17º Festival do Sobá

(Fotos: Nilson Figueiredo)
(Fotos: Nilson Figueiredo)

Marca de Campo Grande, festa celebra patrimônio imaterial e cultura japonesa

 

Tradição, cultura e muita gastronomia histórica são alguns dos pilares da nossa Feira Central. E para celebrar, começa nesta quarta-feira (7) a 17ª edição do Festival do Sobá. O festival contará com uma programação diversificada, incluindo exposições, palestras, feiras temáticas e apresentações artísticas, até o próximo domingo (11), uma boa pedida para comemorar o Dia dos Pais.

O sobá faz parte da imagem identitária de Campo Grande. Para os que ainda não conhecem sua história completa, a iguaria é originária da Iha de Okinawa, no Japão, de onde partiram os primeiros imigrantes japoneses em direção ao Brasil, por volta de 1908. Com essa nova cultura, trazida e adaptada pelos okinawanos, que ajudaram na formação cultural da Capital, o prato caiu no gosto popular, e hoje é considerado como Patrimônio Cultural Imaterial, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Ele não é encontrado em nenhum lugar do país e nem do mundo, se tornando o ‘Sobá de Campo Grande’ motivo de orgulho e turismo para a Capital.

Criado em 2006 (mesmo ano em que virou Patrimonio por meio do decreto municipal n° 9.685), o Festival do Sobá surge para celebrar essa cultura japonesa e a importância do prato para Campo Grande. “Ele foi trazido pelos imigrantes japoneses, que vieram de Okinawa para Campo Grande e foi adaptado em Mato Grosso do Sul, devido a forte influência da bovinocultura”, explicou Alvira Appel, diretora da Afecetur (Associação da Feira Central, Cultural e Turística de Campo Grande-MS) e organizadora do evento, em entrevista ao jornal O Estado.

Ela ainda reforça que o festival consegue unir as celebrações das tradições e ainda trazer certa modernidade, seja nos eventos culturais ou no preparo do próprio sobá.

“Temos que observar o seguinte: as tradições são lindas e maravilhosas, temos que enaltecê-las e não perdê-las. Mas, é preciso acompanhar as inovações, o novo mercado, cada ano nós fazemos o retorno as origens com a inovação. Por exemplo, nada impede que os comerciantes tragam novidades nos seus pratos, que ofereça um sobá vegano, vegetariano, a base de peixe, ou galinha, enfim, as variações podem ser várias, mas nós temos o ícone, o patrimonio de Campo Grande, que é o sobá com a nossa carne, o nosso cheiro verde, e dele nós fazemos oficinas e temos o espaço cultural aberto para que a sociedade conheça as diferenças de um e de outro”, destacou.

Ode ao patrimonio

Segundo Appel, o festival vai além de uma celebração anual, já que a Feira Central segue todos os dias exaltando as diferentes culturas existentes em Campo Grande.

“Existem espaços públicos em todo Brasil, que uma vez ao ano fazem algum festival: fazem chamadas públicas, chamam pessoas para venderem seus artefatos, um grande festejo. Mas a Feira Central é permanente, e quando se faz uma festa tradicional como a nossa, para zelar e preservar essa comunidade que permanentemente esta em movimento, ela não gera empregos ‘temporários’, quer dizer que estamos mantendo três pilares, o emprego fixo, a sustentação da família, e mantendo a tradição e memória viva da comunidade japonesa. Não é só fazer uma festa temporária, mas é manter a cultura viva”, reforçou.

“Somos a capital Okinawa fora do Japão. Acho que é de grande importância, é a valorização de um legado, o reconhecimento de quanto essa comunidade construiu e modificou a vida de pessoas, contribuiu para gestar emprego e renda para a cidade, participou do PIB e do desenvolvimento econômico daqui. Fazer de novo o festival, é manter viva essa herança”, complementou.

