Órgãos públicos, instituições e sindicato rural criam pontes para mercado de trabalho
Em um ano de transformação social e econômica para Mato Grosso do Sul, os setores ligados ao agronegócio do Estado continuam sendo um dos principais motores de desenvolvimento, sendo essencial na geração de empregos para a população sul-mato-grossense. Segundo projeções divulgadas em fevereiro deste ano, pelo Banco do Brasil e pela consultoria Tendências, Mato Grosso do Sul liderava o ranking de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. De acordo com as pesquisas, parte do crescimento se deve ao fortalecimento do agronegócio na região.
No ano anterior, o Estado ocupou posições significativas no ranking dos 100 municípios mais ricos do Brasil no agronegócio. A pesquisa apontou que Maracaju (12ª), Ponta Porã (21ª) e Sidrolândia (26ª) se destacaram como um dos principais polos do setor agrário. Muito além do lucro que as três cidades obtiveram, os avanços também foram essenciais para a formação de empregos. Em entrevista exclusiva, o jornal O Estado buscou conhecer a história de três pessoas que obtiveram oportunidades de emprego nesses principais municípios, e entender como a participação de órgãos públicos e a parceria com o sindicato rural possibilitam novas aberturas no mercado de trabalho.
Em busca de transformações
Para algumas pessoas, o campo vem desde o nascimento, como uma herança de família. E para outras, o campo acaba sendo um descobrimento de novas oportunidades de emprego e formação. O curso técnico de agronegócio é um dos setores que possibilita a entrada de pessoas no meio rural, e transformou a vida dos campo-grandenses, Eder Pasche, Matheus Romcy e Ana Luiza, que atuam nos princípios polos econômicos do setor agrícola.
Eder Pasche Nascimento, de 43 anos, reside em Maracaju há 4 anos, e teve seu primeiro diploma que almejava após ser incentivado pelo seu filho a concluir os estudos. Até os 30 anos de idade ele não tinha formação e, por isso, trabalhava nas usinas como motorista. “Com essa mesma idade me vi na situação de ter família, mas ainda não possuía uma graduação. Quando tive meu primeiro filho, ainda bem pequeno, ele perguntou qual era a minha profissão e eu fiquei constrangido porque não tinha uma formação e nem uma profissão definida. Eu disse a ele que era motorista e que não tinha estudado”.

Eder viu no curso técnico de agronegócio uma porta de entrada para o mercado de trabalho – Foto: Arquivo Pessoal
Após a conversa que teve com o filho, Éder viu naquele questionamento um impulso para mudar de vida e retomar os estudos, não somente para dar um futuro melhor a sua família, mas também sentir orgulho de si mesmo. Após finalizar o ensino médio, ingressou em um curso técnico de agronegócio, disponibilizado pelo Senai. “Com o certificado em mãos, poucos dias após divulgar minha formação no LinkedIn, fui chamado para uma entrevista na Seara. Fui contratado como supervisor, na época, da área de recebimento. Depois de dois anos precisei retornar para Maracaju, em plena pandemia. Foi então que surgiu a oportunidade de trabalhar no Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, onde entrei como gestor da unidade de recebimento do município”.
Atualmente, o profissional tem realizado sua segunda formação técnica para agregar na vida profissional e no cargo atual de gestão da IMPEV que ocupa. Para ele, o estudo possibilita a quebra de barreiras do mercado de trabalho e abre as portas para os profissionais independentes da idade. “O estudo nunca vai ser perdido, ninguém tira o conhecimento. Assim como eu me formei após os 35 anos de idade e ingressei próximo dos 40 na área, a idade nunca vai ser um empecilho. A evolução tecnologia já está acontecendo e precisamos estar preparados para essa mão de obra necessária no futuro”.
No caso de Matheus Romcy Kruki Ferraz, a história foi um pouco diferente. Apaixonado pelo meio rural e encantado pela cultura sertaneja que o interior proporciona, sempre teve o desejo de atuar diretamente no campo. Foi a partir de 2018 que ele se tornou estudante do curso técnico em Agropecuária, por meio de uma parceria entre o Senar/MS e a Embrapa Gado de Corte e, próximo de finalizar o curso, surgiu uma proposta para atuar no município de Ponta Porã. “Lá, então, comecei minha caminhada. Eu nunca tive familiar com propriedade rural, no máximo alguns amigos que tinham fazendas. Já havia trabalhado com outras atividades, mas até então, nada relacionado ao agro. Quando eu estava finalizando o curso, em 2020, surgiu uma oportunidade por meio de um convite de um amigo que trabalhava em uma empresa em Ponta Porã que me chamou para acompanhá-lo e aprender mais sobre o dia a dia no campo. Trabalhei com ele como assistente técnico por um tempo e aprendi bastante coisa, pois era justamente a época da safra de soja e milho”.
