Iniciada na 2ª quinzena de setembro, altas temperaturas são um risco à produtividade da soja

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Foto: Arquivo

Após colheita recorde, especialistas citam possíveis impactos climáticos

Iniciada na segunda quinzena de setembro, a safra da soja, que foi aberta oficialmente no dia 29 de setembro, em Jaciara, Mato Grosso, já tem movimentado produtores de Mato Grosso do Sul. Com uma safra 2022/2023 que bateu a marca histórica de 15 milhões em MS, a produção de soja, embora um sucesso no setor do agronegócio, para 2023/2024, pode vir a sofrer para atingir novas marcas históricas. Isto porque, de acordo com as previsões climáticas, o calor será intenso no segundo semestre deste ano, em decorrência das mudanças trazidas pelo El Niño. Na primeira semana de plantio, produtores já demonstram que o calor intenso será um desafio.

A meteorologista do Climatempo, Nadiara Pereira, argumenta que o clima quente, principalmente aliado à falta de chuva, – como foi na segunda quinzena de setembro, pode provocar perda de produtividade por causa da escaldadura das plantas que estão nascendo, e até mesmo dificultar o nascimento da germinação das sementes que estão no solo. “Se a temperatura do ar está alta, a do solo está ainda mais alta. Por exemplo, teve temperaturas chegando a 40ºC ou mais de 40ºC, a temperatura do solo pode chegar a mais de 50ºC, então acaba como se estivesse cozinhando mesmo a planta. O calor excessivo traz muito estresse, as temperaturas mínimas acima da média e as madrugadas quentes impactam muito, porque acaba que a planta não se recupera, então dificulta a fotossíntese e esse excesso de calor traz um estresse térmico muito grande, acompanhado pela falta de chuva, o que torna tudo ainda pior”, explica a
meteorologista.

Olhar econômico

O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, Staney Barbosa Melo, pontua que a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) tem trabalhado com a possibilidade de um novo recorde na safra 2023/24, com um número próximo a 162,4 milhões de toneladas de soja produzidas. Em Mato Grosso do Sul, a estimativa, de acordo com a Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária em Mato Grosso do Sul) é de uma safra de 13,8 milhões de toneladas no Estado, com queda de 7,92% no volume produzido em relação à última safra de 2022/23.

Como coloca Melo, “estamos em um ano de preços baixos para os alimentos, algo que impacta diretamente as expectativas dos produtores, em relação aos resultados da safra. A expectativa é que o produtor consiga ao menos pagar os custos de produção. Muitos estão dando prioridade para o plantio da soja este ano, baseando-se em melhores possibilidades de recuperação de preços em relação ao milho, que está com cotações muito pressionadas em função da oferta da safrinha e da safra americana, que está entrando no mercado. Com a queda da atividade econômica em todo o mundo, em função do combate à inflação global, é pouco provável que vejamos, no ano que vem, preços muito atrativos para a soja, a exemplo do que vimos nos anos pós-pandemia, em que as cotações da saca de soja batiam os R$ 200/sc”, explica o economista.

Produção em MS

O produtor de soja em Selvíria/MS, Fernando Baroles, explica que possui um plantio de pelo menos 2035 hectares e que o ciclo da segunda soja geralmente é de 120 dias. Embora haja plantios com ciclos mais curtos, ele opta pelo sistema de 120 dias porque para a região onde está localizado é o que mais se enquadra, devido às dificuldades climáticas. “A temperatura alta influencia muito na questão de germinação. Como aqui nós estamos iniciando o plantio somente sob os pivôs centrais, são 85% irrigados por pivôs centrais, o que gera uma grande demanda de energia para poder irrigar. Uma vez por semana, a gente dá uma volta com os técnicos que fazem o monitoramento de pragas e, constatando que tem pragas sugadoras, como o percevejo, que é uma das principais, a gente entra como inseticida. No ciclo da soja são feitos três fungicidas, para evitar principalmente a ferrugem asiática e outros fungos, que prejudicam a soja”, explica o produtor.

A também produtora de soja, com terras localizadas nos municípios de Ponta Porã e Coronel Sapucaia, Malena May, explica que já possui 50 hectares plantados, mas a expectativa é preencher 850 hectares ao total. Segundo a produtora, a maior dificuldade para o plantio é a umidade do solo. “O fator clima é o principal componente para o sucesso no plantio, por conta da emergência das plantas. A maior dificuldade, durante o plantio, é a falta de umidade no solo. Sem ela, não há germinação das plantas. Caso a semente tenha disponibilidade de água, ela germinará e estará sujeita a altas temperaturas”, argumenta a produtora.

Retomada histórica: Soja e a crescente nos últimos 5 anos 

A partir de dados obtidos pelo Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a soja obteve uma crescente significativa nos últimos anos. Em 2018, finalizou o ano com uma produção totalizada em 115 milhões de toneladas. Em 2019, os números cresceram e atingiram uma marca de 120,4 milhões de toneladas. Já em 2020, a produção chegou a 135,9 milhões de toneladas, o que significou um aumento de 8,9% em relação à safra 2019/20. Em 2021, o grão finalizou o ano batendo a marca de 153,6 milhões de toneladas, sendo o produto com maior volume colhido no país, com um percentual em 78,2% e uma produtividade em lavouras confirmada em 3.527 quilos por hectare.

Já em 2022, a soja bateu um novo recorde, com 154,6 milhões de toneladas e crescimento de 23,2%.

Exportação

Para o Brasil, a soja é o principal produto de exportação. Somente nos últimos 40 anos, a produção de soja se multiplicou mais de quatro vezes, saindo de 26 milhões de toneladas para as 120 milhões de toneladas, transformando o país no maior exportador mundial do grão, com uma média de 14,6% e um montante de pelo menos US$ 27,958 mi. Sua cadeia produtiva movimenta US$ 100 bilhões ao ano no Brasil, sendo 11% na aquisição de insumos, 26% na produção e 63% na logística, comércio e exportações.

Por – Julisandy Ferreira

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