Santa Casa, HRMS e El Kadri chegaram ao limite, cenário do qual a rede particular está se aproximando
Em apenas uma semana, os principais hospitais públicos de Campo Grande apresentaram 100% de taxa de ocupação em seus leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Na segunda-feira (27), a Santa Casa de Campo Grande alegou que atingiu sua capacidade máxima de instalação de leitos de terapia intensiva, com os recursos humanos também no limite.
Na quarta-feira (29), o HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul), referência no tratamento da COVID-19, anunciou que todos os leitos destinados a pacientes com o quadro grave da doença estavam ocupados. Até o fim da tarde de ontem (30), o Regional tinha 89 leitos ocupados, 97% da capacidade. Havia apenas duas vagas.
A situação da Santa Casa ontem era de 98% de taxa de ocupação de leitos de UTI em pacientes não COVID. Além disso, para pacientes com o novo coronavírus, a taxa de ocupação em leitos de terapia intensiva é de 100%. Dos 16 leitos de enfermaria para tratamento da COVID-19, cinco estão ocupados com pacientes suspeitos e cinco confirmados.
De acordo com a instituição, não havia pacientes em ventilação manual (ambu). A instituição possui na área vermelha do pronto-socorro dez pacientes, e destes, três estão em ventilação mecânica e aguardam leitos de UTI. A capacidade técnica para ventilação mecânica na área vermelha é para seis pacientes.
A diretora-presidente do HRMS, Rosana Leite de Melo, afirmou que, após transferências para o Humap/UFMS (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian) e hospitais privados, o HRMS conseguiu diminuir as taxas de ocupação em UTI.
“A partir de 90% dos leitos de UTI ocupados, a Sesau [Secretaria Municipal de Saúde Pública] é acionada e são realizadas as transferências. Na segunda-feira, o Humap fez a ativação de dez leitos, então em tese teríamos dez vagas no HU, ocorreram alguns problemas internos de transferências e esses pacientes que eram para ser transferidos antes só foram encaminhados ontem (29) à noite. [na manhã de ontem] A nossa taxa de ocupação está com 85 internados”, ressaltou.
Melo frisou que o problema agora é com a falta de recursos humanos. “A secretaria convocou mais profissionais e os médicos estão chegando”, disse. A diretora-presidente, ao ser questionada sobre a possibilidade de o hospital de campanha receber pacientes com COVID19, esclareceu que para essa situação acontecer, todos os recursos do prédio principal precisarão se esgotar.
“Se a gente chegar a esse ponto, nós estaremos em uma situação muito complicada. Nós temos os leitos de enfermaria, os pontos de cuidado que podemos acionar que incluem o centro cirúrgico, a sala de endoscopia, e a área vermelha. E temos também a retaguarda no pronto socorro que nós conseguiríamos ampliar”, frisou.
Conforme Melo, o HRMS transferiu ontem (30) mais dez pacientes clínicos que não estão na UTI para o Hospital El Kadri, em contrato firmado entre o hospital privado e a Sesau. Em relação às taxas de ocupação nos hospitais por pacientes não COVID, a médica pontuou que é favorável a maiores restrições na mobilidade da população.
“Por isso que somos a favor de medidas mais restritivas, porque nós não temos uma rede que consegue atender a todos os pacientes e o maior número de pacientes que chegam na Santa Casa são por trauma, acidentes automobilísticos, pessoas que se machucam em festas por conta da bebida alcoólica”, finalizou.
O pesquisador e infectologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Júlio Croda afirmou, em transmissão ao vivo pelas redes sociais, que a população precisa colaborar com as medidas de isolamento social para que o Estado não replique o colapso na saúde visto em outras regiões do país.
“A chance de um paciente com COVID-19 grave que precisa de um leito de UTI morrer é em torno de 30% a 50%, um paciente que fica em uma UPA [Unidade de Pronto Atendimento] ele tem uma chance de morrer de 90%. Temos que lutar para que isso não aconteça em MS e que cenas como em Manaus [AM] não se repitam, onde as pessoas morreram em casa sem o atendimento, e o principal ponto para evitar isso é o distanciamento social que está muito baixo”, ressaltou.
Croda frisou que a taxa de contágio em Campo Grande é a 2º maior entre todas as capitais do país. “Só estamos perdendo neste momento para Porto Alegre. Neste momento que não temos o isolamento social é importante que o Poder Público aplique medidas mais duras. Aqui na Capital, para mim, é a pior situação do Estado, a nossa capacidade de abrir novos leitos está chegando no limite, a nossa taxa de ocupação de leitos de UTI está sempre perto de 90%, o ideal é que fique abaixo de 80%. O mini-lockdown proposto para a cidade não teve impacto nenhum e não foi efetiva para reduzir o número de casos”, reiterou.
O Hospital Universitário foi questionado sobre o número de leitos de UTI ocupados, mas não respondeu à reportagem. Acesse a reportagem completa e mais notícias sobre o novo coronavírus na Edição Digital do jornal O Estado MS.
(Texto: Mariana Moreira e Dayane Medina/Publicado por João Fernandes)