A experiência que Matheus teve acompanhando de perto o período de safra abriu portas para que atuasse como tipificador em frigorífico, certificando carnes para exportação em 2021, e como técnico de campo, acompanhando safras e produtividade no norte do Estado em 2022. Hoje, ele trabalha como técnico de desenvolvimento rural na Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), após passar em um processo seletivo para o município de Ponta Porã. O rapaz destaca ainda que Mato Grosso do Sul é referência na formalização de empregos e conta com um mercado receptivo à entrada de novos profissionais. “O setor do agronegócio está mais aberto à inclusão de novos profissionais. Porém, da mesma forma que está mais aberto, está mais exigente. Hoje em dia, o profissional tem que ser bem qualificado tanto na parte técnica, quanto no desenvolvimento pessoal. Como recomendação eu digo que façam cursos, se especializem, vão atrás da informação, tenham curiosidade em aprender, não tenham vergonha de perguntar. No meio do agronegócio, a gente fala bastante em networking, e isso faz toda a diferença no setor”.

Moradora de Sidrolândia conquistou seu objetivo pessoal de trabalhar no setor rural – Foto: Arquivo Pessoal
Outra pessoa que tinha interesse em atuar na área e só precisava de um impulso é Ana Luiza da Motta Ferreira, de 23 anos. Moradora de Sidrolândia, a jovem almejava desde cedo trabalhar no setor e conquistou a primeira oportunidade após conhecer o curso técnico em Agronegócio do SENAR/MS, por meio de divulgações locais e indicações de amigos. “Sempre tive interesse no agronegócio, mas não sabia por onde começar. Quando vi que o SENAR/MS oferecia um curso técnico gratuito e com qualidade reconhecida, decidi aproveitar a oportunidade”. Com aulas teóricas e práticas voltadas à preparação de futuros profissionais para a gestão rural, a jovem desenvolveu um repertório sólido de aprendizados em áreas como gestão, comercialização, legislação, tecnologia e sustentabilidade.
Após o networking e ao conhecimento técnico adquirido, ela conquistou uma vaga na Áster, atuando diretamente com vendas de peças para máquinas e implementos agrícolas. Para Ana, o diploma técnico abriu portas e deu uma base sólida para o atual mercado de trabalho, impactando positivamente no seu crescimento profissional. “Sem o curso, eu não teria o conhecimento nem a segurança para entrar no mercado. O diploma técnico abriu portas, me deu base e me aproximou do Sindicato Rural de Sidrolândia, além de permitir que eu participasse de programas do SENAR, como o Jovem Sucessor. Eu vejo na prática o quanto o agronegócio gera oportunidades. Muita gente que, como eu, fez o curso técnico e entrou no mercado graças a isso. O agronegócio é um setor que não para, e quem está preparado sempre encontra um caminho para crescer”.
Ponte entre trabalhador e empresa gera oportunidades
Parte do crescimento do setor no Estado se deve também à presença dos sindicatos e do contato entre os trabalhadores e as empresas que atuam no ramo. Ao jornal O Estado, o presidente do SRCG (Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho), José Eduardo Duenhas Monreal revelou que a atuação estratégica do sindicato em fomentar parcerias aproxima os trabalhadores e produtores das oportunidades geradas pelo avanço do setor agropecuário em Mato Grosso do Sul. “O SRCG tem atuado de forma constante para conectar o campo às oportunidades, seja por meio de capacitação de mão de obra, parcerias com instituições de ensino técnico e superior, ou na interlocução com o poder público para garantir políticas que fortaleçam o ambiente de negócios. Essa atuação conjunta tem permitido a criação de pontes reais entre quem produz e quem busca uma colocação no setor. Quando promovemos cursos e eventos técnicos, estamos preparando pessoas para ocupar essas vagas que surgem com o crescimento da produção”.
Para o secretário da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, parte fundamental do crescimento do Estado está relacionada ao aumento do desenvolvimento econômico e à geração de empregos impulsionados pela participação do Governo do Estado e do trabalho conjunto com cooperativas, sindicatos, prefeituras. “Quando olhamos sob uma perspectiva institucional, vemos um conjunto de cooperativas, sindicatos representativos e prefeituras bem administradas, todas voltadas para as demandas da área rural. Além disso, o Governo do Estado tem investido fortemente em infraestrutura nesses municípios. Oque tem gerado mais oportunidades de emprego e avanços no setor”.
Por Alberto Gonçalves e João Buchara
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