Desde o dia 12 de junho está disponível a produção cinematográfica original da Netflix “Destacamento Blood”, filme dirigido pelo aclamado diretor Spike Lee, que acompanha um grupo de quatro veteranos de guerra afro-americanos que retornam ao Vietnã buscando os restos mortais do líder de seu antigo esquadrão e de um tesouro enterrado, tentando encontrar os cacos de vidas perdidas pelo caminho.
Peculiar de Lee está o compromisso de longa data em desafiar o cinema: o enredo fictício mistura-se com cenas violentas da vida real e isso já gerou polêmica nas mídias sociais. “Destacamento Blood” inclui uma classificação indicativa de proibido para menores por causa de “violência forte, imagens terríveis e violência generalizada”, mas não avisa os espectadores sobre um suicídio e um assassinato na vida real que aparecem na sequência de abertura do filme. Muita gente não gostou nem um pouco das cenas reais inseridas no longa e reclamou no Twitter do excesso de violência. Em contrapartida, imagens de Martin Luther King Jr., Malcolm X e da ativista Angela Davis mostram momentos importantes da história da luta contra a segregação racial nos Estados Unidos.
Chama a atenção na trilha sonora a bela canção de Marvin Gaye, lançada em 1971, “Inner City Blues (Make Me Wanna Holler)”, que dá uma carga emocional à trama. Imagens de arquivo de Muhammad Ali discutindo sua oposição à Guerra do Vietnã, com a própria música referenciando a experiência de ser negro na América, são realmente emocionantes.
Caso você, leitor, não goste da mistura de ficção com política, talvez “Destacamento Blood” não seja o melhor filme para assistir. Spike Lee é o tipo de diretor muito político, a ponto de usar referências e até mesmo recortes midiáticos explicitamente em suas obras. E nesse caso não é diferente. O longa está longe de ser o melhor filme do polêmico cineasta, mas em tempos de protestos contra o racismo pelo mundo, deflagrados pela morte do norte-americano negro decorrente de violência policial, a trama realmente é providencial.
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