Destaques

Este ano, a 17ª edição do Festival traz a ‘Exposição de Orquídeas e Flores, um espetáculo com cores e aromas que irão encantar os visitantes; espaços temáticos, em parcerias com o Sicredi, Sebrae e concurso de cosplays comandado pela Parada Nerd; painéis e oficinas com debates sobre o soba como patrimônio imaterial e atrações musicais, por meio de uma estrutura completa com palcos distribuídos pela feira, oferecendo uma variedade de atrações musicais, apresentações de dança, desfiles de fanfarras, karaokê “Brilhe no Palco”

“Teremos uma grande variação de atrações culturais, a começar pela imersão com a experiência de conhecer os patrimônios, transmissões culturais de artistas regionais, uma feira de orquídeas, todos os dias, e as 19h, um mestre no cultivo e restaurações de plantas, com uma experiência de 33 anos no mercado nacional, estará presente todos os dias, com a oficina gratuita. Muita dança, música, exposição, áreas temáticas, muita apresentação cultural, oriental e regional. A Feira Central celebra o momento festivo da atualidade, com a lembrança do que nos move, do que promove cultura, turismo e que geram emprego e renda”, destacou Appel.

A abertura oficial do festival, no dia 7 de agosto, será marcada pelo show de Dany Cristinne e o desfile da fanfarra da EM Padre Thomaz Ghirardelli. Às 20h30, o público poderá assistir ao grande show nacional de Cezar e Paulinho, com seus sucessos que atravessam gerações. Nos dias seguintes, a programação continuará com uma variedade de atrações para todos os gostos.

De família para família

Uma das barracas mais antigas da Feira é a Barraca da Niria. Tadashi Gabriel Nishihira Katsuren, natural de Campo Grande, é o atual dono do local, que já está na terceira geração da família. A família é a pioneira em sobá no local, tendo sua história iniciada em 1965.

“Os meus avós, eles abriram na feira em 1965, isso já é há 59 anos, quase 60 anos atrás já, e eles foram os primeiros a vender soba na feira central. A nossa família inteira é de imigrantes, nós somos imigrantes da ilha de Okinawa, pertencente ao Japão, e o prato de soba que a gente vende aqui em Campo Grande, ele é uma derivação de um prato de Okinawa, que era chamado de ‘Okinawa Soba’ lá na ilha. Então, quando meus avós começam a vender esse prato na feira central, eles vendem com as lembranças e as memórias da ilha de onde eles vieram. E era feito mais voltado para os imigrantes. Eles foram os primeiros consumidores, até o ponto em que começou a atiçar a curiosidade da população. Eu sei que era um prato tão restrito para os imigrantes que eles acabavam se escondendo, meus avós montavam alguns varais entre as mesas, colocavam como se fossem umas toalhas, como se fossem cortinas, para que eles pudessem comer escondido, porque naquela época não era comum a pessoa comer de palitinho, comer uma tigela com sopa, com macarrão. Não era algo convencional, então todo mundo tinha vergonha. Acabou que essas toalhinhas acabaram chamando mais atenção, o pessoal ficou curioso para saber o que estava acontecendo”, relembra Tadashi ao jornal O Estado.

Ele conta que após essa ‘curiosidade’, o soba começou a popularizar, e mais barracas aderiram à iguaria. Mas, mesmo com inovações, o sobá da Barraca da Niria ainda é feito com o sabor lá do inicío.

“E daí começou a popularizar, a feira inteira começou a abrir o barraca do soba, a gente está com 42 anos de feira, então a gente foi uma das primeiras que começou a vender soba na feira, e a gente está aí até hoje, a tradição continua. O caldo do meu soba ele ainda é muito próximo do caldo do meu avô, e isso faz dele ser um caldo bem tradicional, embora não seja o mais popular na cidade, ou mais tipo assim, dentro dos padrões da cidade, o meu sabor do meu caldo ele é o sabor do caldo original do soba”, explicou.

Ainda conforme Tadashi, mesmo após 18 anos, a população de Campo Grande segue firme e forte com a festa. “Embora sempre tenham turistas, gente de fora que vem visitar o Pantanal, o nosso maior público é o campo-grandense. O festival é uma festa regional, feita para quem frequenta aqui, é um evento que sempre dá muita visibilidade para nós, para a cultura do sobá em Mato Grosso do Sul e a cada ano fazemos que ela fique cada vez melhor”,finaliza o empresário

 

Por Carolina Rampi

 

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