5ª edição Dancidades: Dança e Cidadania

Foto: Vaca Azul/Divulgação
Foto: Vaca Azul/Divulgação

Com programação gratuita, Dancidades promove formação e reflexão sobre acessibilidade na dança, ampliando o acesso e a participação de públicos com e sem deficiência na Capital e Dourados

Entre os dias 11 e 24 de agosto, Campo Grande e Dourados recebem a 5ª edição do projeto Dancidades: Dança e Cidadania, que promove oficinas, encontros e apresentações artísticas com foco na acessibilidade cultural. O evento propõe um olhar atento à presença e participação de públicos com e sem deficiência desde a concepção até a finalização das obras.

Após quatro edições, o Dancidades amplia suas perspectivas ao provocar reflexões sobre os modos de fazer arte contemporânea acessível e inclusiva. Com a proposta de pensar a arte como um espaço aberto à diversidade, o projeto convida profissionais da cultura a repensar processos criativos e curadorias voltadas à democratização do acesso, valorizando tanto o artista quanto o público como protagonistas dessa experiência.

Realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo e apoio da Fundação de Cultura de MS, Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura, Governo do Estado, Ministério da Cultura e Governo Federal, o projeto traz como destaque a oficina Poéticas da Acessibilidade: Curadoria e Criação em Artes Cênicas, conduzida pelas artistas Soraya Portela e Anita Gallardo, do Piauí. A iniciativa reforça que acessibilidade vai além de adaptações técnicas: trata-se de escutar, incluir e criar para todas as pessoas, desde o início.

Oficinas:Serão oferecidas diversas oficinas tanto na Capital como no município de Dourados – Foto: Vaca Azul/Divulgação

De artistas para artistas

A produção da 5ª edição do Dancidades está a todo vapor, mobilizando diretamente cerca de 30 profissionais entre artistas, produtores, técnicos, tradutores de Libras, oficineiros e equipe de comunicação. De acordo com Renata Leoni, da Arado Cultural para o Jornal O Estado, os ensaios e preparativos estão intensos nas duas cidades, com uma logística cuidadosa para garantir acessibilidade desde o início dos processos criativos até as apresentações e oficinas.

“A oficina Poéticas da Acessibilidade é voltada a bailarinos, atores, diretores, coreógrafos, mas também a gestores e produtores culturais que precisam considerar a acessibilidade já na escrita dos projetos. Muitos editais vêm exigindo isso, e é fundamental que mais pessoas possam acessar as ações artísticas”, destaca Renata. Segundo ela, esse olhar integrado e inclusivo é um dos principais desafios e também uma das maiores conquistas desta edição.

Para Renata, um dos grandes desafios na formação de artistas e agentes culturais em Mato Grosso do Sul é a falta de preparo para pensar a acessibilidade desde o início do processo criativo. O Dancidades busca preencher essa lacuna ao oferecer formação que estimula a reflexão sobre a chamada acessibilidade estética, ou seja, a criação de obras que considerem diferentes corpos, sentidos e formas de percepção, não apenas a visão e a audição. Segundo ela, pensar em como o público com deficiência pode vivenciar a arte amplia não só o alcance das produções, mas também enriquece a própria linguagem artística, propondo soluções criativas e sensíveis que tornam a cultura mais inclusiva para todos.

“Muitas vezes, a criação artística ainda é voltada exclusivamente para um público que enxerga, que ouve, que se movimenta dentro de certos padrões. O conceito de acessibilidade estética propõe justamente uma quebra desse paradigma: como criar obras que dialoguem com diferentes corpos, sentidos e formas de percepção?”, explica Renata.

Acessível

Pensar a dança e as artes da cena em diálogo com cidadania e inclusão, segundo Renata, foi a motivação central para a criação do Dancidades. O projeto nasceu com o propósito de fomentar o fazer artístico, especialmente de quem está começando ou não tem condições de buscar formação fora de Campo Grande. Todas as edições foram construídas com base em editais públicos, garantindo acesso gratuito e de qualidade. A proposta é democratizar o acesso à arte, oferecendo oficinas e cursos que considerem as diferentes realidades sociais e econômicas dos participantes.

“Pensar em acessibilidade é uma necessidade, especialmente para artistas e profissionais que trabalham com o público e que querem que sua ação realmente alcance as pessoas.É uma iniciativa pioneira aqui na cidade e no Estado na área de acessibilidade cultural. Uma das ministrantes está dentro do transtorno do espectro autista, então ela traz para a oficina a sua própria experiência de vida. Isso enriquece muito o processo. A gente precisa pensar em todas as pessoas que desejam fruir ações culturais”, destaca Renata.

Desenhos no Tempo

O espetáculo Desenho do Tempo, que será apresentado no dia 15 de agosto por Renata Leoni e Marcos Mattos, dialoga diretamente com os pilares do Dancidades, especialmente no que diz respeito à formação artística e à multiplicidade de trajetórias possíveis dentro das artes da cena. Ela destaca que o projeto como um todo foi concebido para abordar temas fundamentais como dramaturgia na dança, metodologias de ensino e sustentabilidade da carreira artística.

A obra, criada e dançada por ela e Marcos, explora a relação de amizade construída ao longo de mais de 12 anos entre os dois artistas, com destaque para o diálogo entre gerações. Renata tem 62 anos, enquanto Marcos é bem mais jovem. “Poderíamos ser mãe e filho, e é essa troca de afeto e experiências de vida e arte que levamos para a cena”, explica. Além disso, o espetáculo aborda questões como o etarismo e provoca reflexões sobre para quem se faz arte e como ela chega até o público.
Segundo Renata, a apresentação será usada como ferramenta pedagógica nas oficinas, ilustrando como pensar a acessibilidade de forma expandida, não apenas com recursos técnicos, mas desde a concepção da obra até sua fruição. “É uma forma prática de mostrar como acessibilidade pode ser incorporada ao processo criativo. Que público queremos alcançar? Em que horário, em que espaço, com que linguagem?”, questiona.

Assim, Desenho do Tempo se torna parte ativa da proposta formativa do projeto, estimulando os participantes a refletirem sobre acessibilidade como um valor artístico e cidadão desde o início da criação.

Espetáculo: Renata Leoni e Marcos Mattos apresentarão Desenhos no Tempo no dia 15 de agosto – Foto: Vaca Azul/Divulgação

Inscrições

O projeto oferece oficinas gratuitas em Campo Grande e Dourados, com vagas limitadas a 30 participantes por turma. Em Campo Grande, as atividades ocorrem de 11 a 17 de agosto, incluindo uma turma especial para alunos da UEMS e outra aberta ao público, com a apresentação do espetáculo Desenho do Tempo no dia 15, às 19h, na Casa de Cultura. Em Dourados, as oficinas acontecem de 18 a 24 de agosto, com uma turma para a comunidade acadêmica da UFGD e outra aberta ao público, finalizando com o mesmo espetáculo no dia 22, às 19h, no Casulo Espaço de Arte. As inscrições, exceto para a turma da UEMS, podem ser feitas pelo formulário disponível no Instagram da Arado Cultural (@aradocultural).

 

Amanda Ferreira

 

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