Feroz Tour passará em novembro pela Capital, Corumbá e Dourados com apresentações gratuitas
Referência do rock sul-mato-grossense, o Dimitri Pellz está de volta aos palcos para celebrar duas décadas de existência com a turnê FEROZ. O grupo, surgido entre guitarras distorcidas, improvisos e noites de criação coletiva, marca seu retorno com três apresentações gratuitas em Mato Grosso do Sul: Corumbá (22 de novembro), Campo Grande (28 de novembro) e Dourados (29 de novembro).
Mais do que uma simples comemoração, a turnê propõe um reencontro entre gerações que acompanharam a trajetória da banda. Cada show será aberto ao público e realizado em espaços distintos: em Corumbá, o evento acontece no dia 22, às 20h, na AABB (Rua Edu Rocha, Bairro Aeroporto); em Campo Grande, o show será no dia 28, na Rua 14, entre as avenidas Antônio Maria Coelho e Maracaju, em frente ao Pizza Pub; e em Dourados, a celebração ocorre no dia 29, no Espaço Casulo (Rua Reinaldo Bianchi, 398 – Parque Alvorada).
Quem abre as noites é o trio Os Alquimistas, representantes da cena alternativa de Campo Grande, conhecidos pelo som cru e pela energia do rock de garagem. A Tour FEROZ também conta com participações especiais: o músico Bosco Batera (Bosco Martins), nome histórico do rock regional, e a artista Fran Cavalheri, que leva a linguagem da dança contemporânea ao palco, somando movimento e performance à experiência sonora.
Volta aos palcos
A volta da banda foi impulsionada por uma conversa entre os integrantes em 2024, durante um show de fim de ano com outras bandas contemporâneas, decidiram que seria interessante ter o grupo de volta aos palcos. Jean Albernaz, que mora no Rio de Janeiro há 12 anos, relembra que a ideia surgiu como uma oportunidade única de rever os amigos e se reconectar com o público. “Na verdade, foi a vontade de estar com essas pessoas de novo, fazendo algo que sempre foi espontâneo”, diz o baterista para a reportagem.
Heitor Teixeira complementa que o retorno foi quase um acidente, no estilo caótico característico do Dimitri Pellz. A ideia de realizar um show surgiu de uma conversa rápida e, em apenas dois meses, a banda decidiu voltar aos palcos após 11 anos de pausa. Já Maíra Espíndola relembra o retorno como algo surpreendente: “Eu não sei quem teve a ideia, mas eu gosto de como essa pessoa pensa. Um Dimitri Pellz do nada, no meio do furacão da vida… eu concordo com isso!”.
O reencontro no estúdio não foi sem desafios. Jean, que se considera o mais distante fisicamente da banda, relata que o sentimento de “síndrome do impostor” invadiu o momento antes dos primeiros ensaios. “Será que a química vai ser a mesma? Será que conseguimos capturar o espírito de antes?”, questiona. No entanto, a sensação foi de que tudo fluiu naturalmente assim que a banda se reuniu. “Não somos mais os mesmos, mas o que tornava tudo interessante ainda está ali”, afirma Jean.

Os shows serão abertos pelo trio Os Alquimistas, representantes da cena alternativa da Capital – Foto: Assessoria/Divulgação
Tour Feroz
Quando surgiu, em 2005, o Dimitri Pellz não parecia exatamente uma banda, mas uma faísca coletiva. Era um encontro entre amigos movidos por guitarras, livros, filmes e pela ideia de que a desordem também pode ser arte. O que começou como uma experiência de garagem logo virou parte da história do rock alternativo sul-mato-grossense, uma sucessão de festivais, hiatos e retornos que consolidaram o mito de um som que se recusa a desaparecer.
A vocalista Maíra Espíndola, voz e presença central do grupo, define esse retorno como um mergulho em novas camadas de sensibilidade. “O palco é um campo de gravidade, onde tudo pode se reorganizar, ou se desorganizar, diante do público”, explica. Ela conta que a banda revisita músicas esquecidas e convida artistas de diferentes áreas para somar à apresentação. “Vai ter bagunça, emoção e invenção. Sempre foi assim. A gente toca para provocar o imprevisível.”
Entre lembranças e ruídos, o baterista Jean Albernaz, reflete sobre o reencontro com o passado. “O som do Dimitri sempre teve uma energia única, meio torta, mas viva. Nunca fomos técnicos, cada um toca do seu jeito. Quando volto a tocar com eles, tento juntar o Jean de hoje com o de vinte anos atrás. É estranho e bonito ao mesmo tempo. Essa vulnerabilidade faz parte do que somos.” Para ele, revisitar as músicas antigas é revisitar a si mesmo: “Cada batida traz uma memória. Às vezes parece que o palco vai desabar, mas é justamente essa intensidade que mantém tudo pulsando”.
O tecladista André Samambaia vê nesse retorno um ciclo em movimento. “Não sei se estamos encerrando uma fase ou começando outra. Só sei que, quando nos encontramos, sempre surge vontade de compor algo novo.” Ele também comenta a mudança na cena independente: “O tempo é outro. A cena perdeu parte da coletividade que tínhamos. Hoje é tudo mais fragmentado, mais solitário. Mas o Dimitri ainda acredita no improviso, no erro fértil, no caos produtivo. No fim das contas, é isso que sempre nos manteve vivos”.
Sobre a banda
Formada por Maíra Espíndola nos vocais, André Samambaia no teclado, Heitor Teixeira no baixo, Jean Albernaz na bateria e Michelle Meza na guitarra, a banda nasceu em Campo Grande, em 2005, e se tornou um marco na cena alternativa da cidade. Em uma época dominada por botas de sertanejo e chapéus de cowboy, Dimitri Pellz trouxe coturnos e muito lápis de olho, transformando o cenário musical local.
A origem do nome da banda Dimitri Pellz remonta a uma lenda, que diz que um revolucionário russo, acreditando tanto no comunismo quanto no rock and roll, foi executado na década de 1950 por possuir compactos de música americana durante a Guerra Fria. Outros, no entanto, afirmam que Dimitri, na verdade, se tornou uma travesti para escapar da Rússia com vida e hoje vive na Tailândia.
Mas para a banda, isso pouco importa. Para eles, a propriedade é um roubo e não têm pudor em saquear tudo o que encontram: a mítica do nome, os riffs sujos dos pioneiros do grunge, a banda Mudhoney, a polca fronteiriça, o charme da new wave e a presença de palco avassaladora de um Iggy Pop. Sedutores e subversivos, eles seguem quebrando todas as convenções. (Com assessoria).
Amanda Ferreira
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