Idade e autorização do marido são alguns dos critérios impostos para procedimento
Não é exagero quando uma mulher fala da luta pelos seus direitos, já que a cultura enraizou questões ligadas a ela ou ao corpo dela. Um desses exemplos está ligado diretamente à decisão de ter mais filhos ou não, como ocorre com aquelas que buscam a laqueadura, e a dificuldade não envolve apenas a lei. Um outro detalhe que chama bastante atenção é que, além da demora para se conseguir esse benefício, é necessária a aprovação do parceiro.
Sim, passados 20 anos da atualização da Lei de Planejamento Familiar no Brasil, a mulher ainda depende da assinatura do cônjuge para poder ter o direito de não ter mais filhos, um fator que gera muita discussão. Antes da pandemia, a dificuldade já era grande, em plena COVID-19, é muito maior, já que não é recomendada a realização neste período.
Problemas na hora do parto, demora para se conseguir uma cirurgia e necessidade da permissão do parceiro, essas são as lamentações de uma designer que decidiu contar ao jornal O Estado a sua luta de três anos para conseguir operar. Aos 27 anos, a autônoma Elialy Alencar é mãe de cinco filhos de 10 anos, 8 anos, 5 anos, 2 anos e um de 5 meses. Ela esperava o sexto, mas acabou perdendo há poucos dias.
Uma mulher que enfrentou dificuldades desde a primeira gestação, Elialy decidiu que não queria mais filhos, mas devido à Lei do Planejamento Familiar, ela só poderia operar após os 25 anos tendo dois filhos vivos. Decidida em não mais passar por essa experiência, a designer decidiu então optar pelo método contraceptivo DIU. “Coloquei o DIU duas vezes e nas duas eu tive que tirar em menos de quatro meses porque meu organismo rejeitou”, contou.
“Outras tentativas para evitar uma gravidez foram feitas, mas também sem sucesso. Tentei usar anticoncepcional, mas me causou uma disfunção hormonal, e, nesse meio-tempo, tive mais duas gestações”, relatou. Para quem decididamente não queria mais filhos, a jovem procurou ajuda médica para entender sobre a laqueadura. “A primeira vez que dei entrada no planejamento familiar, foi negado porque eu só tinha 24 anos, mesmo com três filhos, todo histórico de gestações de alto risco, eu não pude fazer”, lembrou.
Além desses empecilhos, a jovem descobriu que, mesmo se tivesse idade, precisava da autorização do parceiro, o que a revoltou. “Eu acho isso injusto, a gente vê as mulheres lutando pelos seus direitos, mas no fim acaba sempre dependente do homem, se ele falar ‘não’, a mulher não pode operar , quem fica grávida e sente dor do parto é a mulher, se depois o casal separa, a criança é direito da mãe, depois o homem não quer pegar a criança e fica tudo nas costas da mãe que não consegue trabalho porque tem que ficar com a criança, então isso é muito errado”, desabafou, acrescentando que, se o homem não quer ter filho, ele faz a vasectomia sem precisar de autorização da mulher.
Mas sem desistir, aos 25 anos, ela foi atrás da realização do sonho. Porém, mesmo com a entrada no planejamento familiar, dois anos se passaram sem uma resposta por parte da rede de saúde, nem mesmo agendamento da primeira consulta. “Acabei engravidando do meu quarto filho, que veio a nascer com seis meses e, mesmo assim, foi negada a laqueadura”, lamentou.
Com os traumas, Elialy teve depressão pós-parto e tentou suicídio por duas vezes. Após a segunda tentativa, durante o atendimento em unidade de saúde, a médica que atendeu a jovem pediu que ela desse entrada no planejamento familiar. “Fiz isso em julho, só me deram o encaminhamento para o CEM [Centro Especializado Municipal] em novembro de 2019 e, desde então, só pedem para eu aguardar”, detalhou.
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(Texto: Dayane Medina/Publicado por João Fernandes)