Valor está cotado em 1,2 milhão de toneladas a menos do que comparado ao último ciclo em MS
Representantes do SRCG (Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho) estão unidos com produtores rurais a fim de traçar estratégias para aliviar os impactos econômicos da safra de soja de 2023/2024, que, de acordo com um levantamento feito pela Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), deve produzir 1,2 milhão de toneladas a menos em relação ao último ciclo.
O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, Staney Barbosa Melo, argumenta que a situação gera mobilização, não apenas porque as lavouras estão com a qualidade e capacidade produtiva reduzidas, mas também porque os preços de mercado não têm reagido conforme a realidade que se apresenta.
“São duas externalidades negativas ocorrendo em paralelo, queda de produção e queda de preços. Isso está colocando os produtores rurais em uma situação muito complicada, acendendo um alerta para o risco de crise financeira no setor”, pontua.
Segundo o economista, a confluência dos dois fenômenos aliados traz uma visão precipitada do mercado financeiro, que mesmo com os problemas enfrentados no Brasil, tem apostado em um volume global maior de grãos nesta safra.
“De um lado, temos o USDA e a Conab publicando projeções extremamente positivas que são avalizadas pelo mercado, que vai na contramão dos relatos que estamos recebendo de nossos produtores com o avanço da colheita. Do outro lado, nosso setor se mobiliza para tentar encontrar caminhos para superar as consequências advindas dos baixos preços. Daí a iniciativa de reunir os produtores para mostrar o que é possível ser feito diante deste cenário caótico”, esclareceu.
Em nota ao jornal O Estado, a Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul) esclareceu que iniciou a apuração da produtividade nesta semana, com previsão de finalização para o mês de maio. Conforme o órgão, a estimativa de produção é de 13,8 milhões de toneladas e o número deve ser mantido até a finalização das contagens, a considerar que ainda não se tem números exatos de toneladas ou de reais.
Sobre as perdas na produção em decorrência das condições adversas no clima, a Aprosoja/MS, em nota, ressalta que a redução de 1,2 milhão de toneladas nesta safra, considera a média histórica dos últimos cinco anos em MS e as instabilidades climáticas que se comprovaram durante o ciclo de desenvolvimento da cultura”.
Driblando a crise
Conforme levantado pela Famasul, a produtividade da soja deve cair de 62 sacas, para 54 sacas por hectare, o que o vice-presidente do SRCG, Eduardo Monreal, considerou preocupante e mobilizou o sindicato a agir em função de trazer soluções. “Temos travamento de preço, uma opção bastante eficaz e ainda pouco utilizada, temos também a operação de barter, operação de hedge, todas essas operações estão atreladas ao câmbio, e o produtor precisa conhecer. Ele precisa saber que existem várias alternativas para manter seus compromissos e arcar com os custos, mesmo em momentos difíceis”, disse, ao elucidar a importância de instruir os produtores.
A consultora técnica do Sistema Famasul, Tamíris Azoia, argumenta que é possível driblar a baixa no preço dos grãos. Mas, para isso, é necessário seguir pelo menos três recomendações, que farão com que o agricultor proteja a lavoura a partir de boas práticas agrícolas. “ [A primeira] é a prática do plantio direto na palha, que também melhora a estrutura física do solo e a umidade. A segunda alternativa seria o seguro rural, que é realmente uma segurança para ele numa situação de quebra. E por último, a comercialização futura, travar os custos de produção, e conseguir fazer essa comercialização futura para que ele tenha segurança de que, pelo menos, esses custos, ele vai conseguir arcar”, destaca a consultora.
O secretário da Sidagro, Adelaido Vila, como forma de respaldar produtores dos possíveis danos, defendeu novas formas de crédito ao agricultor e pontuou que esta é, na verdade, uma demanda coletiva de toda a classe. “Não dá mais para a gente ficar tão amarrado com o próprio FCO, na mão de um pequeno grupo ou na mão de apenas um banco que determina 75% desses valores, acabando não permitindo que esses valores cheguem nos médios e pequenos produtores. Temos que construir uma pauta nacional, para defender que esses valores possam ser fracionados em demais bancos, em demais cooperativas, e quanto mais se fracionar isso, mais possibilidade de competição e possibilidade de sermos atendidos”, finalizou o secretário.
Mobilizações oficiais
Em articulação, no dia 31 de janeiro, a diretoria da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) levou ao MAPA (Ministro da Agricultura e Pecuária) ofício que contém medidas indispensáveis para apoiar o produtor impactado pelas perdas. A partir do documento, é possível que medidas de refinanciamento, oferta de crédito e apoio na comercialização dos grãos sirvam de suporte para que o produtor possa passar pela safra sem grandes danos.
As propostas têm como objetivo atender às necessidades específicas de cada região e as cadeias produtivas afetadas. Ainda de acordo com o ofício, os efeitos do El Niño, aliado a questões mercadológicas, como redução nos preços de diversos produtos agropecuários, geraram considerável instabilidade aos produtores brasileiros e muitos enfrentam obstáculos para cumprir com os compromissos financeiros previamente contratados. Dentre as medidas previstas no documento, estão seis grandes propostas, que foram divididas em dois temas, crédito rural e comercialização.
Financiamento rural
O deputado federal de Mato Grosso do Sul, Rodolfo Nogueira (PL) apresentou Projeto de Lei sobre a prorrogação do pagamento de financiamentos relacionados à atividade rural em virtude da estiagem e da variação abrupta de preços. Outra justificava na hora de defender a proposta foi sobre o impacto que a safra vem sofrendo. “A projeção da Conab para essa safra, super safra não é verdadeira. Nós vamos ter uma queda drástica na safra de soja, de grãos no Brasil”, reforçou Nogueira.
O Projeto de Lei permite que produtores prorroguem o pagamento de financiamentos devido a estiagem e a variação de preços das commodities. “O produtor plantou a R$ 130,00 o preço da saca de soja, hoje o valor está quase R$ 90,00, quase 30% a menos do que ele plantou. Isso será um duro golpe na economia do Brasil, um duro golpe para o comércio, para a agroindústria e principalmente para o povo brasileiro, pois o alimento vai ficar mais caro na mesa do brasileiro”, finalizou.
Por Julisandy Ferreira.
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