As condições climáticas da região tropical, com chuvas abundantes nesse começo de ano, têm criado um ambiente propício ao aparecimento da brusone nas lavouras de trigo. O momento requer especial atenção no monitoramento das lavouras de trigo de sequeiro nos estados do Brasil Central, especialmente São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Bahia.
Uma das mais temidas ameaças à triticultura tropical brasileira, a brusone do trigo, causada pelo fungo Pyricularia oryzae, pode estar de volta em 2023. O alerta é dos pesquisadores da Embrapa Trigo. Desde 2019 que uma epidemia de brusone não acontece, efetivamente, no Brasil.
De acordo com o pesquisador José Maurício Fernandes, as condições climáticas da região tropical nos últimos meses indicam a necessidade de atenção especial para o diagnóstico precoce do aparecimento da brusone nas lavouras de trigo, já que essa doença se caracteriza pela agressividade quando o ambiente favorece o seu desenvolvimento. “A brusone se desenvolve melhor sob umidade elevada e numa faixa de temperatura que varia de 24ºC a 27ºC. Se as previsões de precipitação na região tropical do Brasil para 2023 se confirmarem, a umidade alta já está garantida para o pleno desenvolvimento da doença no campo. Quanto à temperatura, a faixa que caracteriza como mais favorável para a brusone do trigo é muito comum na região. Essa combinação favorável de umidade e temperatura foi decisiva nas epidemias de brusone registradas em 2012, 2015, 2017 e 2019”, explica o pesquisador.
Controle da brusone
Para minimizar os danos no trigo, o produtor deve considerar o manejo integrado de doenças como um dos aspectos mais importantes na condução de sua lavoura, o que inclui a observação de fatores como época e densidade de semeadura, adubação equilibrada, tratamento de sementes com fungicidas e uso de cultivares com maior nível de resistência à brusone.
O controle químico da brusone é uma medida que compõe o manejo integrado de doenças da cultura do trigo e, portanto, pode ser adotada pelo produtor com o objetivo de minimizar os danos causados por esta doença. Entretanto, alguns cuidados devem ser realizados para que o sucesso dessa medida seja o maior possível. Assim, é importante verificar se o foco da ação é a brusone da folha ou a brusone da espiga.
Segundo o pesquisador João Leodato Nunes Maciel, na comparação entre os dois tipos, a brusone da folha é, relativamente, mais fácil de ser controlada por meio da aplicação de fungicidas. Neste sentido, as chamadas misturas de fungicidas “Triazol e Estrobilurina” têm demonstrado um bom desempenho no controle da doença nesta fase vegetativa da planta. Outro avanço no trigo são as cultivares lançadas recentemente no mercado apresentando um bom nível de resistência à brusone na folha.
“Estas informações são importantes para que o produtor evite um procedimento que somente aumenta os custos de produção de sua lavoura, que é a aplicação de fungicida sem necessidade, ou seja, fazer uso do chamado ‘controle químico preventivo’. Significa que se o produtor, ao realizar o monitoramento da lavoura de trigo durante o estádio vegetativo, não verificar a presença de sintomas de brusone e não houver previsão de condições ambientais favoráveis à doença, não há necessidade de aplicação de fungicidas”, conclui Maciel.
Por outro lado, o controle preventivo da brusone na espiga é determinado, principalmente, com base em previsões ou modelos que indiquem a ocorrência de condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da doença. “Controlar a brusone após o fungo entrar na espiga é mais difícil, tanto pela formação da espiga que limita o acesso do fungicida, quanto pelo risco da incidência de chuva em dias consecutivos que impedem a entrada na lavoura”, orienta o pesquisador João Leodato Nunes Maciel, lembrando que os resultados de pesquisa têm demonstrado que fungicidas com o ingrediente ativo ‘mancozebe’ apresentam um nível de eficiência um pouco mais destacado no controle da brusone da espiga.
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