles”, complementa.

A professora Juliana comenta que engajar os alunos nas atividades também é uma preocupação em suas aulas. “Tento fazer com que os alunos compreendam aquele artista, ou obra, ou movimento artístico e vejam sentido na proposta artística. Outro ponto significativo nesse processo de engajamento é a questão do afeto. É importante saber acolher e ouvir o aluno, compreender suas dificuldades, medos e inseguranças e levá-lo a acreditar em suas capacidades e potenciais”.

Barreiras

Entretanto, mesmo com o planejamento, há dificuldades ao longo do caminho, principalmente no ensino público brasileiro. A professora destaca a falta de um ambiente adequado para as crianças, onde ela poderia trabalhar com música e imagens previamente preparadas, evitando o deslocamento rápido que os profissionais precisam fazer de uma sala para outra.

“Essa é uma grande dificuldade que, muitas vezes, até desmotiva alguns professores em realizar práticas mais agradáveis, criativas, atrativas, até para as crianças”, argumenta. “A sala de arte é o sonho de todo professor de arte. Ele poderia ser um espaço que oferecesse mesas, bancadas, pia para lavar as mãos e materiais”.

Outro ponto que Ana Claudia traz é a falta de materiais. Ela reitera que muitas vezes a escola consegue atender algumas solicitações, mas nem sempre é o suficiente, então a profissional precisa de ‘jogo de cintura’.

Foto: arquivo pessoal

“Se você não tem muitos materiais na escola, você pode utilizar materiais recicláveis, você pode utilizar elementos da natureza, uma folha, você pode dar uma aula incrível utilizando folhas naturais, por exemplo. Então, o professor de arte tem que ser extremamente criativo, audacioso e buscando sempre soluções”.

O espaço adequado para o ensino da arte também foi apontado por Juliana. “Não temos uma sala de arte. Como professora de área, tenho 11 turmas distribuídas em duas escolas. A faixa etária vai desde 4 anos aos 16 anos e a cada aula carrego meus materiais em mochilas e sacolas grandes, subindo e descendo escadas”, disse.

A realidade socioeconômica dos alunos também é uma barreira, segundo Juliana. “Mas na sala de aula nos deparamos, muitas vezes, com outros desafios mais sérios, como crianças com transtornos de aprendizagem, dificuldades de organização, de atenção, de socialização, de seguir regras, de saber lidar com suas emoções, especialmente a ansiedade. Muitas famílias são parceiras, mas algumas são alheias a esses problemas”.

O Futuro

As dificuldades não impedem que Ana Claudia siga com o desejo de um espaço próprio. “A minha esperança, a minha visão para o futuro é que, assim como é importante a sala de aula para o ensino das demais ciências, assim como a quadra é importante para o professor de educação física realizar as atividades, um ambiente adequado para o ensino da arte também é importante”.

Para ela, uma das maiores felicidades é quando seus alunos, mesmo aos oito anos, já estão decididos a serem professores de arte. “Fico feliz de saber disso porque, mesmo eles percebendo as dificuldades que enfrentamos, eles veem que existem possibilidades de você mudar essa realidade usando a sua criatividade, que é isso que a gente procura desenvolver tanto nas aulas de arte. Independente da profissão que eles sigam, eles precisam sempre dar o seu melhor para que eles possam ver um sentido naquilo que eles fazem”.

“Gostaria que a arte fosse vivida pela criança em sua plenitude. Gostaria que todas pudessem conhecer, no mínimo, os museus da nossa cidade, que pudessem ter acesso a boas peças de teatro, a bons espaços de cultura. Gostaria de ver adolescentes e adultos reconhecendo artistas ou obras de arte em filmes, novelas, matérias de jornais, lembrando que aprendeu isso na escola e que gostava das aulas de arte porque conheceu outras culturas, outras civilizações, outros tempos e que isso os ajudou a ver o mundo de um jeito diferente”, finaliza Juliana.

 

Por Carolina Rampi

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